Sigatoka-negra: uma das principais ameaças à bananicultura na Amazônia

O primeiro registro oficial da sigatoka-negra no Amazonas ocorreu em 2001, quando produtores começaram a relatar manchas escuras nas folhas das bananeiras e até a drástica na produção.

A sigatoka-negra é uma doença que afeta inclusive a produção, reduzindo-a drasticamente. Foto: Reprodução/Embrapa

A sigatoka-negra, uma das doenças mais severas que atingem plantações de banana, tem causado impactos significativos na produção agrícola do Amazonas desde sua introdução na região. Causada pelo fungo Pseudocercospora fijiensis, a doença representa uma das principais ameaças à bananicultura mundial e chegou ao território amazonense no início dos anos 2000, provocando perdas econômicas expressivas para pequenos e médios produtores locais.

No Amazonas, a cultura da banana possui importância econômica e social, especialmente em municípios como Manacapuru, Iranduba, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo e Manaquiri, locais em que é uma das principais fontes de renda agrícola. Antes da chegada da Sigatoka-negra, o Estado figurava entre os maiores produtores da Região Norte, com destaque para a banana tipo pacovã, muito consumida em toda a região.

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O primeiro registro oficial da doença no Amazonas ocorreu em 2001, quando produtores começaram a relatar manchas escuras nas folhas das bananeiras, seguidas de rápida necrose foliar e diminuição drástica na produção.

A confirmação da presença da sigatoka-negra gerou uma série de medidas de contenção e monitoramento por parte da Secretaria de Produção Rural (Sepror), da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O agrônomo e pesquisador na Embrapa, Luadir Gasparotto, fez parte da expedição que identificou a chegada da doença nos bananais em 2001. Segundo Gasparotto, a doença compromete diretamente a fotossíntese da planta ao atacar as folhas, reduzindo a capacidade de produção de cachos e afetando o desenvolvimento dos frutos.

“Com o avanço da infecção, muitos produtores viram suas lavouras serem dizimadas. Em áreas onde a doença não foi rapidamente controlada, os prejuízos chegaram a 100% da produção”, destacou em entrevista ao canal Amazon Sat.

Confira a entrevista:

A dispersão da sigatoka-negra no Amazonas ocorreu de forma acelerada por conta das condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do fungo — alta umidade, temperaturas elevadas e chuvas constantes — comuns em praticamente todo o Estado. A movimentação de mudas contaminadas também contribuiu para a propagação da doença entre municípios e comunidades rurais.

Com o agravamento da situação, o Governo do Amazonas, em parceria com instituições federais e universidades, desenvolveu ações emergenciais de contenção, como o controle químico com fungicidas, a erradicação de plantas contaminadas e a capacitação de agricultores para práticas de manejo integrado. A introdução de variedades mais resistentes ao fungo também passou a ser incentivada por meio de programas de assistência técnica.

Alternativas contra sigatoka-negra

A Embrapa desenvolveu, por exemplo, cultivares como a BRS Platina e a BRS Conquista, bananeiras mais tolerantes à sigatoka-negra e adaptadas ao clima amazônico. Apesar disso, a adesão às novas variedades ainda encontra resistência entre produtores, sobretudo pela preferência do mercado local pela tradicional banana pacovã, que é altamente suscetível à doença, destacou Gasparotto.

De acordo com relatórios da Sepror, nos anos posteriores à introdução da sigatoka-negra, houve redução significativa na área plantada com banana no Amazonas. Em muitos casos, produtores abandonaram a cultura ou migraram para outras lavouras. A cadeia produtiva da banana, que envolvia desde o cultivo até o transporte fluvial e a comercialização em feiras e mercados da capital, também sofreu retração.

Leia também: Produção de banana na Amazônia é impulsionada por técnica de controle da Sigatoka-negra

Bananas são afetadas pela sigatoka-negra e produção é prejudicada no Amazonas. Estudos e pesquisas são realizados para controle da doença. Foto: Reprodução/IDAM

Além dos impactos econômicos, a crise causada pela Sigatoka-negra afetou a segurança alimentar em comunidades do interior, onde a banana é um dos principais itens da dieta diária. Muitas famílias dependiam exclusivamente do cultivo para subsistência, e a perda da produção agravou as dificuldades enfrentadas nessas localidades.

Produção de bananas no Amazonas

Atualmente, o combate à doença continua sendo um desafio constante para os agricultores e para os órgãos de assistência rural. Técnicas como a rotação de culturas, o espaçamento adequado entre plantas, a adubação equilibrada e o monitoramento frequente das lavouras são recomendadas para minimizar os danos e reduzir a pressão do fungo nas plantações. Esses trabalhos vem sendo monitorados por diversos órgãos, como a Sepror e a Embrapa, no Amazonas.

De acordo com o gerente de Produção Vegetal do Idam, Luiz Herval, o Amazonas foi prejudicado pelos problemas gerados pela sigatoka-negra desde a sua detecção. “O Amazonas não é autosuficiente em produção de banana. Saímos de uma produção em 2001 de cerca de 30 mil hectares e estamos hoje em torno de 8 mil e 600 hectares”, afirmou.

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