Principal região turística de Roraima conta com atuação do Corpo de Bombeiros Militar e Defesa Civil Estadual desde setembro no combate às chamas.
“É um desastre para mim. A vegetação já está escassa, o tempo está seco, com muita fumaça”.
O relato é da professora aposentada Dianair Amorim, de 63 anos. Ela é moradora da Serra do Tepequém, principal região turística de Roraima, no município do Amajari, norte do Estado, que desde setembro deste ano enfrenta incêndios florestais.
Os focos queimam as montanhas, afugentam os animais e enchem o ar da serra de fumaça. Moradores temem que as chamas aumentem durante o período seco.
Tepequém é um dos locais turísticos mais visitados de Roraima por apresentar atrações como cachoeiras, um platô que chega a quase 1.022 m de altura e pelo clima ameno durante a noite, proporcionado pelas serras.
Imagens mostram pontos turísticos da serra do Tepequém — inclusive o platô, um dos pontos mais altos da região — cobertos por fumaças que saem de dentro da vegetação das montanhas. Os registros também mostram a Defesa Civil de Amajari e brigadistas voluntários trabalhando para controlar as chamas.
Roraima enfrenta o período de seca, agravado pelo fenômeno El Niño, quando ocorre o aquecimento anormal do Pacífico equatorial. De acordo com Dianair, a condição climática tem piorado os fogos e contribui para que pequenos focos de incêndio florestal em Tepequém aumentem. O principal incêndio foi registrado no dia 8 de outubro e se prolongou por seis dias.
“As coisas estão muito secas, é difícil de olhar em volta. O fogo se espalhou como se tivessem jogado gasolina em uma parte da Serra. Está tão seco que qualquer coisa pega fogo. O capim está todo queimado e devido à falta de chuva tudo fica seco”, diz a professora aposentada.
O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Roraima informaram que desde a segunda quinzena de setembro estão atuando diretamente no combate de incêndios florestais na Serra. Eles destacam que “apesar de os esforços dos bombeiros e brigadistas voluntários da região, os incêndios persistem, principalmente em locais de difícil acesso onde os combatentes não conseguem chegar”.
Disseram ainda que o governo de Roraima trabalha para contratação de novos brigadistas no Amajari e que seguem monitorando a situação na região.
Outra moradora da serra que tem sofrido com as queimadas é a guia turística Cleucilene Viana, de 45 anos. As chamas chegaram perto da fazenda onde ela vive, cerca de 50 metro de distância. Ela mora na região há 12 anos com os filhos e o marido e teme pela saúde de sua família.
“O fogo se espalha e afeta as casas e o meio ambiente. Felizmente, conseguimos controlar o fogo e evitar danos materiais. No entanto, a fumaça e o risco para a saúde foram preocupantes, especialmente para minha família, que inclui crianças com alergias à fumaça”, conta.
“A situação nos preocupa”
Dianair mora em uma fazenda da região desde 2009. De acordo com ela, a origem das chamas é o descuido dos moradores do Tepequém em atear fogo em lixos. Ela diz que ver fumaças saindo de dentro da floresta tem sido constante desde setembro.
“Meu maior receio é o futuro, o turismo e os animais. Toda a vegetação já está escassa, devido à exploração predatória do garimpo que durou um século. Agora que a natureza estava se recuperando, ocorre esse desastre. A preocupação é com o futuro, pois imagine uma montanha coberta apenas por pedras, sem nada?”,
questiona a moradora da serra.
Durante o incêndio mais severo, que durou quase uma semana, Dianair teve crise de rinite por conta da fumaça que se formou na serra.
A fumaça também incomoda Cleucilene. Desde que os incêndios começaram, ela sente o cheiro de queimado toda a manhã. Ela cobra fiscalização e conscientização dos visitantes e dos turistas, pois de acordo com ela, muitos chegam a fazer fogueiras dentro da floresta da serra, algo proibido: “A falta de fiscalização é um grande problema. As pessoas continuam fazendo fogueiras e queimadas, mesmo sabendo que é proibido, e isso coloca em risco a região. Animais selvagens fogem do fogo e podem invadir áreas residenciais. O medo é que esses incêndios se agravem e causem mais danos à natureza e às comunidades locais”.
“O clima fica daquele jeito. Depois das queimadas, o ar fica mais esfumaçado, principalmente pela manhã. O cheiro de fumaça é perceptível, e a situação é agravada pelo clima seco do verão. A falta de chuvas piora a situação”, disse a moradora de Tepequém.
Combate ao fogo
A Defesa Civil e os brigadistas voluntários têm feito ações para controlar as chamas que atingem Tepequém desde setembro. A coordenadora local da Defesa Civil no Amajari, Chaguinha Soares, destaca que os grandes incêndios já foram controlados, restando apenas o fogo que está em lugares de difícil acesso — o que tem causado as fumaças.
De acordo com ela, foram três grandes focos de incêndio sendo eles: na cachoeira da Barata, um deles próximo à uma pousada e o último que durou por seis dias. As equipes da coordenadora trabalharam para controlar as chamas para que não atingisse uma tradicional plantação de açaí da região.
“O vento estava muito forte, e o incêndio já tinha saído de controle. Eu estava com minha equipe e a Defesa Civil do município, juntamente com três brigadistas voluntários e depois os bombeiros chegaram. Esse incêndio foi desafiador devido ao vento forte. Ele queimou toda a área próxima à ‘Cabeça do Índio’ e desceu até o penhasco, que era inacessível devido à sua altura”, explica.
“O fogo continuou queimando até o último final de semana, quando, no sábado, choveu um pouco. A chuva foi suficiente para apagar o fogo que ainda estava no penhasco, abaixo da ‘Mão de Deus'”.
O Corpo de Bombeiros Militar de Roraima e Defesa Civil Estadual informou que, com a eminencia de novos focos de incêndio, equipes estão de sobreaviso em caso de urgência.
*Por Caíque Rodrigues, g1 Roraima