Conheça as vegetações não florestais do bioma Amazônia

Mais de 4% da Amazônia é composta por vegetações não florestais, totalizando 18,5 milhões de hectares

Mais de 4% da Amazônia é composta por vegetações não florestais, totalizando 18,5 milhões de hectares, uma extensão maior que o estado do Acre. Os dados são da rede MapBiomas, da qual o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) faz parte.

Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, explica que as condições de solo e clima diversificam as vegetações amazônicas e exercem papéis relevantes para o bioma.

“É bem interessante a gente perceber essa diversidade, e ela é muito importante. Para os povos originários que muitas vezes usam essas áreas para caçar e coletar o que eles precisam. Também engrandecem o papel desse patrimônio que é um bioma tão maravilhoso e tão rico”, comenta.

A rede MapBiomas identifica cinco tipos de vegetação não florestal na Amazônia (Fonte: MapBiomas uso e cobertura coleção 8 | Mapa: Karina Custódio/IPAM)

O que é vegetação não florestal? 

É aquela que não se encaixa no conceito de floresta, ou seja, não tem sua área ocupada por árvores que podem desenvolver uma copa, formada pelas folhas e galhos, que cubra pelo menos 10% do território, conforme definido pela UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).

As vegetações não florestais amazônicas estão presentes em: campos alagados; áreas pantanosas; formações campestres; além de áreas de apicum e afloramento rochoso, segundo a categorização realizada pela rede MapBiomas.

Entre os tipos de vegetação não florestal no bioma há os lavrados roraimenses, além das campinas e campinaranas, detalhados a seguir. 

Lavrado de Roraima 

Também conhecido como “savana das guianas”, o lavrado de Roraima ocupa regiões do Brasil, das Guianas e da Venezuela com uma extensão de cerca de 60 mil km². Área maior que o estado da Paraíba. A parte brasileira dos lavrados está localizada quase que totalmente no estado de Roraima, como explica Alencar.

“É uma área que parece um Cerrado. Tem algumas árvores, mas é principalmente dominada por gramíneas, com algumas lagoas. É um tipo de vegetação muito específico e próprio desta região do norte de Roraima”.

Três bacias hidrográficas passam pela vegetação, são elas: Amazonas, Orinoco e Essequibo. A biodiversidade também é característica do lavrado: uma pesquisa liderada por Maria Aparecida de Moura, professora da UFRR (Universidade Federal de Roraima) identificou 128 espécies endêmicas da vegetação.

A formação campestre, a qual o lavrado faz parte, ocupa 4,3 milhões de hectares de Roraima. (Fonte: MapBiomas uso e cobertura coleção 8 | Mapa: Karina Custódio/IPAM)

Campinas e campinaranas 

São compostas por grandes campos abertos, com solos arenosos e suscetíveis a alagamentos. Essas vegetações estão presentes em diversos pontos da Amazônia, como o sudoeste do Pará e da região centro-sul de Roraima.

As campinas têm árvores isoladas, que chegam até nove metros; já as campinaranas formam pequenos bosques, com árvores que atingem até 30 metros de altura, mas ainda assim são dominadas por gramíneas.

Outra diferença entre as duas vegetações é a posição do lençol freático: na campina, fica entre um e três metros abaixo da terra; já nas campinaranas, costuma estar a sete metros de profundidade.

Os dois tipos de vegetação se adaptaram a um solo com poucos nutrientes e a inundações frequentes. 

Desmatamento da Amazônia não florestal 

Em 32 anos, mais de 9 milhões de hectares de vegetação não florestal foram desmatados pelo fogo. Em 2022, esse número subiu para 1,1 milhão de quilômetros quadrados, representando um aumento de 47,15%. 2001 foi o ano com maior área afetada pelo fogo, tendo mais de 2,4 milhões de hectares queimados.

Felipe Martenexen, pesquisador no IPAM e especialista em geoprocessamento, explica que a vegetação nativa não florestal é mais suscetível ao desmatamento. Já que ela não tem fatores de proteção, como a umidade e densidade de árvores, o que faz com que o fogo se espalhe mais facilmente, ele pontua também que as políticas de preservação costumam ser voltadas para a floresta.

“Toda vez que se fala de conservação no bioma Amazônia, se fala da classe florestal, porque ela tem maior biodiversidade e maior estoque de carbono. A vegetação nativa não florestal acaba tendo menos medidas preventivas, tendo menos prioridade na conservação”, expõe.

Embora esse tipo de vegetação possua espécies mais capazes de se regenerar após incêndios, o pesquisador indica que essa regeneração pode durar anos e até décadas, e pode ser retardada ou impossibilitada pela pressão de atividades humanas.

Martenexen pondera ainda que, mesmo que a formação florestal seja a mais presente no bioma amazônico, “cada tipo de vegetação na Amazônia tem seu papel único na manutenção do equilíbrio ecológico e na contribuição para a saúde do planeta”.

*Com informações do IPAM. 

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