A seca que assolou o Amazonas em 2023 persiste em 2024 e isso pode ser visto pelo quadro atual das chuvas na região amazônica que sugerem uma seca de gravidade bem elevada para este ano. É o que alerta o pesquisador e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LBA/Inpa-MCTI), Renato Senna.
Renato diz que a região amazônica ainda enfrenta uma deficiência de precipitação até agora.
Nos últimos quatro anos, o nível das águas do rio Negro tem oscilado entre extremos de cheias e vazantes. Em 2021, registrou-se a maior cheia já medida, atingindo a cota máxima de 30,02 metros. Já em 2023, ocorreu a maior vazante registrada em 120 anos de medição, com o nível chegando a 12,70 metros. De acordo com o pesquisador, dois eventos atuaram simultaneamente, evitando formação de nuvens e a precipitação na região amazônica: o aquecimento superficial do Oceano Pacífico (El Niño) inibiu a formação de nuvens e reduziu as chuvas na Amazônia e o Oceano Atlântico empurrou as nuvens que se formam sobre a Amazônia em direção ao Hemisfério Norte.
As previsões indicam que as águas do Oceano Pacífico deverão esfriar no segundo semestre de 2024, o que favorecerá a ocorrência de chuvas na Amazônia. Por outro lado, o Oceano Atlântico, no Hemisfério Norte, permanece aquecido. “É provável que tenhamos uma temporada de furacões na região do mar do Caribe no segundo semestre de 2024, responsável por retirar umidade da Amazônia e transportá-la para o Hemisfério Norte, resultando na redução das chuvas na região amazônica”, destaca Senna.
Impacto dos Oceanos
Os oceanos são responsáveis por modular o clima e as chuvas na região amazônica. Tanto o Oceano Pacífico quanto o Oceano Atlântico influenciam a circulação, acumulação e transporte de vapor d’água, áreas essenciais para a formação de nuvens e a consequente geração de chuvas nas grandes bacias da Amazônia.
Em 2023, o fenômeno natural La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, foi sucedido rapidamente pelo El Niño, devido ao aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, próximo a linha do Equador. Normalmente, o El Niño ocorre entre períodos de quatro a sete anos. “Geralmente, ocorre uma redução no nível da água dos rios no primeiro ano do El Niño e secas mais severas no ano seguinte”, explica Senna.
Ainda segundo o pesquisador, em 2023, as águas superficiais do Oceano Atlântico no Hemisfério Norte também aqueceram, especialmente próximo ao noroeste do continente africano.
Senna relembra que em setembro de 2023, o nível das águas do rio Negro diminuiu de forma drástica, em média 30 centímetros, durante vários dias consecutivos, um fenômeno jamais registrado nos 120 anos de medições das águas do rio Negro.
“A seca histórica de 2023 ocorreu em um contexto de aquecimento das águas superficiais próximas à linha do equador tanto no Oceano Atlântico quanto no Pacífico. Essas condições persistem até recentemente, totalizando quase 12 meses – de julho de 2023 a junho de 2024 – com temperaturas das águas superficiais muito elevadas e ambos os eventos ocorrendo simultaneamente, resultando na redução da precipitação”, ressalta o pesquisador.
Previsões
O Laboratório Amanã do Inpa é responsável pela emissão do Boletim de Monitoramento Climático das grandes bacias hidrográficas da Bacia Amazônica. Este boletim monitora as chuvas acumuladas em intervalos de 30 dias nas bacias hidrográficas que compõem a bacia amazônica.
Toda quinta-feira o Laboratório emite o boletim e está disponível para consulta no link linktr.ee/clima.amazonia.
“O objetivo é fornecer informações para os tomadores de decisão, como defesa civil, secretarias de agricultura, transporte, educação e saúde etc., permitindo que se planejem conforme as condições esperadas nas grandes bacias amazônicas. Monitoramos toda a bacia amazônica desde suas nascentes nos Andes até a foz do Amazonas, junto à Ilha de Marajó, nos estados do Pará e Amapá”, afirma Senna.
*Com informações do Inpa