Em Castanhal, duas agricultoras dão exemplos de persistência, organização e empreendedorismo
As ações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em diversos municípios do Estado têm sido fundamentais para que famílias trabalhem de forma organizada e tenham renda. Na comunidade de Itaqui, em Castanhal, na região nordeste, duas agricultoras rurais, atendidas pelo escritório local da Emater no município, dão exemplos de persistência, organização e empreendedorismo.
Daise Alves, 43 anos, e Cláudia Fatiane, 34, sonharam com a agricultura familiar como modo de vida e superaram muitos desafios. Em comum, as duas produtoras têm na localidade onde moram a busca constante por conhecimento que as capacita a estar à frente de seus negócios; e a coragem, que fez delas além de agricultoras, empreendedoras.
“Eu não tinha conhecimento, fazia tudo errado e as minhas criações adoeciam, o plantio não vingava. Então precisei entender que tinha que adquirir conhecimento, procurar a orientação técnica mesmo, e foi quando procurei a Emater em Castanhal e, com a ajuda dos técnicos, tudo começou a mudar, pois produzir da forma certa traz resultados”, conta Dayse sobre o início de tudo, em 2011.
Daise Alves é filha de uma família de mulheres agricultoras, onde mãe e avó já tiravam o sustento da terra. Mas quando começou a tocar seu próprio negócio, viveu momentos difíceis e até pensou em desistir. Uma década depois, sua propriedade é uma das mais estruturadas da comunidade Itaqui, produzindo em um Sistema Agroflorestal (SAF), onde a agricultora mantém pés de castanheiras centenárias e açaizais nativos, além de outras espécies frutíferas de forma consorciada.
Daise também têm criações de galinha e suínos e transforma frutas em polpas e polpas em doces e licores, além de fazer chocolate da semente do cacau que colhe. Tornou-se uma empreendedora, comercializando também seus produtos artesanais na Feira do Agricultor e em exposições por meio da marca “Sabor Agrofamiliar do Itaqui”, da qual tem muito orgulho. “Hoje em dia, o conhecimento é mais importante do que a força, porque a força é necessária para você trabalhar sim, mas o conhecimento é necessário pra você crescer”, resume.
Sororidade
E foi o conhecimento do campo que Daise não teve medo de compartilhar com Cláudia Fatiane, outra jovem mulher, que resolveu trocar de profissão e mudar de vida quando deixou a sala de aula, onde ensinava matemática, para se dedicar a agricultura. Daise recebeu Cláudia, quando ela se tornou vizinha de sua propriedade no Itaqui e não teve nenhum receio em repassar a ela o que sabia sobre a produção de abacaxi. Também a incentivou a permanecer no campo e as duas se consideram amigas e parceiras.
“A Daise sempre me incentivou a trabalhar com agricultura e me apresentou a Emater, porque sou uma pessoa organizada e já queria começar com orientação técnica. Ela não me viu como uma concorrente e, no nosso primeiro contato, me ofereceu 200 mudas de abacaxi, me falou sobre a cultura e me abriu os olhos. Com a orientação técnica da Emater, aprendi a escalonar minha produção e consegui fazer um salário para mim e assim minha vida mudou”, conta Cláudia.
Ela aliou o conhecimento que já tinha com a formação em matemática para gerir seu negócio.
“Como eu sou da matemática, então tudo para mim é calculado. Por isso, eu busquei orientação técnica da Emater porque eu queria investir, mas não queria perder dinheiro. A gente sabe que na agricultura há riscos e que às vezes há perdas, mas eu calculo tudo para evitar perdas”, explica.
Paralelamente à produção agrícola, a agricultora também atua como microempreendedora individual, comercializando doces e biscoitos. Os produtos são uma alternativa de renda, quando os lucros com a agricultura ficam aquém do esperado; uma forma de não perder nada da colheita, pois Cláudia aproveita frutos batidos no transporte, que perdem o valor para a venda, para fazer polpas e doces.
“Os biscoitos sempre me deram um suporte. Tudo o que eu tenho hoje, eu consegui por meio dos biscoitos. E agora, com o desenvolvimento da agricultura, há momentos em que os doces não rendem bem e que é a agricultura que garante. Então, eu sempre procurei ter uma alternativa de renda”, conta.
Para o engenheiro agrônomo Ediberto Marcuartu, que acompanha o trabalho das duas agricultoras desde o início, as histórias se encontram na amizade e solidariedade que uma tem com a outra e também na capacidade de empreender e se organizar, conquistadas com esforço e dedicação.
“Eu já tenho mais de 30 anos de extensão e a gente percebe como era o envolvimento da mulher no meio rural há 30 anos e como é hoje. A mulher vem ocupando um espaço cada vez maior, se empoderando, querendo participar e ter responsabilidade no resultado final. Hoje, temos mulheres líderes de associações e de cooperativas, que decidem o que vai ser feito e estão trabalhando diretamente na produção da propriedade.”, relata o engenheiro.
As agricultoras são acompanhadas pelo escritório local da Emater em Castanhal, que atende anualmente a cerca de 1200 famílias de produtores rurais.