Projeto promove educação ambiental e engajamento de ribeirinhos na conservação da floresta no Amazonas

Projeto contribui para a redução do desmatamento em comunidades ribeirinhas através de oficinas e capacitações sobre conservação ambiental, empreendedorismo e educação no campo

Promover educação ambiental, estimular o engajamento local e contribuir para a melhoria das condições de vida ribeirinha são ações fundamentais para o alcance do desenvolvimento sustentável na Amazônia. No coração da floresta, ao longo de cinco Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas, histórias de empoderamento, resistência e luta em prol da conservação começam a se multiplicar como resultado de um trabalho estratégico desenvolvido por meio do Projeto Amazonas Sustentável, uma parceria entre a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e a Petrobras.

A iniciativa abrange ações direcionadas para a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e para a redução de emissões por desmatamento e degradação florestal em comunidades ribeirinhas remotas, situadas nas bacias sedimentares dos rios Solimões e Amazonas. 

Foto: Bruno Kelly

Foi através de uma das oficinas do projeto – realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari, a 811 quilômetros em linha reta de Manaus – que o jovem ribeirinho Natanael Gondim, 21, aprendeu questões relacionadas à conservação da mata, uso do solo e como contribuir no dia a dia para o monitoramento de desmatamento e focos de calor na floresta.

A motivação para participar do curso veio da vontade de ajudar a preservar a área onde nasceu e cresceu, a comunidade Bauana, que tem na produção de farinha sua principal fonte de renda. “Vários comunitários trabalham apenas com a farinha e isso exige derrubada e queimada. Aprendemos a nos conscientizar e conscientizar os moradores de que existe uma forma de continuar trabalhando com o plantio de mandioca, mas sem queimar tanto ou derrubar mais do que já tem derrubado. E isso me incentivou, porque a minha comunidade é uma das mais produtivas e no mapa ela aparecia como uma das que tinham mais queimadas”, conta.

Para a estudante Verônica Praia, 16, moradora da Comunidade Punã, localizada no entorno da RDS Mamirauá, a 600 quilômetros da capital, o projeto ensinou não só a relevância de proteger a área onde vive, mas também do engajamento comunitário para manter a floresta em pé. “A gente tem que cuidar do que é nosso. É nosso e de mais ninguém. Ninguém pode tomar da gente”, destaca.

Verônica está envolvida nas ações do componente Biodiversidade do Projeto Amazonas Sustentável. A estudante participou de três dias de formação e mobilização das jovens lideranças locais para conter o desmatamento. “O objetivo era que a gente se aprofundasse mais na natureza, cuidasse mais, porque conhecemos diversas plantas que hoje são raras, que não achamos mais. Aquilo nos incentivou a cuidar mais da natureza, pois o que a gente tem, nem todo mundo tem”, relata. 

Foto: Veronica Praia

Além da capacitação, a jovem atuou na aplicação de questionários e está empenhada no monitoramento participativo de sua comunidade, uma ferramenta de apoio à gestão do uso dos recursos naturais e conservação da biodiversidade. “Tiramos um dia por mês para verificar se as pessoas estão fazendo o que informaram no questionário. Por exemplo, perguntamos qual o lixo que era mais gerado em casa e o que elas faziam com ele. Muitos responderam que queimavam, outros falaram que faziam aterros. Então, neste dia do mês, verificamos como está essa situação”, explica.

Formando professores para a educação no campo

Na comunidade São João do Lago do Jenipapo, no município de Coari, distante 363 quilômetros da capital, o professor Alvanir Oliveira, 40, trabalha sem energia elétrica, mas com muita vontade de transformar a vida dos alunos. São quase 20 anos dedicados à educação ribeirinha – uma trajetória cheia de desafios e potencialidades que só a floresta pode oferecer.

A turma de Alvanir, na Escola Municipal João Rocha Linhares, reúne 16 crianças do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental. Essa realidade se repete em diversas escolas da zona rural, onde a baixa densidade populacional, a carência de professores e as dificuldades de locomoção e infraestrutura exigem a criação de classes multisseriadas.

Foi para aprender metodologias que ajudassem a atender a diversidade dessas turmas que o docente decidiu participar das oficinas de formação de professores para o ensino multisseriado, promovidas através do Projeto Amazonas Sustentável.

“Eu tive que me aprimorar, buscar mais conhecimento, métodos para aplicar em sala de aula. Aprendi como utilizar os recursos da própria natureza para ensinar e incentivar os alunos a preservar o local onde vivem”, afirma.

Junto com Alvanir, cerca de 200 professores da rede pública de ensino de Coari, Tefé, Maraã e Uarini, no interior do Amazonas, vêm participando da formação, que acontece duas vezes ao ano em cada município. Entre eles, está Joel Matias, 33, professor da Escola Municipal Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que atende os jovens ribeirinhos da Comunidade Feliciana, localizada no município de Tefé, a 523 quilômetros de Manaus.

Matias leciona a disciplina de Português para cerca de 100 alunos, divididos em duas turmas multisseriadas: uma pela manhã, com estudantes do quarto e quinto ano, e outra no turno vespertino, com alunos do sexto ao nono ano. O professor destaca que as oficinas realizadas pela FAS ajudaram na inserção de temas regionais em sala de aula, “conversando” com elementos e valores da cultura amazônica.

“É maravilhoso quando você consegue fazer um bom trabalho e quando você tem apoio. Porque não adianta só o professor ser formado e ficar lá. Tem que ter esses programas para que o professor possa se qualificar, trazendo ideias novas e levando para os alunos”, ressalta. 

Foto: Bruno Kelly

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