Curso une economia solidária com empreendedorismo para capacitar grupos de costureiras em Manaus

Ação faz parte de projeto desenvolvido pela FAS em parceria com a Klabin. Objetivo é capacitar oito grupos de costureiras em situação de vulnerabilidade social.

Dinâmicas em grupo, troca de experiências e muito aprendizado. Foi assim que oito grupos de costureiras e costureiros de cinco bairros periféricos de Manaus (AM) foram recebidos na sede da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) para um curso de capacitação executado com o auxílio da consultoria Impact Hub Manaus. O objetivo foi discutir sobre finanças e estratégias de comercialização. A ação fez parte da última etapa de um projeto realizado em parceria com a empresa Klabin que, diante da pandemia da Covid-19, impulsionou doações voltadas para as áreas de saúde, assistência social e geração de renda. Com o apoio da empresa, 200 famílias estão se reinventando economicamente por meio da confecção de 15 mil máscaras.

Na ação teve oficinas com temas que relacionam a importância do autoconhecido com o empreendedorismo, atividades para definição de modelo de negócios, ginástica laboral e também foram abordados temas como finanças, fluxo de caixa, precificação, canais de venda, definição de metas e organização do plano de desenvolvimento.

Foto: Divulgação/FAS

Formados majoritariamente por mulheres, os grupos de empreendedores tinham imigrantes, refugiados, povos indígenas e moradores de zonas periféricas da capital amazonense. A heterogeneidade foi observada também durante a capacitação, que contou com a presença de representantes dos bairros Coroado, Jorge Teixeira, Monte das Oliveiras, Redenção e Parque das Tribos. Além disso, a ação respeitou as medidas sanitárias, como distanciamento social, uso de máscaras e realização do evento em local espaçoso e aberto.

De acordo com a coordenadora de Cidades Sustentáveis da FAS, Paula Carramaschi Gabriel, o projeto apresenta um caráter inovador para profissionalizar pessoas em situação de vulnerabilidade social, pois é uma maneira de demonstrar possíveis caminhos para abrirem seus próprios negócios, podendo ir além da confecção de máscaras. “Queremos ajudar elas a se formalizarem, a abrirem uma associação, irem atrás de empresas, terem um perfil bacana no Instagram com uma comunicação legal e se organizarem financeiramente. A ideia é entender sobre o que é um negócio social e tudo que elas podem fazer com isso. É por isso que estamos fortalecendo a periferia, os povos indígenas, os imigrantes e refugiados”, diz.

Foto: Divulgação/FAS

 Negócio social e solidário

Uma das participantes, a indígena do povo Witoto e moradora do bairro Parque das Tribos, Vanderlécia Ortega dos Santos, ingressou no projeto após a pandemia obrigar as mulheres do bairro a alterarem suas dinâmicas de trabalho, antes formadas pelo artesanato. “Nossos povos precisam se reinventar a todo momento e a máscara foi uma reinvenção para gerar renda para nossas famílias. Nós nos organizamos e as mulheres começaram a confeccionar as máscaras”, disse. Segundo ela, essas mulheres também se articulam há anos para fundar uma associação própria. Vanda, como é mais conhecida, afirma que o curso da FAS poderá auxiliar nessa conquista. “Nós não tínhamos informação sobre a parte burocrática de como gerir recursos, então para a mulher indígena essa formação é extremamente importante, porque nos capacitará para melhorar a estrutura da organização que pretendemos criar”.

A questão da sustentabilidade também esteve presente durante todo o projeto e o curso. Entre os participantes do evento, estavam pessoas ligadas à iniciativas de reciclagem, como o Projeto de Restauração Ecológica e Urbanização Sustentável na Amazônia (Reusa), localizado no bairro Redenção. Rudson Almeida da Silva, um dos representantes do projeto, afirma que, a partir da venda das máscaras, tanto o Reusa quanto a comunidade da Redenção, fortemente impactados pela pandemia, poderão se fortalecer. “O que mais me chamou atenção no curso foi a parte administrativa, onde tínhamos mais dificuldade. A produção e a maneira de trabalhar estavam boas, mas na parte do lucro e de como manusear isso, a gente errava bastante. Então aprendemos muito e foi bem instrutivo”.

Para pessoas em situação de refúgio e imigrantes, um projeto como esse pode significar uma mudança radical de vida, além de uma chance para se adaptarem melhor a uma cultura completamente nova. É o caso da venezuelana Idelma Nava, que vive há três anos em Manaus e participa do grupo Mãos Entrelaçadas. Segundo ela, que costumava administrar uma loja de roupas na Venezuela, o projeto é uma oportunidade de se desenvolver profissionalmente. “É bom também para aprender mais sobre a cultura do país, já que nós viemos de outra nação e para nos envolvermos mais no trabalho. Quando vim para o Brasil, cheguei sem trabalho, sem nada, e trabalhava na rua, mas agora com o grupo eu comecei a costurar e novas portas se abriram para eu seguir em frente”.

Saiba mais

Com apoio da empresa Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, o projeto ocorre no âmbito da “Aliança Covid Amazonas dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais e Organizações Parceiras para o Enfrentamento do Coronavírus”. A iniciativa é uma ação emergencial de combate à Covid-19 ao mesmo tempo em que atua como um projeto de desenvolvimento local nas periferias de Manaus. Promove ações de prevenção ao coronavírus para famílias em situação de vulnerabilidade nas periferias de Manaus e oferece oportunidades de geração de renda por meio da produção de máscaras artesanais, estruturando ainda a cadeia de reciclagem do papel.

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