Foto: Marcelo Salles Rocha/Arquivo pessoal
Entender como os processos geológicos e as mudanças no Rio Negro, ao longo dos anos, influenciaram na variedade de peixes miniaturas, espécies adultas que não ultrapassam 2,5 cm de comprimentos, foram a base de uma pesquisa científica apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), desenvolvida no município de Iranduba (distante 27 km de Manaus).
Realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o estudo coordenado pelo doutor em Biologia de Água Doce e Pesca Interior, Marcelo Salles Rocha, constatou que em alguns lugares do Rio Negro, como nas depressões tectônicas (que são áreas mais baixas formadas por movimentos da terra), os peixes encontrados são diferentes daqueles que vivem em outros lugares do rio, o que sugere mudanças no rio ao longo do tempo, criando novas áreas para essas espécies de peixes viverem e evoluírem.
O estudo utilizou dados da biologia molecular de peixes e analisou a evolução biológica e geológica da sedimentação nas depressões tectônicas, em Graben (conhecida popularmente como fossa ou vale tectônico), em áreas do Paraná do Ariaú, Cacau Pirêra e Cachoeira do Castanho, no município de Iranduba, além de depósitos de barras fluviais associadas aos canais dos rios Negro e Solimões.

Durante a pesquisa, foi descoberto que nas depressões tectônicas entre os rios Negro e Solimões, os peixes que ali vivem são diferentes dos peixes encontrados nos igarapés do Tupé e Tarumã Mirim, ambos na margem esquerda do Rio Negro. Esses igarapés desenvolveram-se em áreas geológicas mais antigas do Neógeno, e possuem substrato arenoso com extensa cobertura de detritos e folhiço, além de possuírem águas pretas e PH com valores próximos a 5.
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Segundo o pesquisador, essas espécies devido ao seu tamanho possuem pouca mobilidade, como por exemplo quando comparadas às espécies grandes e migradoras como jaraqui e piraíba. Por terem baixa mobilidade e tamanho, grandes rios formam uma barreira para sua separação.
“Pelas análises genéticas pode-se estimar o tempo de separação das populações e identificar possíveis cenários passados. Até mesmo hipóteses dos rios atuando na separação das populações, uma vez isoladas pode ocorrer a formação de espécies novas”, disse Marcelo Rocha.
Outra descoberta foi que a espessura dos depósitos argilosos no Graben do Paraná do Ariaú pode ajudar na sua exploração pelas olarias da região, as quais usam a “lavra a céu aberto” para extrair a matéria prima, por meio de cavas rasas, que provocam impacto ambiental pela degradação de áreas superficiais.
Os sedimentos são de suma importância para o desenvolvimento socioeconômico do estado do Amazonas, pois fornecem matéria prima para o Polo Oleiro de Iranduba-Manacapuru, sendo utilizados na fabricação da cerâmica vermelha (principalmente telhas e tijolos).

*Com informações da Fapeam