Os ‘rios voadores’ podem carregar bilhões de toneladas de água para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
Se você olhar para o céu agora, deve ver nuvens, pássaros ou estrelas e a lua, mas lá, ocorre também um fenômeno invisível que ajuda a fornecer chuva e influencia o clima em diferentes partes do mundo: os rios voadores.
Leia também: Portal Amazônia responde: O que são os rios voadores?
Especialistas explicam que os rios voadores são volumes de vapor de água que vêm do oceano Atlântico, precipitam-se sob a forma de chuva na Amazônia e seguem até a Cordilheira dos Andes, uma cadeia de montanhas localizada na costa da América do Sul.
Por conta das formações rochosas das Cordilheiras, o que não se precipitou é “rebatido” de volta para o continente, fornecendo umidade para várias regiões do país. Ou seja, massas de ar, carregadas de vapor de água, passam por cima das nossas cabeças carregando umidade da Amazônia para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Mas esse vento carregado de umidade que chega até a Amazônia só é possível porque as árvores da Floresta bombeiam as águas das chuvas de volta para a atmosfera, através de um fenômeno denominado ‘evapotranspiração’, ou seja, a água das chuvas que fica retida nas copas das árvores evapora e permanece na atmosfera em forma de umidade e é exatamente essa umidade que forma os rios voadores.
Marcelo Lucian Ferronato, doutor em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, explica que os rios voadores podem carregar bilhões de toneladas de água por ano.
“Os rios voadores podem transportar quantidades massivas de água na forma de vapor, variando de centenas de milhões a bilhões de toneladas de água por ano, dependendo das condições climáticas e sazonais”,
diz.
Os rios voadores e o clima
A chegada de uma nova e forte onda de calor extremo, que fez com que várias regiões do país registrassem temperaturas próximas dos 40ºC, indica a necessidade de olhar para os rios voadores como parte fundamental na regulação do clima.
“Essas correntes de vento e umidade determinam os ciclos climáticos locais e regionais, influenciam nos padrões climáticos, afetando a estabilidade do clima e a sazonalidade das chuvas”, explica Marcelo.
O pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, Carlos Nobre, explica que os rios que sobrevoam os céus da América ajudam a manter a estabilidade climática da Terra.
“Esse é um serviço sistêmico muito importante, o que nós chamamos de ‘rios voadores’. É muito importante para manter a estabilidade climática do planeta”,
pontua Carlos Nobre.
Mas como os rios voadores estão ligados ao aumento da temperatura global? Marcelo Ferronato explica que, como no Brasil a emissão dos gases de efeito estufa está ligada ao desmatamento da Floresta Amazônica, há uma relação direta entre a preservação da floresta e a regulação do tempo.
“Do mesmo modo que um rio que corre pela terra, quanto mais se desmata menos água ele tem, ocorre nos rios voadores. Quanto mais se desmata a Amazônia, menos “volume” de água esses rios voadores têm. Afetando os padrões climáticos em escalas locais e regionais e contribuindo assim para escala planetária”, explicou.
Ou seja, Marcelo destaca que, “a perda da Floresta Amazônica, por exemplo, pode diminuir a quantidade de umidade transportada pelos rios voadores, afetando o clima global”.
*Por Thaís Nauara, do g1 Rondônia