Preguiça-de-três-dedos é um mamífero lento, porém fundamental para a natureza

A preguiça possui um papel essencial na manutenção do equilíbrio ecológico, como a dispersão de sementes, ajudando na regeneração da floresta.

Preguiça-de-três-dedos. Foto: Reprodução/123 ecos


As espécies de preguiças-de-três-dedos pertencem à família Bradypodidae, sendo mamíferos de pelo denso, primariamente arborícolas e de comportamento singular. Atualmente, existem cinco espécies, todas pertencentes ao gênero Bradypus, distribuídas na América Central e América do Sul, com distribuição ampla no Brasil, especialmente na Mata Atlântica e na região amazônica.

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Uma das espécies mais raras é a Bradypus pygmaeus, ou preguiça-pigmeu. Considerada a menor das espécies, ela ocorre exclusivamente em uma pequena ilha marinha no Panamá, sendo considerada criticamente ameaçada de extinção.

No Brasil, quatro espécies diferentes habitam diferentes biomas. A mais amplamente distribuída é a Bradypus variegatus, conhecida como preguiça-de-garganta-marrom ou preguiça-marmota, que ocorre em grande parte do território brasileiro, estendendo-se até a América Central.

A espécie encontrada nos arredores de Manaus é a Bradypus tridactylus, conhecida popularmente como preguiça-de-garganta-amarela ou preguiça-de-bentinho. Sendo que o próprio nome científico dessa espécie indica que ela possui três dedos.

“Essa espécie ainda vive relativamente bem na capital amazonense, em fragmentos florestais urbanos, inclusive dentro do campus da UFAM. Mas é muito sensível a alterações ambientais e climáticas”, explica o biólogo coordenador do Laboratório de Manejo de Faunas do ICB/UFAM, Ronis Da Silveira, ao Portal Amazônia.

Foto: Eduardo Gomes/Acervo INPA

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Alimentação e comportamento da espécie 

As preguiças têm hábitos bastante peculiares, já que são mamíferos de metabolismo extremamente lento e que passam mais de 90% do tempo imóveis na vegetação. Além disso, elas inclusive precisam se aquecer sol, o que não é comum entre os mamíferos.

“Todas essas espécies são mamíferos exclusivamente arborícolas, mas não quer dizer que elas não se desloquem no chão. Sim, quando querem ir de uma árvore para outra, e as copas não se comunicam, elas descem, se “arrastam” e sobem novamente mas, ela é adaptada para viver nas alturas”, afirma Ronis Da Silveira.

preguiças
Foto: Reprodução/MUSA

A espécie é folívora, ou seja, possui o hábito alimentar de comer folhas. Nasce apenas um filhote por gravidez, e a mãe o ensina quais folhas são seguras para consumo. Essa transmissão de conhecimento é crucial para a sobrevivência do filhote nos primeiros meses de vida.

Sua dieta é composta principalmente por folhas, como da embaúba e várias outras espécies de árvores.

De acordo com Da Silveira, a espécie desce até a base do tronco das árvores semanalmente para defecar no solo da floresta, um comportamento típico das preguiças-de-três-dedos que resulta em relações ecológicas singulares com várias espécies de mariposas adaptadas para viver na sua pelagem e, utilizam as suas fezes para a deposição de seus ovos.

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Ameaças à sobrevivência

O principal risco enfrentado por essas espécies é o deflorestamento, que elimina árvores essenciais tanto para abrigo quanto para alimentação. Além disso, atropelamentos, choques elétricos e o uso indevido para selfies no turismo ilegal agravam a situação.

“Essa espécie ainda é bem comum em Manaus, vivendo nos fragmentos florestais urbanos. Na UFAM ocorrem dezenas, talvez mais, e como eu disse, quando necessário elas descem de uma árvore na busca de outra para subir. No entanto, muitas vezes tem uma via pública no meio do caminho, resultando em atropelamentos frequentes, às vezes até com filhote”, conta o biólogo.

Os indivíduos feridos são levados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do IBAMA/AM, onde recebem cuidado especializado.

Importância para a natureza

A espécie possui papel relevante na manutenção do equilíbrio ecológico, funcionando como presas para diversas espécies de carnívoros e a sua pelagem como abrigo de algas e insetos que colaboram na ciclagem de nutrientes no solo.

Além disso, a espécie ajuda na indicação da qualidade ambiental, já que sua presença sugere a presença da vegetação ainda relativamente intacta.

bicho preguiça
Foto: NTCO/Getty Images

Preservação da espécie

Mesmo vivendo em meio urbano, como nos fragmentos de floresta em Manaus, as preguiças ainda encontram dificuldades para sobreviver, por isso a manutenção desses ambientes e o combate ao turismo ilegal de interação com a fauna silvestre são fundamentais.

“Elas são extremamente adaptadas ao ambiente arbóreo e qualquer alteração, como a queda de árvores ou incêndio, pode ter consequências fatais”, alerta Da Silveira.

Ao encontrar uma preguiça em risco iminente ou machucada, o ideal é não pegar o o indivíduo. Geralmente a atitude correta é acionar os órgãos responsáveis.

Em Manaus, o Resgate de Fauna Silvestre é realizado pela equipe da Gerência de Fauna do IPAAM, pelo WhatsApp/telefone (92) 98438-7964, ou ainda a Polícia Ambiental ou o Corpo de Bombeiros. Mas, não contate essas instituições simultaneamente.

“Dessa forma, todos podem contribuir com a manutenção da preguiça-de-bentinho, essa graciosa espécie da fauna nativa amazônica”, destaca o especialista.

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

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