Atividades turísticas desordenadas ameaçam litoral paraense

A erosão costeira, a poluição das águas, a destruição de hábitats e a perda de biodiversidade estão entre os principais impactos observados no litoral paraense.

Fotos: Pedro Guerreiro/Agência Pará

Nas águas do litoral paraense, onde o rio encontra o mar, há uma dança entre a preservação ambiental e a presença humana. Um compasso que se vê ameaçado com o avanço do turismo, que, se desordenado, pode transformar o paraíso em um cenário de degradação ambiental e conflitos sociais.

Com o objetivo de avaliar a contribuição das Unidades de Conservação para a gestão sustentável do turismo de sol e mar em praias do litoral paraense e entender qual o retorno social das atividades realizadas na região, Rubem Pessoa desenvolveu a pesquisa ‘A Importância das Unidades de Conservação na Qualidade Ambiental e Gestão Sustentável do Turismo no Litoral Amazônico, Pará, Brasil‘.

O estudo foi orientado pela professora Luci Cajueiro Carneiro Pereira e defendido no Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental, do Instituto de Estudos Costeiros do Campus de Bragança.

Apesar de ser uma forma de gerar renda na região das praias da Princesa (Ilha de Algodoal), de Ajuruteua (Bragança) e do Pesqueiro (Soure), quando realizadas de maneira desordenada, as atividades turísticas podem gerar mudanças no ambiente natural, as quais podem resultar em impactos irreversíveis dentro das comunidades receptoras, especialmente em áreas litorâneas.

Os planos de gestão, justifica o pesquisador, são necessários para garantir um equilíbrio sustentável entre o desenvolvimento econômico e a conservação do meio ambiente. Tais instrumentos englobam desde a regulamentação do uso do solo e da água até a promoção de práticas de turismo responsável, visando proteger as paisagens e os ecossistemas do litoral paraense para as gerações presentes e futuras.

Falta de planejamento gera desafios ambientais e sociais

A erosão costeira, a poluição das águas, a destruição de hábitats e a perda de biodiversidade estão entre os principais impactos observados no litoral paraense, fruto do turismo desordenado, e apresentados na pesquisa. De acordo com Rubem, as atividades turísticas feitas de forma não planejada tendem a provocar impactos negativos, capazes de gerar desequilíbrio no ambiente natural e nas próprias comunidades receptoras do turismo.

A praia de Ajuruteua, uma das citadas na tese, possui uma ocupação desordenada da região praial, inserida no ambiente de manguezais, com hotéis e residências que não seguem um plano de ocupação com foco nas características do local e na preservação do meio ambiente.

Impactos negativos afetam não apenas os moradores do entorno das praias, mas também a natureza e os turistas que visitam o lugar periodicamente. Os níveis de contaminação fecal na praia de Ajuruteua ocorriam principalmente durante o período de maré enchente, em virtude do lançamento direto de dejetos na praia, muitas vezes abaixo das pousadas, ou da presença de fossas irregulares dentro da zona de dunas, comprometendo a qualidade da água e a saúde dos banhistas. Essa situação não ocorre em Pesqueiro, principalmente em razão da gestão adequada, realizada pela Resex Marinha de Soure e pela comunidade.

O investimento insuficiente, a infraestrutura deficitária e a escassez de serviços básicos, aliados à presença de lixo, impactam tanto a comunidade quanto o turismo nas praias mencionadas.

Ações de proteção e gestão devem envolver comunidades

Ao estabelecer áreas protegidas, promover práticas de turismo responsável e envolver as comunidades locais na tomada de decisões, as Unidades de Conservação são aliadas importantes na proteção e gestão sustentável do litoral paraense.

O estudo de Rubem Pessoa destaca a necessidade de fortalecer essas áreas protegidas, garantindo que cumpram efetivamente sua missão de conservação e desenvolvimento sustentável.

Além disso, a comunidade local também pode se envolver no processo de gestão das praias para garantir um ambiente mais seguro e sustentável para os frequentadores.

“Todos os atores envolvidos ali precisam ser ouvidos, ser considerados em suas opiniões, em seus requerimentos em relação aos serviços, propostas e melhorias. Uma gestão participativa é integrar os órgãos políticos, de execução, de atuação seja do poder público ou privado, mas também ouvindo a comunidade local, porque é a que mais vai ser afetada pelas atividades turísticas. Esse é o caminho e o mecanismo para desenvolver uma atividade turística sustentável, com ganhos econômicos, com ganhos ecológicos e com qualidade social”, conclui.

Sobre a pesquisa

A tese ‘A Importância das Unidades de Conservação na Qualidade Ambiental e Gestão Sustentável do Turismo no Litoral Amazônico, Pará, Brasil‘ foi defendida por Rubem Manoel Coelho Pessoa, em 2020, no Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental (PPBA/IECOS), da Universidade Federal do Pará. A pesquisa teve a orientação da professora Luci Cajueiro Carneiro Pereira.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, edição 172, da UFPA, escrito por Evelyn Ludovina

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