Cientistas criam xampu sustentável a partir da mangabeira, árvore comum no Tocantins

Fórmula foi desenvolvida para ser simples, passível de ser replicada por comunidades extrativistas locais que já comercializam os frutos da mangabeira

Pesquisadoras da Universidade Federal do Tocantins (UFT), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e do Centro Universitário Luterano de Palmas (Celp/Ulbra) desenvolveram um xampu sustentável e com propriedades antioxidantes a partir do extrato da mangabeira, planta nativa brasileira comum em estados como Tocantins, Sergipe e Piauí. A fórmula não conta com lauril sulfato de sódio, agente limpante comumente utilizado em xampus, que enfraquece a fibra capilar. As conclusões foram publicadas na revista “Brazilian Journal of Biology”.

Foto: Saulo Coelho Nunes/Embrapa

As pesquisadoras partiram da análise de extratos da casca, caule e folha da mangabeira, observando propriedades que poderiam ser aproveitadas para a produção de cosméticos. O extrato da folha se mostrou ideal à produção do xampu, cuja fórmula foi criada para ser simples, passível de reprodução pelas comunidades extrativistas que sobrevivem da venda sazonal da mangaba, fruto da mangabeira.

O uso de outras partes da planta para a produção de cosméticos pode gerar mais fontes de renda à comunidade, além de aproximar o consumidor da natureza e promover a sustentabilidade. “As comunidades extrativistas têm uma visão diferente da indústria, aproveitando só o que precisam e com maior consciência ambiental. Além disso, você não precisa ficar extraindo compostos derivados do petróleo para produzir artigos sintéticos”, explica a autora principal do estudo, Juliane Farinelli Panontin.

O artigo deriva de sua tese de doutorado, em que também foi criado um sérum a partir do caule da mangabeira, que é rico em antioxidantes e pobre em saponina, composto com propriedades detergentes. Já as folhas da mangabeira, usadas para o xampu, contam com grande quantidade de saponina e antioxidantes, sendo ideais para limpar e proteger os cabelos.

O xampu é tão eficiente quanto o comercial, mas com a vantagem de não utilizar o lauril sulfato de sódio, agente limpante comum no mercado e que gradualmente enfraquece os fios de cabelo. Porém, ele não produz tanta espuma, o que pode gerar a sensação de que não está cumprindo seu papel — um dos pontos que Panontin visa melhorar em um próximo momento da pesquisa. “Agora, a gente queria realmente ajudar a comunidade a implantar essa mini-indústria, além de melhorar a formação do xampu e tentar deixá-lo com mais espuma”, conclui. 

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