Foto: Marcelo Dutra/Rede Amazônica
A expressão ‘racismo ambiental’ descreve como, diante de eventos climáticos extremos, as populações negras, indígenas, quilombolas e moradores de áreas periféricas são, quase sempre, as mais atingidas. Formulado pelo químico e líder do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, Benjamin Franklin Chaves Jr., o termo surgiu nos anos 1980, durante protestos contra a instalação de depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, região habitada majoritariamente por pessoas negras.
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Benjamin Chaves denunciava que as comunidades racializadas e vulneráveis são expostas a riscos ambientais maiores que os grupos privilegiados.

De acordo com a Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, no Brasil, a realidade é de que as pessoas negras e pobres que vivem em favelas e áreas de risco são as mais afetadas por deslizamentos, enchentes, desabamentos e falta de acesso a serviços básicos como água potável, saneamento e coleta de lixo.
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De acordo com o Doutor em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Deivison Molinari, o racismo ambiental é formado por dois eixos:
- A discriminação contra determinados grupos sociais, como negros, indígenas, quilombolas e populações pobres.
- Os impactos desproporcionais sofridos por essas populações quando ocorrem desastres ambientais.

Molinari explica que, quando uma tragédia acontece, muitas vezes a sociedade em geral faz com que as vítimas sejam acusadas com frases como: ‘Por que você mora nesse barranco?’, ‘Por que vive em área de alagamento?’, ‘Por que você está aí, sabendo que isso pode acontecer e sua família ser atingida?’, ignorando que essas populações em situação de vulnerabilidade não se encontram em áreas de risco por escolha própria.
“No passado, houve uma situação muito conhecida com o ex-prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, em que aconteceu um desastre em uma ocupação chamada Santa Marta, ali para a região da Torquato Tapajós, ali na Zona Norte, e ele foi no local e a pessoa, conversando com o prefeito, falou para ela sair de lá, mas ela falou que não tinha para onde sair. Ele falou, então morra”, explicou Molinari.
De acordo com o professor, o conceito de racismo ambiental revela uma segregação sócio espacial, em que determinados grupos sociais, como negros, indígenas, quilombolas e populações pobres são obrigados a viver nas margens de igarapés e encostas sujeitas a deslizamentos, enquanto os que têm melhores condições podem morar em áreas seguras e estruturadas.

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A ausência de infraestrutura urbana adequada agrava doenças, aumenta o risco de contaminação e da vulnerabilidade diante das mudanças climáticas, já que quando chove forte são essas áreas que alagam, cedem e desmoronam primeiro. Além disso, quando o saneamento básico está em falta, são essas famílias que adoecem.
Como combater o racismo ambiental ?
De acordo com a secretaria de comunicação social, enfrentar o racismo ambiental exigem ações necessárias de políticas públicas como:
- A criação de políticas públicas que levem em conta as desigualdades sociais e econômicas
- A garantia do direito à participação das comunidades afetadas na tomada de decisão
- A promoção da educação ambiental
- A valorização do conhecimento tradicional das comunidades.
Em 2023, o Governo Federal criou o Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra e Enfrentamento ao Racismo Ambiental, parceria do Ministério da Igualdade Racial com o Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa busca propor medidas focadas na população da Amazônia Legal, garantindo protagonismo aos povos tradicionais e comunidades quilombolas.
*Portal Amazônia, com informações da Secretária de Comunicação Social.
