Terras Indígenas do Amazonas preservadas há mais de 10 anos aparecem no mapa do desmatamento pela primeira vez

Dados foram analisados pelo Observatório da BR-319, com informações do INPE, e divulgados no mais recente informativo, lançado no final de agosto.

Terras indígenas sem histórico de desmatamento apresentaram, pela primeira vez em 10 anos, áreas de floresta derrubada, é o que aponta o boletim de monitoramento do Observatório da BR-319, divulgado no final de agosto. Essas TI são monitoradas desde 2010, e até então estavam intactas. Esse desmatamento inédito preocupa pesquisadores e lideranças indígenas.

Desmatamento ao longo da BR-319. (Foto:Divulgação/ClimaInfo)

Quatro TIs tiveram essa característica: TI Alto Sepatini (Lábrea) TI Paumari do Cuniuá (Tapauá), TI Paumari do Lago Manissuã (Tapauá) e TI Setemã (Borba, Novo Aripuanã). Somado, o desmatamento nas quatro terras indígenas foi de pouco mais de 9 hectares, mas, apesar de incipiente, esse desmatamento representa uma modificação no comportamento do desmatamento nessas TIs, não sendo possível identificar ainda se essa é uma modificação permanente ou pontual.

“Esse registro é inédito desde o início do monitoramento dessas áreas, em janeiro de 2010, então é correto dizer que essas terras estavam preservadas há pelo menos 10 anos e agora apareceram no mapa de desmatamento, devendo ser um foco de atenção nos monitoramentos dos próximos meses” destacou Paula Guarido, pesquisadora que acompanha e analisa os dados coletados através do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.

Se essa perda florestal se expandir, pode representar uma ameaça para mais de 400 indígenas que vivem nas quatro TIs, representantes das etnias Apurinã, Paumari e Mura.

De acordo com as lideranças indígenas contatadas pela equipe do Observatório, a ação de agentes externos e a falta de fiscalização são os principais motivos não só para o crescimento dos índices, mas para a inclusão dessas novas áreas antes conservadas.

“Desde março de 2020, quando começou a pandemia, o desmatamento aqui na região vem aumentando por conta das invasões das Terras Indígenas. Nós ficamos à mercê dos invasores. Estamos totalmente abandonados pelos órgãos de gestão. Não há fiscalização” disse Nilcélio Jiahui, liderança indígena e membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Observatório BR-319. (Foto:Reprodução/Observatório BR-319)

Outro motivo para a preocupação é que, na Amazônia, os desmatamentos quase sempre antecedem as grandes queimadas. Ou seja, uma alta no índice de desmatamento vem seguida de uma alta também nos índices de focos de calor, queimadas e incêndios florestais.

Até final de julho, onze das 69 TI monitoradas pelo Observatório da BR-319 apresentaram focos de calor. A TI Coatá-Laranjal (Borba) liderou o número de focos de calor em julho, com 13 focos, seguida pela TI Tenharim Marmelos (Gleba B) e pela TI Tenharim/Marmelos (Humaitá/Manicoré), que apresentaram oito e cinco focos, respectivamente. Esse número deve crescer até final de agosto, que historicamente tem índices maiores de focos de calor.

Os dados completos do monitoramento de desmatamento e queimadas estão no informativo do Observatório da BR-319, disponível em www.observatoriobr319.org.br. Os interessados em recebê-lo mensalmente por e-mail também pode se cadastrar em: bit.ly/br-319

O Observatório BR-319 é formado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Fundação Vitória Amazônica (FVA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Wildlife Conservation Society (WCS) e o WWF-Brasil.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

O interior de Rondônia não valoriza seus museus

Prédios abandonados e fechados à visitação pública.

Leia também

Publicidade