Pesquisa paraense aponta felinos silvestres como potenciais reservatórios de agentes zoonóticos

O estudo foi baseado em dados secundários consultados em bibliotecas e bases de dados online

Um recente estudo publicado na revista Mastozoologia Neotropical apresentou um panorama geral das espécies de felinos do Brasil como potenciais reservatórios de agentes zoonóticos. A pesquisa produziu análises inéditas e relevantes. Mamíferos apresentam papel central no ciclo de várias zoonoses. As zoonoses correspondem a enfermidades transmissíveis entre os animais e o homem, portanto tem impactos na saúde e bem estar das populações. E, nesse sentido, a pesquisa é uma ferramenta fundamental para a prevenção de surtos de doenças.

O artigo tem como autoras Halícia Celeste, discente do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, fruto da parceria entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e a Drª Alexandra Maria Ramos Bezerra, pesquisadora do Museu Goeldi, vinculada ao Programa de Capacitação Institucional na Mastozoologia. O artigo de ambas parte do fato de que cada vez mais as espécies de felinos silvestres, por uma série de interferências provocadas pela espécie humana nos ambientes naturais, vêm tendo contato com comunidades humanas, o que pode potencializar o compartilhamento de vários patógenos.

Foto: Reprodução

“É sabido que felinos são predadores de topo da cadeia alimentar e utilizam, usualmente, grandes áreas. São territorialistas, não gregários, e buscam por alimentos (presas) ativamente. O desmatamento faz com que esses animais tenham que se locomover e dispersar por locais diferentes dos usuais, seja para incluir novas áreas de vida ou para buscar alimentos, aumentando a probabilidade de encontros com o homem e animais domésticos ou de produção. Esses encontros podem aumentar a chance de contágios entre essas espécies, levando patógenos da natureza para o meio antrópico, assim como no caminho inverso (do meio urbano para ambientes silvestres). Alguns patógenos podem naturalmente infectar nos dois sentidos, enquanto outros poderiam evoluir e se adaptar para infectar espécies distintas”, explica Alexandra Bezerra.

O estudo foi baseado em dados secundários consultados em bibliotecas e bases de dados online a partir da utilização de palavras-chaves específicas sobre a temática. Para cada zoonose com detecção do agente etiológico, foram registradas as espécies de felinos e a localidade mais específica em que ocorreu o registro.

No total, foram encontrados registros de 19 zoonoses para 10 espécies de felinos silvestres, incluindo duas causadas por vírus, cinco por nematóides, quatro por protozoários e oito por bactérias. A zoonose com maior prevalência causada por vírus foi a raiva, por protozoários foi a toxoplasmose, por bactérias destacaram-se a brucelose e a leptospirose, enquanto que por nematoides destacaram-se a ancilostomose e a toxocaríase.

Segundo Alexandra Bezerra, o Brasil não possui pesquisas em zoonoses com distribuição territorial homogênea para felinos silvestres, apresentando várias lacunas geográficas, geográficas, que poderiam levar ao desequilíbrio em estratégias de prevenção de surtos e epidemais. Dessa forma, os registros dos patógenos ocorreram principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, onde estão concentrados o maior número de estudos sobre a temática.

Na pesquisa, foi identificado que as espécies Leopardus pardalis (Jaguatirica), Leopardus tigrinus (Gato-do-mato), Panthera onca (Onça-pintada) e Puma concolor (Onça-parda) apresentaram o maior número de registros de patógenos e distribuição mais ampla pelas regiões brasileiras. Também foi possível observar o papel que os membros dessa família possuem como reservatórios de agentes de várias zoonoses letais. São espécies de felinos silvestres que se encontram em alguma das categorias de ameaçada de extinção, com essa situação se agravando dependendo da região.

O panorama apresentado neste trabalho científico permite que os pesquisadores possam planejar diversas estratégias de investigação e tomadas de decisão para evitar a propagação de doenças entre felinos e humanos. Além disso, os resultados do estudo evidenciam a importância da preservação e manutenção dos habitats naturais das espécies analisadas como medida de saúde pública, a fim de prevenir a proliferação dessas zoonoses, tanto para os humanos quanto para os animais.

“A preservação dos ambientes naturais dos felinos poderia minimizar possíveis trocas de patógenos entre essas espécies e os animais domésticos e, consequentemente, com os humanos, além de diminuir a probabilidade de contato direto com os felinos”, aponta a zoóloga Alexandra Bezerra.

Clique aqui para acessar o artigo na íntegra. 

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