A estrutura foi instituída em março com o objetivo de enfrentar a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami em três frentes: a fome, a desintrusão e a saúde.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) lançou no início de abril em Boa Vista (RR), com diferentes instituições e organizações indígenas, a Rede Intersetorial de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Crianças da Terra Indígena (TI) Yanomami.
Durante o lançamento, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, fez um histórico das medidas adotadas, como os diversos encontros que ocorreram em Roraima e em Brasília com instituições do governo municipal, estadual e federal e com as organizações indígenas e indigenistas para planejar a implementação. “Além de propor soluções, a gente vai dividir responsabilidades. A gente precisa se aproximar dessa realidade para propor soluções juntos”, destacou.
“Quando se discute direitos fundamentais à vida, à segurança, à liberdade de ir e vir, direito à alimentação e direito da cultura, nós temos que colocar isso como uma responsabilidade compartilhada do Estado brasileiro. E aqui em Roraima nós vivemos essa situação. Então, nós estamos aqui incentivando o que encaminhamos em fevereiro quando discutimos a situação das mulheres”,
enfatizou a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, referindo-se ao sentido da Rede Intersetorial.
A presidenta da Funai também ressaltou o papel da autarquia como orientadora da política indigenista dentro do governo. “Nos cabe mostrar aos demais órgãos que cada povo tem sua própria cultura e diversidade. Existe uma diferença entre as culturas Ye’kuana e Yanomami, por exemplo, relacionada às mulheres de Roraima e do Amazonas. Mas todas elas compartilham da mesma necessidade de se ter uma estratégia para enfrentar a violência física, moral, psicológica e tantas outras formas”, evidenciou Joenia ao agradecer todas as instituições presentes na cerimônia de lançamento e que aceitaram fazer parte da Rede Intersetorial.
A coordenadora de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social da Funai, Lídia Lacerda, apresentou aos participantes da rede, a matriz de atribuições interinstitucional, a rede de proteção e atendimento, o fluxo de atendimento e o Pacto Interinstitucional. E também a metodologia de trabalho por segmentação espacial nos contextos territorial, urbano e da Casa de Saúde Indígena (Casai). E, ainda, os planos de atuação distintos para o enfrentamento das situações de vulnerabilidade. “No contexto da Casai, a Funai já está com um plano em andamento com algumas atividades propostas de oficinas, reuniões e trabalhos com mulheres e homens”, adiantou.
A representante da Casa de Governo, Cleide Souza, reforçou que a estrutura foi instituída em março com o objetivo de enfrentar a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami em três frentes: a fome, a desintrusão (retirada de invasores) e a saúde. “Nós estamos aqui à disposição para colaborar nessa luta”, afirmou.
Carlinha Yanomami, da Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma, avalia a Casa de Governo como um instrumento que irá facilitar o diálogo com os povos indígenas. “Há muitos anos, a gente não tinha valor, éramos desvalorizadas. Hoje, o governo reaproximou esse contato”, afirmou.
Além de representantes da Funai e das coordenações regionais de Roraima e Amazonas, a mesa de abertura do evento contou com representantes de organizações indígenas Hutukara, Sedume, Texoli, Parawame, Kurikama, Amik, Ibassali e Ayrca, da Casa de Governo da Casa Civil, Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério das Mulheres, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Secretaria do Trabalho e Bem-estar Social (Setrabes), Secretaria Estadual do Índio (RR) e Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami.