Número recorde: Mato Grosso, Pará e Amazonas tem áreas de matas mais impactadas pelo fogo em 2024

Município de São Félix do Xingu, no Pará, foi o que registrou o maior número de focos no País: 3.846 queimadas em áreas de mata.

Focos de queimadas no parque indígena do Xingu, Pará. Foto: Reprodução/Google Earth

Mapeamento feito pela Embrapa das áreas impactadas pelas queimadas durante o período de seca no Brasil em 2024 revela que os principais focos ocorreram em áreas de formação florestal, principalmente na Amazônia e no Pantanal matogrossense.

Durante a estiagem de 2023, foram registrados cerca de 90 mil focos de calor no País. Em 2024, esse número foi superior a 200 mil entre os meses de maio até o fim de setembro, com forte intensificação da incidência de queimadas em agosto, segundo o pesquisador (Figura 4).

Figura 4

“Identificados pelo sensor Modis, embarcado nos satélites Aqua e Terra, seis municípios brasileiros tiveram mais de 5 mil focos de calor, dentro e fora de áreas de matas”, informa Guimarães. São eles: São Félix do Xingu (PA), com 7.657 focos de queimadas; Altamira (PA), com 6.687 focos no mesmo período; Apuí (AM), com 5.906 focos; Corumbá (MS), totalizando 5.860 registros; Novo Progresso (PA), com 5.498 queimadas; e Lábrea (AM), chegando a 5.205 focos (Figura 3). As imagens do sensor Modis, de Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, são analisadas pelo Programa Earth Science Data Systems (ESDS) da agência espacial norte-americana (Nasa) e distribuídas em diferentes formatos em seu site. “Os pontos com cores quentes vistos nas imagens são as queimadas”, explica o cientista da Embrapa.

Figura 3

Na visão de Guimarães, o cenário de forte estiagem visto em 2024, em que as queimadas atingiram com maior intensidade as áreas com formação florestal no Brasil, apresenta peculiaridades e desafios para a recuperação desses biomas.

Impacto na agricultura

As áreas agrícolas também foram muito afetadas, e os canaviais os mais impactados, com a ocorrência de mais de quatro mil focos de queimadas em 2024 (Figura 5) – em 2023, foram registrados 650 focos, segundo o pesquisador. “Veremos perdas tanto pela ação do fogo quanto pela queda de produtividade causada pelo estresse hídrico”, apresenta. Segundo Guimarães, a forte estiagem terá impactos na próxima safra.

“As áreas de cultivo de soja se encontravam em época de pousio e as perdas estão relacionadas com a queima da matéria orgânica e da cobertura do solo. Já as lavouras de café tiveram baixa incidência de queimadas, mas terão forte impacto devido à deficiência de água na zona radicular. Condição similar ocorre nas áreas de fruticultura”, relata Guimarães.

Figura 5

Eventos extremos

A chegada do período chuvoso em grande parte do País na segunda semana de outubro marcou o fim da estiagem que causou a maior incidência de queimadas no Brasil, com enormes prejuízos econômicos e danos ambientais incalculáveis. De acordo com Guimarães, a intensidade das estiagens está sendo avaliada com base na extensão do período sem chuvas e na atuação do fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enso).

“Isso conduz a erros de interpretações e atrasos na tomada de ações para mitigar os danos causados pela seca, como verificado nessa última estação de estiagem. As chuvas ocorridas nas regiões Sudeste e Nordeste ficaram próximas das normais climatológicas; na Região Sul foram maiores que as médias históricas; já na Região Norte ficaram abaixo da média. Essas variações sazonais e a condição de neutralidade da temperatura do Pacífico desde o início de maio não serviram de alerta para a tragédia que se avizinhava”, explica Guimarães (Figura 1).

Figura 1

Segundo o pesquisador, a forte estiagem foi ocasionada pela perda de água dos solos em razão das altas temperaturas, dos baixíssimos índices de umidade relativa do ar e da ação dos ventos, causando uma estação de inverno atípica, com secagem precoce das gramíneas e uma perda excessiva de folhagem nas áreas florestais.

Figura 2

Medidas de prevenção

Daniel Guimarães comenta que os eventos climáticos extremos estão cada vez mais frequentes, com catástrofes causadas pelas chuvas como as ocorridas na Região Sul do País, e as estiagens, que atingiram áreas enormes. “Porém, nossas bases de informações, principalmente as obtidas a partir de sensores orbitais, são suficientes para o monitoramento em tempo real e para orientar as tomadas de decisões mais assertivas”, diz.

O pesquisador reforça que as condições de umidade dos solos e os níveis de estresse da vegetação permitem que ações sejam tomadas, como campanhas educativas, proibição do uso de queimadas e ações de fiscalização, com pelo menos dois meses antes do período crítico. “A mitigação desse problema nacional depende do monitoramento e da previsão das condições climáticas, da análise da geolocalização dos focos de incêndios em tempo real em integração com as bases de relevo, uso do solo e Cadastro Ambiental Rural (CAR), além da fiscalização das áreas de risco com o apoio de sensores remotos”, conclui.

*Com informações da Embrapa

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