Segundo ambientalista, ao longo da última década, a capital amazonense foi avançando sobre áreas de mata em função da expansão populacional.
Com a expansão populacional e urbana, Manaus (AM) perdeu 29 km² de floresta nativa em 10 anos, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). É como se a capital do Amazonas tivesse perdido 347 Arenas da Amazônia, o maior estádio do Estado.
De acordo com o Imazon, de janeiro de 2013 a setembro de 2023, áreas de mata de Manaus foram dando lugar ao desmatamento.
O professor de Matemática Daniel Sombra comparou os 29 km² perdidos com o tamanho do bairro Cidade Nova, um dos maiores da cidade. Os dados indicam que Manaus perdeu o equivalente a dois bairros do tamanho do Cidade Nova.
O bairro tem 1.419,38 hectares de área total. Quando esse número é transformado para km², o tamanho da região é 14,1938 km², metade do quanto a capital amazonense perdeu de floresta em uma década.
Perda gradativa
O ano em que a capital amazonense mais perdeu área florestada foi 2021, com o sumiço de 5,25 km² de vegetação nativa. A média dos demais anos é de até 3,47 km². O número mais baixo foi registrado em 2015, quando a cidade perdeu 0,84 km² de mata nativa.
Apesar de estar localizada no Estado que abriga a maior parte da floresta amazônica, dados do último Censo, feito pelo IBGE em 2010, apontam que Manaus é a terceira capital menos arborizada do país, com apenas 23,90% de área arborizada.
Apesar de outro levantamento ter sido feito em 2022, o órgão ainda não divulgou os dados e, por isso, os parâmetros de 2010 seguem sendo levados em consideração.
Em imagens de satélite de Manaus do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e divulgadas pelo Museu da Amazônia (Musa), é possível ver que em uma comparação visual, pequenos pontos de áreas florestadas deram lugar ao urbanismo. Áreas que antes eram verdes, foram substituídas pelo cinza do cimento de prédios e casas.
Segundo o ambientalista Erivaldo Cavalcanti, ao longo dos anos, Manaus foi avançando sobre áreas de floresta nativa. Aos poucos, a capital perdeu cobertura vegetal para os bairros que tiveram um crescimento exponencial nos último anos.
“A cidade de Manaus é o exemplo de um município que cresceu avançando sobre a área de floresta nativa. Além disso ela vem perdendo, em seu perímetro urbano, cobertura vegetal, ficando apenas com fragmentos florestais dentro dela”,
disse o ambientalista.
O ambientalista apontou que o crescimento urbano desordenado e ocupações irregulares em áreas ambientais nativas e protegidas, além da falta de fiscalização, são as principais causas da perda de floresta em Manaus.
Como a falta de florestamento afeta a população?
A baixa cobertura vegetal e a falta de arborização afetam a saúde da população. De acordo com Erivaldo Cavalcanti, esses fatores também contribuem para as altas temperaturas na cidade.
“Estamos numa cidade cuja posição geográfica faz com que os raios solares incidam com mais intensidade por conta da linha do equador. Seus efeitos seriam amenizados com uma maior quantidade de árvores, pois gerariam sombreamento e conforto térmico diminuindo, assim, as ilhas de calor”,
disse o ambientalista.
Neste ano, Manaus bateu um recorde histórico, registrando o dia mais quente dos últimos 30 anos, no inicio do mês, em 2 de outubro. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os termômetros da capital amazonense chegaram a medir 39,2ºC.
Conforme o ambientalista, com o passar dos anos, se não houver cobertura vegetal, o calor só aumentará, gerando problemas de saúde, como as doenças de pele.
Áreas florestadas e arborizadas de Manaus
Embora a falta de arborização seja um dos principais problemas da capital, Manaus possui fragmentos de áreas florestais nativas que podem ser considerados exemplos de arborização.
Erivaldo citou as unidades de conservação municipais. Seis delas são Áreas de Proteção Ambiental (APA) e duas são parques – o Parque do Mindu e o Parque Nascente do Mindu.
Há, ainda, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé e o Refúgio Sauim Castanheira.
A lista também inclui a Reserva Adolpho Ducke, que tem 100 km² de extensão de floresta nativa. O local abriga o Museu da Amazônia (Musa), administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), onde os visitantes podem se inserir em um pedaço da Floresta Amazônica.
O que fazer para reflorestar Manaus?
Além de planos de arborização do poder público, a cidade pode contar com a colaboração dos moradores, segundo o ambientalista. Não desmatar, preservar e até plantar árvores estão entre as opções. Denunciar crimes ambientais é outra alternativa.
“De início, pode parecer uma ação simplória, mas a população precisa plantar e preservar as árvores nos ambientes particulares e, por um ato cidadão, denunciar quando observar árvores sendo derrubadas”,
destacou o ambientalista.