O microparasita, que não pode ser observado a olho nu, foi descoberto na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Curiaú, área quilombola de Macapá.
Uma pesquisa descobriu uma espécie de microparasita no Amapá do gênero que é considerado o primeiro animal que pode viver sem oxigênio. O Henneguya sacacaensis é parasito de brânquias no peixe conhecido como acará-bicudo, que vive na bacia amazônica e pode ser encontrado em rios de água doce na América do Sul.
O microparasita, que não pode ser observado a olho nu, foi descoberto na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Curiaú, área quilombola em Macapá. Desde então, o agora mestre Roger Leomar da Silva Ferreira, de 31 anos, estudou a genética do animal, até que comprovou que essa era uma novidade para a ciência.
“Nós percebemos que o acari-bicudo era bastante consumido na região e também era vendido para fora. Isso despertou interesse na gente pelo aspecto econômico. Esse peixe também é uma espécie que serve de alimento para outros peixes, como o pirarucu”, contou Ferreira.
A coleta aconteceu quando ele ainda era acadêmico do curso de engenharia de pesca da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), integrando o grupo de pesquisa Sanidade de Organismos Aquáticos na Amazônia (SOAA).
Já a pesquisa é resultado da dissertação de mestrado defendida por Ferreira no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, na Universidade Federal do Amapá (Unifap), orientado pela professora doutora Marcela Videira. Para entender o animal, a pesquisa foi realizada em laboratórios em Macapá e também em Belém, no Pará.
O microparasita provoca um inchaço entre as lâminas das brânquias do acará-bicudo, o que pode interferir no sistema respiratório do peixe. A orientadora ressalta que, apesar de atacar o animal, a pesquisa esclareceu que a espécie não apresenta riscos para o consumo humano visto que as brânquias não são habitualmente consumidas.
“No Brasil, não tem definições desse gênero causando doenças em humanos – as zoonoses -, mas tem em alguns países asiáticos devido ao consumo de pescado cru. Não vai ser um problema aqui porque geralmente não se come as brânquias dos peixes. Mas em ambiente natural, como o Curiaú, pode causar algum impacto para a população do peixe”, explicou.
Segundo a orientadora, há uma estimativa de que existam cerca de 3 mil microparasitas Myxozoa já catalogados; eles compõem uma importante parte da biodiversidade com o papel que desempenham nos processos ecológicos.
Os parasitos podem influenciar na saúde do peixe e, indireta ou indiretamente, pode influenciar também na saúde humana e no ambiente que eles estão vivendo. Está tudo interligado. Os parasitas podem refletir na qualidade ambiental do meio que os peixes vivem e podem fazer um retrocesso na comunidade que consome esses peixes, por isso é importante estudar o parasita e o hospedeiro”, detalhou a professora.
Além dessa espécie descoberta, Ferreira também busca comprovar que são inéditos outros dois microparasitas colhidos no acará-bicudo.
O Henneguya sacacaensis é uma homenagem a Raimundo dos Santos Souza, o “Sacaca”, considerado um mestre da cultura e das plantas medicinais. E inspirado pela história e dedicação ao mundo do conhecimento, o autor da pesquisa reforça que continuará estudando esse microparasita e outros animais.
“A comunidade científica reconhecer que a gente tem potencial para descrever espécies e outras culturas dá credibilidade ao nosso grupo de pesquisa. Isso já é muito válido porque é de interesse coletivo”, concluiu Ferreira.