Foto: Divulgação/Acervo da pesquisa
Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), o artigo intitulado ‘The Importance of Traditional Communities in Biodiversity Conservation’ buscou mapear a literatura científica que explora a importância das comunidades tradicionais na conservação da biodiversidade. Destacando tendências, lacunas, contribuições das comunidades indígenas e não indígenas e áreas de maior relevância científica global, o estudo analisou 519 artigos científicos que foram publicados entre 1994 e 2024.
O artigo foi publicado na revista científica Biodiversity and Conservation e conta com autoria dos pesquisadores Everton Cruz da Silva (UFPA), Mayerly Alexandra Guerrero-Moreno (UFOPA), Fernando Abreu Oliveira (UFOPA), Leandro Juen (UFPA), Fernando Geraldo de Carvalho (ITV) e José Max Barbosa Oliveira-Junior (UFOPA). A pesquisa analisou os artigos científicos das bases de dados Scopus e Web of Science. O estudo destacou como o conhecimento ecológico tradicional e as práticas sociais têm sido fundamentais para a preservação de ecossistemas e recursos naturais.
O pesquisador da UFPA, Leandro Juen, aponta que as comunidades tradicionais “têm um conhecimento ancestral sobre os ecossistemas locais, acumulado ao longo de gerações, que muitas vezes supera em precisão as abordagens convencionais de manejo ambiental. Essas comunidades possuem práticas de uso sustentável dos recursos naturais, que não só garantem a preservação da biodiversidade como também asseguram sua própria sobrevivência e bem-estar”.
Entre as principais contribuições identificadas no artigo estão o manejo sustentável, práticas culturais, educação ambiental, restauração de habitats e monitoramento comunitário. Outro destaque do estudo foi na relevância das populações locais na formulação de políticas públicas que valorizem seu conhecimento como uma ferramenta essencial para enfrentar os atuais desafios ambientais globais. Além disso, a pesquisa também evidenciou uma disparidade significativa na produção científica sobre o tema, com o Brasil e a Índia levando destaque nas produções, liderando as áreas mais estudadas.
A pesquisa também mostrou que, até os dias atuais, ainda se mantêm as desigualdades históricas de exploração de dados, recursos e infraestrutura de pesquisa, com um fenômeno conhecido como “ciência de paraquedas”, que reforça o neocolonialismo científico ao tratar as comunidades do Sul Global como objetos de estudo, sem reconhecer seu protagonismo e valorizar seus conhecimentos ecológicos tradicionais.
Para Leandro, o artigo é importante pois “destaca como essas práticas podem ser integradas às políticas de conservação, oferecendo soluções mais inclusivas e eficazes para os desafios ambientais que enfrentamos. Ele reforça a ideia de que a conservação não pode ser dissociada das pessoas que habitam essas áreas. Incorporar os conhecimentos e práticas das comunidades tradicionais pode promover um equilíbrio entre preservação ambiental e justiça social. Além disso, o estudo traz um alerta de que reconhecer e valorizar as comunidades tradicionais é urgente, especialmente em um contexto de degradação ambiental acelerada. Isso nos dá uma oportunidade única de aliar ciência, tradição e políticas públicas para construir um futuro mais sustentável”.
O discente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFPA (PPGECO-UFPA), Everton Cruz da Silva, que participou da pesquisa e que é originário da Comunidade tradicional São Benedito do Ituqui, em Santarém, Pará, diz que “o desconhecimento sobre a importância dessas comunidades ainda persiste, mas é inegável que seu conhecimento é essencial para superar os desafios ambientais e promover justiça social e equidade”.
*Com informações da UFPA