Em 16 anos, quase metade da área sobre a qual as plantações avançaram era mata primária.
Concentradas no Pará, as plantações de dendezeiros (Elaeis guineensis) não cumpriram a meta proposta pelos planos governamentais há cerca de 10 anos de reduzir a área ocupada por terras degradadas e permitir a recuperação das cobertas por vegetação nativa na Amazônia.
Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) chegaram a essas constatações, publicadas em julho na revista Biological Conservation, e verificaram que os dendezeiros causam mudanças drásticas na paisagem. Eles examinaram as formas na ocupação de uma bacia hidrográfica de 765,65 quilômetros quadrados (km2) na região de Tomé-Açu, no leste paraense, por meio de imagens do satélite Landsat de 2002 a 2018.
Nesse período, a área ocupada por floresta primária encolheu aproximadamente à metade da área de 285 km2, para 140,7 km2, e a de floresta secundária (renascida, com biodiversidade menor que a primária) aumentou 2,4 vezes, de 63 km2 para 156,6 km2 de 2002 a 2018.
As plantações de dendezeiros se expandiram 27 vezes (ou 2.700%) em relação à área de 3,4 km2, quando começaram, em 2010, para 91,8 km2 em 2018. Em 16 anos, cobriram quase metade (48%) da área de mata primária, que já havia sido desmatada e antes ocupada por pastagens e capoeira.
Em um estudo anterior, publicado em janeiro de 2020 na Land Use Policy, uma equipe do MPEG, coordenada pela ecóloga Ima Vieira, com colegas da Universidade de São Paulo (USP), examinou as mudanças na paisagem em 2.588,72 km² da zona de expansão do dendê, entre os municípios de Moju, Acará e Tailândia, nordeste do Pará, de 1991 a 2013, também com imagens Landsat. Nesse período, 30% da área de floresta primária havia sido convertida em plantação de dendezeiros, que aumentou 11%.
“A situação é preocupante”, comenta Vieira.
“O dendezeiro é considerado uma espécie de baixo impacto e importante para a restauração de áreas degradadas, mas, em plantios de larga escala, pode provocar uma total reorganização da paisagem e prejudicar a conservação da biodiversidade e a dinâmica social”,
explica.
Segundo ela, a expansão da área ocupada pelos dendezeiros aumenta a fragmentação florestal e reduz a diversidade de espécies, por eliminar o chamado sub-bosque, formado por plantas de baixa estatura que crescem abaixo das mais altas, o chamado dossel. “A composição e a riqueza de aves e de árvores nas zonas de plantio de dendê são comparáveis ou até menores que as áreas de pastagens de gado”, acrescenta.
Estudos feitos em outros países associam as plantações de dendezeiros a intensos desmatamentos e perda de biodiversidade.
No artigo da Biological Conservation, Vieira, a bióloga Karen Silva, também do MPEG, e o ecólogo da UFPE Marcelo Tabarelli recomendam: “O setor de dendê requer uma melhor governança com base em diretrizes capazes de garantir a persistência ou o surgimento de paisagens favoráveis à biodiversidade”.
Artigos científicos
SILVA, K. C. L. da et al. Oil palm plantations in an aging agricultural landscape in the eastern Amazon: Pushing Amazon forests farther from biodiversity-friendly landscapes. Biological Conservation. v. 238, 110095, p. 1-11. jul. 2023.
ALMEIDA, S. de et al. Long-term assessment of oil palm expansion and landscape change in the eastern Brazilian Amazon. Land Use Policy. v. 19, 104321, p. 1-8. jan. 2020.
*Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui, escrito por Carlos Fioravanti.