Plantação de mandioca no Amapá registra praga inédita no país

Fungo 'Vassoura de bruxa' foi encontrado em plantios de mandioca em terras indígenas do Oiapoque e nos municípios de Amapá e Calçoene. Foi decretada situação de emergência.

Uma praga conhecida como ‘Vassoura de Bruxa‘ da mandioca foi registrada pela primeira vez no Brasil em plantios de três municípios do estado do Amapá, na Região Norte do estado: Oiapoque, Amapá e Calçoene.

A praga foi encontrada pela primeira vez em terras indígenas por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e em seguida nos outros dois municípios. O fungo foi detectado também na Guiana Francesa, que faz fronteira com Oiapoque. O governo do Amapá decretou situação de emergência aos três municípios.

Segundo a nota técnica da Embrapa, o transporte de produtos agrícolas entre as regiões pode ter espalhado o fungo, assim aumentando o risco de infecção em outras áreas. (Veja a nota técnica da Embrapa na íntegra)

O fungo causa uma redução na produtividade de mandioca, além de comprometer a qualidade dos produtos consumidos pela comunidade ou comercializados.

Conforme a Embrapa, a transmissão do fungo pode acontecer através de materiais de manuseio das plantas, como ferramentas de corte e poda, que estejam infectadas, além da movimentação de solo e água.

Outros tipos de fungo semelhantes já apareceram no Amapá em frutos como o cupuaçú e em outras regiões do Brasil, como a crise do cacau do sul da Bahia nos anos 90. Mas a praga que afeta os plantios de mandioca especificamente foi registrada pela primeira vez.

A chefe de pesquisas da Embrapa, Cristiane Ramos, explicou que o fungo registrado na região norte, trata-se de uma praga quarentenária, que consiste em um organismo que a presença pode danificar ou destruir cultivos inteiros e ser um obstáculo na exportação, afetando diretamente a economia local.

Cristiane disse ainda que a chegada da doença ao país ainda está sendo investigada, e pode ter sido transmitida tanto pelo transporte de materiais, quanto pelas pessoas.

No Brasil, há 12 espécies de pragas quarentenárias presentes em território nacional, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e mais de 500 consideradas pragas quarentenárias ausentes (PQA), não registradas no país.

Destas pragas, cerca de 10 já foram transmitidas para outros países na América do Sul e na região do Caribe, e possuem a probabilidade de entrada no Brasil. Cada uma deve ser monitorada com ações de controle específicas conforme as características, sendo reprodução, sobrevivência, capacidade de dispersão e outros.

Aspectos da planta infectada:

A doença Ceratobasidium theobromae (Rhizoctonia theobromae), leva o apelido por deixar a planta seca como uma vassoura de bruxa, deixando os ramos deformados, com nanismo, além da proliferação de brotos fracos e finos nos caules.

É comum após a evolução do vírus a presença da clorose, que deixa as folhas com uma aparência amarela esverdeada ou o ‘verde pálido’.

Em seguida vem a morte da gema apical, quando a temperatura é inferior à -2,2ºC, durante 3 horas, ou a morte descendente, quando todos os órgãos da planta são atingidos pela praga.

Praga 'vassoura de bruxa' deixa plantio de mandioca com aspecto amarelado ou verde claro — Foto: Divulgação/Embrapa
Foto: Divulgação/Embrapa

O fungo foi coletado e isolado por pesquisadores do Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (CIRAD/França), em parceria com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT/Colômbia), pois os solos brasileiros afetados apresentas semelhantes aos atingidos na Guiana Francesa.

A Embrapa destacou ainda que é necessária a ação imediata dos órgãos competentes, para que medidas oportunas possam ser tomadas, para manejo e controle, até mesmo avançando para um melhoramento genético das sementes de mandioca.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR), Rafael Martins, contou que medidas já estão sendo tomadas para o controle de pragas, com as orientações aos produtores rurais para manter a segurança e garantir que o fungo seja contido.

Como diminuir o impacto do fungo?

Monitoramento e Vigilância: o monitoramento nos plantios identifica e evita a proliferação;

Quarentena: limita que os materiais infectados sejam transferidos para outro lugar;

Manivas Sadias: uso de manivas com saúde comprovada, que não desenvolvam patógenos;

Tratamento Químico: utilização de fungicidas específicos para controlar a dispersão;

Práticas culturais: queima das plantas doentes para reduzir as áreas afetadas;

Sanitização: higienizar corretamente ferramentas usadas para destruir as plantas infectadas, com água e detergente e em seguida a sanitização com solução de hipoclorito de sódio a 1,25%

Isolar roupas: roupas usadas nas visitas às áreas atingidas, devem ser colocadas em um saco e lavadas rapidamente;

Comunicar a população: publicações, vídeos, fotos devem esclarecer á população sobre a condição, sinais e modos de transmissão.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

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