Mateiros nas expedições científicas. Foto: José Mederios/Arquivo/Revista O Cruzeiro, 1951
O contato do ser humano com a floresta precisa ser mantido e equilibrado. E esse é um dos papeis dos mateiros, pessoas que conhecem o comportamento da natureza desde a infância.
Eles são verdadeiros profissionais da floresta, formados pelo conhecimento geracional, que sabem reconhecer rastros, identificar espécies dentro da mata, compreender os ciclos da natureza e navegar por territórios desconhecidos com a sabedoria ancestral.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
De acordo com o projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, os mateiros são pessoas que conhecem a floresta como ninguém. A maioria dessas pessoas são de povos originários, como os indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que adquiriram suas habilidades por meio dos ensinamentos de seus ancestrais.

Mateiros: os guias da floresta
Os mateiros sabem interpretar os sinais da mata, prever mudanças climáticas, encontrar água e alimentos e produzem medicação natural através dos recursos da floresta. Guiam turistas, cientistas em expedições pela natureza, além de serem fundamentais para ações de conservação ambiental.
Nas expedições da época de colonização no Brasil, de acordo com o artigo ‘Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX‘, de Sandro Dutra, esses indivíduos exerciam múltiplas funções nessas viagens científicas.
Leia também: Conheça 9 guardiões que defendem a Amazônia todos os dias
Atuavam como guias nas selvas brasileiras, mas também exercendo funções que exigiam tanto esforço físico quanto habilidades aprendidas no roteiro expedicionário, como coletar espécimes, auxiliar na localização de recursos naturais e transmitir seus conhecimentos sobre os ecossistemas locais.
No trabalho de coleta e observação dos naturalistas, contribuíam de maneira prática para o avanço do conhecimento científico, especialmente nas áreas da botânica, da zoologia e da geografia.
No artigo, Sandro explica que, nas plantações de cacau no sul da Bahia, no período colonial, o mateiro também é descrito como “contratista”, que consistia em um tipo de relação de trabalho acordado no qual o contratado deveria derrubar e queimar as áreas de mata, podendo usufruir da terra para o plantio de roça de subsistência.
“Os mateiros são agentes históricos associados à concepção de frente de expansão ou de fronteira que avança sobre os recursos naturais disponíveis no território brasileiro, de forma distinta tanto histórica quanto ecologicamente”, afirma Sandro no artigo.
O mateiro também era considerado como um sertanista, isto é, um explorador dos sertões e das matas brasileiras.

Reconhecimento dos saberes dos mateiros para a ciência
Apesar de carregarem tamanha sabedoria, esses conhecimentos não eram valorizados. Mas, cientistas, pesquisadores e acadêmicos começaram a reconhecer o ensino dos mateiros para a ciência.
No projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, há relatos de mateiros que participam da ciência acadêmica.
Entre eles, Edilson Consuello de Oliveira, que vive no Acre e colaborou com instituições como o The New York Botanical Garden e a Universidade Federal do Acre (UFAC).
Ele enfatiza que seu saber geracional auxilia cientistas a identificarem novas espécies e a compreenderem melhor o comportamento da mata.
“A nossa floresta é uma farmácia completa e uma biblioteca para quem a quer estudar”, disse o mateiro para o Museu da pessoa.
*Com informações do Museu da Pessoa e do artigo “Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX”, de Sandro Dutra
