Sem floresta, não há água: o alerta que o Brasil precisa ouvir

É preciso retomar com força os programas de controle do desmatamento, apoiar as comunidades que protegem a floresta de dentro para fora, e, sobretudo, construir uma governança das águas.

Foto: Olímpio Guarany/Acervo pessoal

Por Olímpio Guarany

Os dados divulgados nesta semana pelo INPE revelam uma verdade incômoda: o desmatamento voltou a crescer na Amazônia. A área sob alertas de desmatamento aumentou 92% em maio, comparado com maio/2024, atingindo 960 km². Após meses de tímidos sinais de desaceleração, o ritmo da destruição aumentou — e com ele, a urgência de repensarmos nossas escolhas.

A floresta não é apenas um conjunto de árvores. É um sistema vivo, pulsante, que regula os ciclos da água e do clima em grande parte do território brasileiro. Cortar a floresta é secar o futuro.

A máxima “sem floresta, não há água” não é retórica — é ciência. O bioma amazônico produz seus próprios rios voadores: massas de umidade que se formam a partir da evapotranspiração das árvores e que alimentam as chuvas em todo o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Quando a cobertura vegetal é destruída, esse ciclo se rompe. E o que vem depois é estiagem, colapso hídrico, perdas na agricultura, impacto direto na vida das pessoas.

Não é por acaso que, mesmo com o atual período de chuvas, especialistas já alertam para o risco de uma estiagem severa no segundo semestre. Os sinais estão aí — visíveis no leito mais baixo dos rios, no atraso das chuvas, na instabilidade do clima. E os dados do INPE apenas confirmam que não estamos fazendo o suficiente para mudar essa rota.

Seca na Amazônia. Foto: Reprodução/Arquivo Rede Amazônica

Preservar a floresta não é um gesto simbólico. É uma estratégia de sobrevivência.

É preciso retomar com força os programas de controle do desmatamento, apoiar as comunidades que protegem a floresta de dentro para fora, e, sobretudo, construir uma governança das águas que integre ciência, saberes tradicionais e vontade política.

A Amazônia não precisa de discursos. Precisa de compromisso.

Cada hectare preservado é um reservatório de chuva que se mantém.

Cada nascente protegida é uma comunidade que segue viva.

Os povos da floresta, os cientistas e os movimentos sociais já entenderam isso. Falta o restante do país entender também. Porque a Amazônia não é um problema distante — é o centro da vida brasileira.

Ainda dá tempo. Mas o relógio corre.

E o futuro — como a água — pode escorrer pelas nossas mãos.

Sobre o autor

Olimpio Guarany é jornalista, documentarista e professor universitário. Realizou expedição histórica, navegando o rio Amazonas, desde a foz até o rio Napo (Peru), por onde atingiu o sopé da cordilheira dos Andes (Equador) no período 2020-2022 refazendo a saga de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639). Atualmente é apresentador do programa Amazônia em Pauta no canal Amazon Sat.

*O conteúdo é responsabilidade do colunista

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