Desmatamento afeta populações de abelhas da Amazônia

Foto: Divulgação/Inpa

Responsável por 30% da produção de alimentos do mundo, a polinização é uma das principais funções desempenhadas pelas abelhas, insetos que em alguns países começam a sumir. O assunto que preocupa o mundo e órgãos como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), por ameaçar a segurança alimentar, foi discutido na última sexta-feira (09) no ciclo de palestra da Semana do Meio Ambiente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

A palestra a “Importância dos insetos na polinização das plantas” foi apresentada pelo pesquisador do Inpa, o biólogo com doutorado em Entomologia, Marcio Luiz de Oliveira. O pesquisador é curador da Coleção de Invertebrados do Inpa, com experiência em ecologia e conservação de abelhas. Alunos do curso técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação do Amazonas (Ifam), de Itacoatiara, participaram da atividade.

Para entender melhor o desaparecimento e a morte massiva de abelhas melíferas (Apis mellifera), especialmente nos Estados Unidos e Europa, a FAO criou vários programas para  tentar descobrir as causas do desaparecimento desses agentes polinizadores, e para  proteger as abelhas e suas áreas de ocorrência. Até mesmo a NASA, agência espacial americana, anda investigando a questão.

Os estudos ainda não foram concluídos. Mas é provável que haja uma combinação de fatores para o desaparecimento das abelhas, como agentes patógenos – entre eles o vírus da asa deformada (DWV, na sigla em inglês), queimadas, desmatamento, aquecimento global e o uso de defensivos agrícolas para combater pragas nas lavouras.

De acordo com Oliveira, a FAO está preocupada de que no futuro não haja oferta de alimentos ou que exista em quantidade insuficiente por conta do desaparecimento das abelhas, que além da produção de mel, prestam um importante serviço ambiental com a reprodução e manutenção das plantas e do equilíbrio da biodiversidade.

“Aqui na Amazônia a gente ainda não  notou o sumiço das abelhas. Isso está acontecendo muito nos Estados Unidos e na Europa, que dependem, sobretudo, de poucas espécies polinizadoras. A abelha que praticamente poliniza tudo por lá é a abelha melífera (Apis mellifera), conhecida pela humanidade desde a Antiguidade”, explica Oliveira.

Conforme Oliveira, uma grande parte das plantas consumidas pela humanidade, ou pelo menos as mais importantes, são polinizadas pelo vento, como trigo e arroz, que não precisam de insetos, porque o vento vem e carrega o pólen – elemento reprodutivo masculino – até a parte feminina da planta e produz o fruto. Porém, uma grande quantidade de plantas precisa de um agente para transportar o pólen até a estrutura reprodutiva feminina.

“Em contrapartida, as frutas e frutos como por exemplo abóbora, tomate, uva, maçã, cupuaçu e guaraná e outros dependem dos polinizadores para sua reprodução. Os insetos polinizadores mais importantes são abelhas, borboletas, moscas e besouros, mas o grupo com maior destaque é o das abelhas”, conta o pesquisador.

Abelhas na Amazônia

Na Amazônia, o desaparecimento das abelhas, em sua maioria, abelhas sem ferrão, ainda não foi notado. Grande parte do bioma é preservado, além de existir centenas de espécies de abelhas nativas, uma das maiores diversidades de abelhas nativas do mundo. Conforme Oliveira, algumas dessas abelhas são endêmicas da região, estando portanto  envolvidas na polinização das frutas e frutos da região.

“Então você pensa no cupuaçu, na pupunha, na bacaba, no guaraná; todas essas plantas da região dependem  dos polinizadores nativos para serem produzidas, daí mais um motivo para o agricultor proteger a área, a mata que está em volta dos plantios”, destaca o pesquisador.

Ainda de acordo com o Oliveira, é provável que com aquecimento global, desmatamento, queimadas, crescimento das cidades, aberturas de rodovias, as populações de abelhas diminuam. “Temos de pensar que tipo de desenvolvimento queremos. Não pode ser de qualquer maneira”, enfatiza, destacando que todos  nós somos responsáveis. “Acredito que o caminho é educação, acompanhada de fiscalização e, se for o caso, punição”, completa.

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