Garimpo na Amazônia: impactos e consequências para natureza e as populações tradicionais

O garimpo ilegal também está associado ao desmatamento, à degradação dos solos, à erosão dos rios e às mudanças climáticas.

A Amazônia é um dos maiores biomas do planeta, abrigando a maior floresta tropical do mundo e é considerada um grande armazém de biodiversidade. Ocorre que, ao longo dos últimos anos, a região tem sofrido com a escalada da exploração de recursos minerais, como o ouro, através da prática do garimpo ilegal. Esse tipo de atividade que se caracteriza pela busca e extração de minérios em áreas naturais, sem qualquer licenciamento ou autorização, tem atraído milhares de pessoas para a Amazônia, o que provocou uma crescente pressão sobre o meio ambiente da região, causando impacto profundo e devastador na floresta, porquanto as áreas de garimpo são geralmente abertas com o uso de máquinas e explosivos. Além disso, o garimpo também está associado ao desmatamento, à degradação dos solos, à erosão dos rios e às mudanças climáticas, ameaçando o modo de vida das populações tradicionais que dependem da floresta e dos rios para sua sobrevivência.

Lamentavelmente, em boa parte dos casos, os garimpeiros também estão associados à violência e ao tráfico de drogas, o que coloca ainda mais risco às populações tradicionais.

Deve-se considerar que, em alguns casos, os garimpeiros são usados pelo dono do capital que financiam a exploração ilegal. Uma grande parte deles são pessoas que não tiveram oportunidade em outros setores e são obrigados a atuar, mesmo que de forma ilegal e, o mais triste, em determinados casos, sem ter clareza de estarem praticando a ilegalidade. Por ocasião da Expedição que realizamos durante 21 meses navegando pelos rios da Amazônia, entrevistei garimpeiros que se revelaram plenamente convencidos de que explorar a natureza de qualquer forma para retirar o ouro era algo absolutamente normal. É de dar dó, mas isso revela falta de consciência e/ou ignorância.

Garimpo ilegal nas terras indígenas Yanomami em Roraima. Foto: Chico Batata/Greenpeace

Entendo que são necessários esforços e habilidade para abordar a questão do garimpo ilegal na Amazônia. Alguns anos atrás, o governo brasileiro criou áreas protegidas e monitoramento do uso de seus recursos naturais, embora sem os aparelhos necessários.

No Amapá temos o exemplo do Parque do Nacional do Tumucumaque, a maior área de floresta tropical preservada do planeta, constantemente ameaçada, sem que a gestão daquela UC tenha recursos, seja humanos, seja de equipamentos necessários para combater o garimpo ilegal.

Nos últimos quatro anos, essa atividade se expandiu com o aval do governo brasileiro, atingindo Unidades de Conservação e, especialmente as terras indígenas. Só para se ter uma ideia, no período de 2020-2021 registrou-se um aumento de 46% na atividade garimpeira, segundo estudos do ISA-Instituto Socioambiental em parceria com outras instituições que trabalham com os indígenas em terras Yanomamis. Esses dados revelam a face atroz de um sistema que financia esse tipo de ilícito. Mais cruel é que o impacto da invasão da região pelo garimpo ilegal atinge, principalmente, as mulheres indígenas, vítimas de abuso sexual, ameaça e reféns do terror causado pelos invasores.

A Amazônia é um ambiente único e fragilmente equilibrado, e a exploração ilegal do ouro e de outras pedras preciosas está ameaçando a biodiversidade e suas populações tradicionais.

É imperioso que os governos e as organizações continuem a trabalhar juntos para combater o garimpo ilegal na Amazônia, mas também entendo que é preciso se fazer um trabalho para aumentar a conscientização sobre os danos causados pelo garimpo; que as políticas sejam implementadas e que as populações tradicionais sejam apoiadas para garantirmos que a Amazônia seja conservada para, também, beneficiar as gerações futuras. 

Sobre o autor

Olímpio Guarany é jornalista, documentarista e professor universitário.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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