Urbanização altera qualidade da água do igarapé da Bolívia, em Manaus

A qualidade da água do igarapé da Bolívia, que tem sua nascente na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus, tem sido alterada devido as características da urbanização. Estas foram as conclusões do estudo “Hidrologia e hidroquímica em igarapés com origem em Reserva Florestal sob crescente pressão antrópica no seu entorno”, do químico e doutor em Engenharia Ambiental, Sávio José Filgueira Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Ainda de acordo com a pesquisa, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), na mesma reserva outros igarapés ainda têm suas nascentes preservadas e em condições naturais.

Na Reserva Florestal Adolpho Ducke as águas saem claras da nascente e vão adquirindo uma coloração mais escura (Foto:Divulgação/Fapeam)

Segundo o coordenador do estudo, o levantamento tinha a proposta de estudar os igarapés nas condições naturais, avaliar a passagem das águas por sítios e balneários na área urbana, para entender os processos de degradação dos recursos hídricos. O estudo buscou investigar que impactos as águas drenadas da reserva, que fazem parte da bacia do Tarumã, sofrem ao sair da reserva.

“Observamos que a medida que área urbana de Manaus vai aumentando, vários cursos da água são atingidos. Vários igarapés da cidade foram atingidos. Classicamente, conhecemos o problema do Mindu, que vem da zona leste e passa pelo Parque 10. O igarapé já foi muito utilizado pela sociedade e hoje não tem condições de uso. Quer dizer, aquilo que era um recurso para sociedade foi perdido”, disse o pesquisador.

Sávio informou que a partir do estudo foi possível comprovar que as águas de dentro da reserva ainda estão preservadas. À medida que as águas saem da reserva e passam por sítios e balneários elas mantêm suas características. No entanto,  a pesquisa indica que a urbanização impacta na qualidade da água. “Os resultados mostraram que quando há um adensamento da população, ou seja, as características de uma urbanização, aí sim, há um processo de degradação”, afirmou o pesquisador.

O pesquisador Sávio José Filgueira Ferreira comprovou que as características da urbanização altera a qualidade da água do igarapé da Bolívia (Foto:Divulgação/Fapeam)

De acordo com o pesquisador, durante dois anos o grupo de pesquisa, composto por pesquisadores do Inpa e universitários bolsistas de Iniciação Científica, ia a campo semanalmente coletar amostras de águas dos igarapés da reserva em locais distintos. A cada 15 dias os pesquisadores retornavam ao local e coletavam uma nova amostra para analisarem no laboratório de química ambiental do Inpa.

“O que observamos é que grande parte da reserva os recursos hídricos se encontram em condições naturais, ou seja, as águas nesses locais de terra firme são ácidas, tem baixo teor de nutrientes, de íons na água, são águas muito pobres. A exceção é o igarapé da Bolívia que recebe um afluente de outro igarapé que vem da parte urbana da cidade. Esse outro igarapé adentra a reserva e se encontra com o igarapé Bolívia. A partir do encontro o Bolívia já sai poluído de dentro da reserva”, explicou o químico.

Os resultados alcançados são de grande relevância e permitem auxiliar decisões políticas e ambientais, mas é preciso dar continuidade, conforme o pesquisador. O monitoramento desses recursos hídricos precisa ser constante.

“A cidade está cada vez mais pressionando a Reserva. A cidade tem um grande número de automóveis que causa poluição atmosférica, precisamos avaliar se está havendo modificações com o tempo. Também sabemos que há estudos que comprovam alterações climáticas, temos que estudar quais são as influências de tudo isso nos nossos recursos hídricos”, disse Sávio.

A pesquisa pretende avaliar a passagem das águas por sítios e balneários na área urbana e saber a degradação dos recursos hídricos (Foto:Divulgação/Fapeam)
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

IBGE divulga que Brasil tem mais de 8,5 mil localidades indígenas

Pesquisa indica que entre 2010 e 2022 a população indígena cresceu 88,9% e aponta desafios em temas como saneamento, coleta de lixo e educação.

Leia também

Publicidade