Você sabia que o único primata noturno das Américas é encontrado na Amazônia?

Do gênero Aotus, o macaco-coruja foi ‘batizado’ com esse nome devido a uma característica física semelhante a um animal de outra classe: a coruja.

Macaco-da-noite-de-pescoço-cinza (Aotus lemurinus) é uma espécie de primata noturno que ocorre na Amazônia. Foto: Reprodução/New England Primate Conservancy

Grande parte do grupo de mamíferos conhecidos como primatas (macacos, símios, lêmures e os seres humanos) são predominantemente diurnos, ou seja, realizam a maioria das suas atividades durante o dia para descansar pela noite. Contudo, existe um primata com hábito peculiar: o macaco-coruja.

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Com distribuição nas Américas, o que inclui a região amazônica, ele possui um padrão de vida natural onde a maioria de suas atividades, como caça, alimentação e reprodução, ocorrem durante o período noturno.

Referência à ave

Do gênero Aotus, o macaco-coruja foi “batizado” com esse nome devido a uma característica física semelhante a um animal de outra classe: a coruja, que também é um animal noturno que possui olhos grandes, permitindo-a capturar mais luz e melhorar a visão em condições de pouca luminosidade.

Assim como a ave, o estilo de vida do macaco-coruja permitiu o desenvolvimento de olhos grandes, adaptados à visão noturna.

Leia também: Conheça o curioso e amigável macaco-da-noite ou jupará

Ocorrência na Amazônia

Existem dois principais grupos de macaco-coruja: o de pescoço vermelho (Aotus azarae), que é encontrado no sul do Brasil, Paraguai e Argentina; e o de pescoço cinza (Aotus lemurinus) que vive na Amazônia brasileira, nos estados do Amazonas, Pará, Roraima e Amapá e, na Amazônia Internacional, no Peru, Guiana e Equador.

Outra espécie com ocorrência na Amazônia é o macaco-da-noite-de-três-listras (Aotus trivirgatus), encontrado em áreas de floresta próximas ao Rio Negro no Amazonas e também em Roraima e na Venezuela.

Eles fazem parte de um grupo de 10 espécies que integram o gênero Aotus

  • Aotus azarae: Macaco-da-noite-de-pescoço-vermelho
  • Aotus lemurinus: Macaco-da-noite-de-pescoço-cinza
  • Aotus trivirgatus: Macaco-da-noite-de-três-listras, ocorre ao norte e leste do rio Negro
  • Aotus zonalis: Macaco-da-noite panamenho
  • Aotus griseimembra: Macaco-da-noite-de-mãos-cinzentas
  • Aotus jorgehernandezi: Macaco noturno de Hernández-Camacho
  • Aotus brumbacki: Macaco noturno de Brumback
  • Aotus vociferans: Macaco noturno de Spix
  • Aotus miconax: Macaco-da-noite-dos-andes
  • Aotus nigriceps: Macaco-da-noite-de-cabeça-preta
  • Aotus infulatus: Macaco-da-noite (taxonomia controversa)

Uma curiosidade sobre os Aotus é que eles são recomendados para estudos experimentais em malária, visto que podem ser infectados por plasmódios humanos. Pesquisas desse tipo ocorrem, por exemplo, no Laboratório de Pesquisa em Malária (LabMal) da Fundação Oswaldo Cruz em uma parceria com o Centro Nacional de Primatas (CENP) do Instituto Evandro Chagas.

Aotus lemurinus na Colômbia. Foto: Esteban Villa Restrepo CC BY-SA 4.0

Leia também: Conheça espécies de macacos que só são encontradas na Amazônia

Monogâmico e bom pai?

Uma das principais características do macaco-coruja, além do ineditismo de ser um animal noturno é que eles são monogâmicos e só se reproduzem entre pares estabelecidos, de acordo com estudos reunidos em publicação do especialista em antropologia biológica Eduardo Fernandez-Duque, da Yale University, em Connecticut, nos Estados Unidos. 

A maioria dos grupos vive em pares ou pequenos grupos familiares, com machos e fêmeas estabelecendo relacionamentos duradouros e fortes. Também são considerados um dos melhores pais do mundo animal, com forte vínculos com suas crias, segundo Eduardo Fernandez-Duque.

Machos e fêmeas da espécie têm tamanho e peso parecidos: altura varia entre 34 e 41 centímetros e peso entre 450 gramas e 1,2 kg. Alimentam-se de insetos, sementes, frutas, flores, ovos de pássaros e, ocasionalmente e pequenos pássaros.

Quando solto na natureza, o macaco-coruja tem expectativa de vida de 11 anos. O número sobe para 20 anos se ele estiver em cativeiro.

De acordo com dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), de 2017, a espécie se encontrava classificada como ‘Quase Ameaçada’, por conta de ameaças como atividades agrícolas, pecuária, desmatamento, etc.

Além da América do Sul

Apesar de ser o único gênero de primata noturno no continente americano, existem outros gêneros de primatas com a mesma característica e modo de vida. Na África, por exemplo, existem quatro gêneros de mamíferos noturnos. São eles:

Gênero Galago (gálagos ou “bush babies”)

  • Galago senegalensis (gálago-do-senegal)
  • Galago moholi (gálago-mohol)
  • Galagoides demidoff (gálago-anão)

Gênero Perodicticus (potós)

  • Perodicticus potto (potó-comum)

Gênero Arctocebus (potós-dourados)

  • Arctocebus calabarensis (potó-dourado)
  • Arctocebus aureus (potó-aureado)

Gênero Loris (loris-esbeltos)

  • Loris tardigradus (loris-vermelho)
  • Loris lydekkerianus (loris-de-lydekker)

As principais características consistem no fato de serem ativos exclusivamente à noite, possuem dieta composta por goma, frutos e insetos. Algumas espécies possuem glândulas que produzem toxinas e, possuem movimentos furtivos para evitar predadores.

Existe também o aie-aie ou aye-aye, um primata estrepsirrino endêmico de Madagascar. É o único representante vivo da família Daubentoniidae, sendo noturno e arborícola.

Já no continente asiático, existem dois gêneros, um na Ásia Central e outro no sudeste asiático, respectivamente.

Gênero Nycticebus (loris-lentos)

  • Nycticebus coucang (loris-lento-comum)
  • Nycticebus pygmaeus (loris-pigmeu)
  • Nycticebus javanicus (loris-de-java)

Gênero Tarsius (tarsios)

  • Tarsius tarsier (társio-das-ilhas-sula)
  • Tarsius bancanus (társio-de-bangka)
  • Carlito syrichta (társio-filipino)

Estes se alimentam de pequenos vertebrados e artrópodes, são saltadores ágeis e, além das características citadas anteriormente, são capazes de produzir veneno através das brânquias.

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