Novo gênero de aranhas identificado por pesquisadores no Pará homenageia universo Star Trek

Descoberto por pesquisadores do Museu Goeldi, gênero Roddenberryus remete ao criador do clássico de ficção científica. Personagens Kirk, Spock e McCoy dão nome a novas espécies da América Central.

A nave estelar Enterprise NCC-1701, da série de ficção científica Star Trek, pousou no Laboratório de Aracnologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), onde pesquisadores identificaram um novo gênero de aranhas e três novas espécies, vindas da América Central. O gênero recebeu o nome Roddenberryus, em alusão ao roteirista e produtor de televisão Gene Roddenberry, criador do clássico Star Trek, também conhecido no Brasil como Jornada nas Estrelas. Os nomes das espécies fazem referência aos personagens Kirk, Spock e McCoy.

Roddenberryus diferencia-se de outros gêneros da família das aranhas Caponiidae principalmente pela forma das peças bucais e por detalhes de órgãos sensoriais presentes nas pernas das espécies catalogadas, além de terem apenas dois olhos – a maioria das aranhas tem oito. O amplo cefalotórax e o longo abdômen fazem com que se assemelhem às naves de Star Trek. A descoberta foi publicada em setembro no European Journal of Taxonomy e ganhou destaque no The New York Times.

Quem identificou o novo gênero foi o pesquisador cubano Alexander Sánchez-Ruiz, bolsista do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Museu Goeldi. Sánchez-Ruiz estudava a relação evolutiva entre aranhas Nopinae, uma subfamília das Caponiidae, sob supervisão do pesquisador brasileiro Alexandre Bragio Bonaldo, coordenador do Laboratório de Aracnologia e coautor da descoberta. 

“Sou fã de Star Trek desde criança e a série influenciou nas minhas escolhas literárias. Lembro-me especificamente de um episódio em que o Dr. McCoy estava estudando a vida vegetal em um planeta desconhecido. A cena que retrata a emoção palpável de uma descoberta científica ficou gravada na minha memória para sempre”, 

recorda Bonaldo.

Sánchez-Ruiz havia tido pouco contato com o seriado antes de chegar ao Brasil. “Eu falava bastante nisso durante a nossa colaboração, aposto que ele já é um grande fã da série”, diz o supervisor.

 Há uma longa tradição entre aracnólogos de nomear novos gêneros e espécies em referência a pessoas, costumes ou à cultura pop. 

“É uma forma de aumentar a consciência pública sobre a ciência da taxonomia e as maravilhas do mundo natural, além de ajudar em esforços de conservação dessas espécies”, 

considera Bonaldo.

Em achado anterior, o pesquisador chamou uma aranha que imita formiga e aparece em plantações de cacau na Bahia de Myrmecium oompaloompa, alusão às criaturas de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Kirk, Spock e McCoy: as novas espécies  

Durante o estudo da relação evolutiva entre aranhas Nopinae, Sánchez-Ruiz e Bonaldo encontraram três espécies que ainda não haviam sido descritas: Roddenberryus kirk (cujo nome remete ao capitão da Enterprise NCC-1701, James Kirk), Roddenberryus mccoy (em alusão ao personagem Leonard McCoy, o médico da nave), e Roddenberryus spock (referência ao primeiro oficial S’Chn T’Gai Spock, híbrido entre vulcano e humano). O novo gênero abriga ainda duas espécies antes ligadas ao gênero Caponina Simon: Roddenberryus sargi e Roddenberryus pelegrina.

“Todas as cinco espécies são bem semelhantes entre si, a única maneira de distinguir umas das outras é examinando-as cuidadosamente sob microscópio, procurando diferenças no formato da carapaça e variações nas partes reprodutivas de machos e fêmeas”,

explica o coordenador do Laboratório de Aracnologia do Museu Emílio Goeldi. Uma característica fácil de notar, de acordo com Alexandre Bonaldo, é que essas espécies estão entre as maiores, em tamanho corporal, da família Caponiidae.

As espécies do novo gênero Roddenberryus vêm da América Central e do Caribe. O Museu Goeldi utiliza nas pesquisas exemplares de diversas instituições ao redor do mundo. Nesse caso, o material pertencia a coleções de aranhas do México, da Costa Rica, da Áustria e dos Estados Unidos, e era identificado como pertencente a outros gêneros de Nopinae

A título de curiosidade, um dos lugares de onde vieram as aranhas é o Smithsonian Institution, localizado na capital dos Estados Unidos, que tem a maquete original da Enterprise NCC-1701 em exposição. 

 Ganhos na Ciência

“A descoberta desse novo gênero e das três novas espécies nos proporcionou uma compreensão muito melhor da filogenia da subfamília Nopinae. Recentemente, concluímos outro manuscrito abordando as relações filogenéticas de todos os gêneros desse grupo. Roddenberryus desempenhou um papel fundamental nesta análise e nós a submetemos ao mesmo periódico onde o novo gênero foi descrito. Deve ser publicado em breve”,

anuncia Bonaldo.

Sánchez-Ruiz estuda aranhas Caponiidae há mais de 10 anos. No Museu Goeldi, o trabalho de descrição dessa família começou em 2021. A tripulação da nave do Laboratório de Aracnologia mantém outras frentes de pesquisa. 

“Em nossa ‘nave’, trabalhamos com diversas famílias de aranhas, principalmente Corinnidae e Oonopidae, meus principais temas de pesquisa, mas também com caranguejeiras e papa-moscas, temas de dois bolsistas PCI, e aranhas-raio (Theridiossomatidae), tema de um aluno de Doutorado”, conta Alexandre Bonaldo antecipando de onde virá as próximas novidades do Laboratório de de Aracnologia do Museu Goeldi.

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