Pesquisa da Ufopa destaca importância das abelhas na polinização e frutificação da Castanheira

Essas abelhas têm força suficiente para abrir as flores das castanheiras e entrar onde estão as estruturas masculinas e femininas de reprodução (a flor é hermafrodita).

Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Biociências da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o biólogo Maico Oliveira Pimentel desenvolveu, de 2016 a 2018, uma pesquisa sobre a polinização da Bertholletia excelsa, popularmente conhecida como castanha-do-brasil ou castanha-do-pará. Os resultados da pesquisa acabaram de ganhar uma versão em formato de vídeo, publicado em agosto de 2020 na plataforma YouTube.

Castanheiras em área de pastagem no município de Oriximiná: a polinização depende das abelhas mangavas. (Foto: Andrea Barreto/Ufopa)

Apesar do nome, a castanheira não é nativa apenas do território do Pará ou do Brasil, ela é natural de toda a floresta amazônica e ocorre também em países como Bolívia, Colômbia, Guianas, Peru e Venezuela. As árvores frutificam e geram o ouriço, que chega a conter até 25 sementes de castanha. Além de alimento, a castanha também é fonte de renda. No Oeste do Pará, na região do município de Oriximiná, inúmeras famílias extrativistas tiram seu sustento da produção da castanha, trabalhando na coleta ou no beneficiamento das sementes para venda e exportação.

Foi nessa região que Maico desenvolveu a pesquisa acerca da importância das abelhas na polinização e frutificação da castanheira. De cada dez espécies de plantas que são cultivadas, sete são polinizadas por abelhas. Esses insetos geralmente estão em busca de material para construir seus ninhos, ou de óleo essencial para atração de parceiros ou de fontes de alimento, como o néctar e o pólen, para alimentar suas larvas. Nesse processo, o pólen também é carregado de uma flor para outra, permitindo a reprodução.

A polinização das castanheiras se dá graças ao trabalho das abelhas de médio e grande porte, popularmente chamadas de mangavas, mangauas, mamangás ou mamangavas. Essas abelhas têm força suficiente para abrir as flores das castanheiras e entrar onde estão as estruturas masculinas e femininas de reprodução (a flor é hermafrodita). Ao sair, o pólen fica preso nas costas das abelhas, e, assim, elas transportam o pólen de uma flor para outra. A reprodução é cruzada, ou seja, a fecundação ocorre quando o pólen de uma flor de uma castanheira encontra o pólen de outra flor de castanheira.

Na comunidade de Santa Maria, região do planalto do município de Oriximiná, Maico optou por desenvolver sua pesquisa em áreas já desmatadas. 

“Há uma teoria de que, apesar de permanecer em pé, a castanheira acaba ficando enfraquecida em áreas desmatadas. Por estar isolada no pasto, ela acaba tendo menos condições de produzir muitos frutos. Como a polinização é cruzada, ela precisa de outra castanheira próxima”, explica o professor da Ufopa Ricardo Scoles, orientador de Maico durante o mestrado.

Abelha mamangava. (Foto:Divulgação/Viver Animal)

O local de estudo é uma área de pastagem onde se avistavam castanheiras remanescentes e com fragmentos florestais próximos. No local havia uma população de castanheiras distantes cerca de 200 metros, o que permitia a comunicação entre as árvores, já que a abelha mangava é capaz de voar quilômetros entre cada pouso. Além disso, por ser área de pastagem de gado, não havia o uso intensivo de agrotóxicos, como costuma ocorrer nas plantações de soja. Dessa forma, não houve tanta interferência na população de polinizadores.

“As abelhas conseguiam visitar as árvores e voltar para casa, na floresta. Por isso se explica a polinização e, consequentemente, a frutificação”, ressalta o professor Scoles, que orientou o estudo ao lado da especialista em polinização de árvores tropicais Dra. Márcia Mota Maués, da Embrapa Amazônia-Oriental.

Através do rapel, o pesquisador escalou castanheiras que chegavam a 60 metros de altura. (Foto: Melquíades Costa/Ufopa)

Maico conseguiu comprovar a visitação das abelhas nas castanheiras. Ele capturou cinco espécies durante o período de observação (Xylocopa frontalis, Eulaema nigrita, Megachile sp., Centris superba e Xylocopa ordinaria). Mais da metade dos insetos capturados eram da espécie Xylocopa frontalis, uma das mais importantes polinizadoras da castanheira. “Centris superba e Xylocopa ordinaria são espécies que ainda não foram descritas na literatura científica como visitantes florais. São potenciais polinizadores de castanheiras”, ressalta Maico, destacando um dos resultados da pesquisa.

Os pesquisadores também identificaram sob quais condições as abelhas visitaram as castanheiras. O estudo mostrou que a maioria fez sua visita das 7h30 às 8h30, a uma temperatura média de 25,3º C, com umidade relativa do ar de 89,2% e velocidade do vento de 0,9 metros por segundo.

Para observar e capturar as abelhas, Maico precisou escalar árvores que chegavam a 60 metros de altura. As pesquisas com polinizadores da castanheira geralmente são feitas em áreas de plantação, com árvores ainda em crescimento, medindo de 10 a 20 metros. Para subir, costuma-se usar andaimes e fazer plataformas. “Mas nós escolhemos exemplares adultos, com árvores muito mais altas. Esse era o desafio. Optamos por escalar, fizemos arvorismo e rapel. Chegamos a cerca de 30-40 metros de altura”, esclarece o pesquisador, que subia ao nascer do sol e só descia ao meio dia. Em solo, a equipe de apoio dava o suporte necessário, enviando alimentação e material para a pesquisa.

Além da nova técnica de subida, através da escalada, Maico desenvolveu uma nova metodologia de captura dos insetos. Normalmente, a captura é feita com um instrumento chamado puçá ou rede entomológica, que permite aprisionar o inseto. “Mas no centro da copa, a mais de 30 metros de altura, não tinha como fazer o arraste. Por isso precisamos adaptar e desenvolver um novo tipo de rede”, ressalta o biólogo. A nova rede entomológica é o grande destaque da pesquisa e encontra-se sob processo de registro de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A expectativa é que o resultado da patente saia até o fim de 2020.

O vídeo recém-lançado no YouTube é parte de resultados da pesquisa. “Precisamos levar os resultados de volta para a comunidade. Não adianta fazer ciência e deixá-la parada, precisamos divulgar. Com a pandemia, ficou mais difícil ir pessoalmente na comunidade e apresentar os resultados. Achamos que vídeo ampliava a divulgação. É uma forma de dar esse retorno”, avalia Maico, que concluiu o mestrado pelo PPG Biociências em 2019.

Confira o vídeo da apresentação:

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