Presidente Macron, obrigado!

Mesmo que por vias transversas, o presidente francês Emmanuel Macron atraiu atenções do Brasil e do mundo sobre a Amazônia. O palco teatral foi a reunião do G7, nos últimos dias de agosto, em Biarritz, França. Adotando atitude arrogante e desrespeitosa, fora do padrão protocolar adotado entre chefes de Estado, Macron já vinha  fustigando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro desde sua eleição. Foi grosseiro e agressivo em diversas oportunidades, chegando a chamá-lo de fascista e mentiroso. Dado que Bolsonaro, eleito livremente por cerca de 54% dos votos na eleição do ano passado, a rejeição de Macron ao presidente brasileiro configura, em última instância,  explícito e repudiável ato de desrespeito ao próprio povo brasileiro. O francês, por razões semelhantes, é visceralmente contrário ao pensamento e  métodos políticos do presidente norte-americano Donald Trump. Jamais, contudo, ousou chamá-lo de mentiroso. 

Macron recebeu o merecido troco. O mais humilhante, além das manifestações sobre os atributos físicos da primeira dama francesa, foi a recusa de Bolsonaro em receber o apoio de míseros 20 milhões de euros do G7 ao Brasil, condicionada, abusivamente, sua liberação a que “o Brasil  concorde em trabalhar com ONGs e populações locais”, segundo o próprio Macron. Enquanto Noruega e Alemanha manifestaram decisão de congelar o Fundo Amazônia, outros países, como Inglaterra, Estados Unidos, Japão e China, contudo, garantiram apoio ao Brasil no combate às queimadas e em projetos de desenvolvimento na Amazônia. 

Diante do risco de congelamento de repasses e liberações no Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, governadores dos estados da Amazônia Legal buscam alternativa que passa pela construção de relacionamentos alternativos. A proposta vem sendo discutida com embaixadores da Alemanha, Noruega e Reino Unido. Mesmo conferindo ênfase aos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), os governadores considerem como  possibilidades concretas a expansão do leque de nações que venham apoiar o esforço brasileiro de promover o desenvolvimento sustentável da região, no qual se concilie exploração dos recursos da biodiversidade, da mineração, do ecoturismo, da produção de alimentos com preservação ambiental.

Paralelamente, os governadores amazônicos discutem com o Supremo Tribunal Federal (STF) a destinação de parte dos recursos de um fundo da Petrobras para o combate a queimadas e ao desmatamento ilegal na região. O Fundo, de R$ 2,5 bilhões, foi criado para receber valores recuperados pela Operação Lava Jato. A proposta inicial centrou-se no emprego de R$ 400 milhões, que deverão chegar a R$ 1 bilhão, a serem empregados diretamente pelos nove estados amazônicos no combate às práticas ilegais de desmatamento e à implantação de planos de prevenção para o futuro. O montante de 400 milhões de reais, diante da magnitude da obra é pequeno. Apoiado pela comunidade internacional, estima-se que um bilhão de euros (não de reais) seja um valor viável, desde que administrado longe de manipulações políticas.

Graças aos conflitos deflagrados desde Biarritz, irônica e inesperadamente tornaram-se altamente favorável à Amazônia. De fato, pela vez primeira se discute ampla e abertamente a Amazônia em cafés, táxis, bares, na imprensa, na TV, nos colégios, na universidade e em fóruns internacionais. Nunca antes na história mundial e brasileira, na verdade, houve uma corrida desse porte, mesmo que, em alguns momentos conflituosos, reunindo governos e entidades internacionais em torno de atos de boa vontade tendo por centro canalizar  investimentos para o combate às  queimadas recorrentes no verão tropical, que, anualmente ocorrem de  julho a outubro. Cabe ao governo e à sociedade brasileira, não a ONGS, saber otimizar e administrar  criteriosamente o momento e os recursos que para cá deverão afluir como resultado do esforço comum de preservação da Amazônia.

M. Macron, merci beaucoup!

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