Nova espécie de peixe-elétrico é descrita por pesquisadores do Pará

Lendas e canções, como ‘Esse rio é minha rua’ de Paulo André e Rui Barata, reafirmam a força da enguia poraquê no imaginário – a mais popular espécie de peixe-elétrico da região amazônica. No entanto, a ordem dos peixes-elétricos possui cerca de 250 espécies que habitam igarapés, cachoeiras e grandes rios.

Nesse universo animal, todavia, o poraquê amazônico (cujo nome científico é Electrophorus electricus) é a única espécie que utiliza descargas elétricas para defesa e imobilização de presas, capaz até de matar outros animais. As outras espécies utilizam a capacidade de gerar campos elétricos apenas como mecanismo de comunicação: por habitarem em águas turvas, a emissão do campo elétrico é a forma que as espécies possuem para se orientarem.

Esse é o caso da nova espécie de peixe-elétrico, encontrada no Panamá, descrita pelos pesquisadores vinculados ao Museu Paraense Emílio Goeldi, Guilherme Moreira Dutra, Carlos David de Santana e Wolmar Benjamin Wosiacki (curador da coleção ictiológica da instituição). O novo peixe-elétrico pertence ao gênero Eigenmannia e faz parte da mesma ordem do poraquê amazônico, Gymnotiformes, mas são de famílias diferentes.

Foto: Divulgação/Museu Paraense Emílio Goeldi

A nova espécie descrita é o primeiro peixe-elétrico com ocorrência nas bacias da América Central – os peixes elétricos da ordem Gymnotiformes são frequentemente encontrados em águas sul-americanas. De comprimento variando entre 16 e 30 cm, a espécie foi batizada de Eingenmannia meeki, em homenagem ao cientista norte-americano Seth Eugene Meek (1859-1914), autor do primeiro livro sobre peixes de água doce do Panamá.

Espécie panamenha 

Nove características diferenciam a nova espécie descrita das já conhecidas, como: padrão de coloração, número de escamas, disposição dos dentes, entre outras. Além de ampliar o conhecimento da diversidade da espécie, a pesquisa identificou potenciais áreas de ocorrência deste animal, o que facilitará investigações futuras sobre impactos ambientais e possíveis ameaças à espécie.

O pesquisador Guilherme Dutra explica que, embora a ocorrência do gênero Eigenmannia no Panamá já fosse conhecida desde 1916, até agora os cientistas não contavam com material em boas condições para o trabalho de delimitar e descrever a nova espécie. “O esforço para se conhecer a diversidade de Eigenmannia é continuo. Em 2015, sete espécies foram descritas para o gênero, sendo cinco na Amazônia, e duas descritas nos últimos dois anos. Em 2017, pelo menos mais duas novas espécies serão apresentadas pela ciência”, indica o pesquisador.

O trabalho científico de descrever formalmente uma espécie envolve uma série de etapas, entre elas, apresentar sua morfologia, que é o estudo da aparência de órgãos ou seres vivos. Essa análise, por exemplo, se baseia em vários exemplares da espécie depositados em coleções científicas, chamados exemplares tipos.

Os resultados da pesquisa foram publicados na edição de março da revista científica Copeia, periódico oficial da Sociedade Americana de Ictiologia e Herpetologia, dedicada ao estudo de peixes e répteis. No artigo os leitores encontrarão alguns dos resultados do projeto desenvolvido, desde 2015, por Guilherme Dutra no âmbito do Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Museu Goeldi. A pesquisa conta com a parceria do Smithsonian Institution (EUA). Em breve, os pesquisadores investigarão o relacionamento entre as espécies do gênero Eigenmannia.

Coleção Ictiológica 

O acervo ictiológico do Museu Emílio Goeldi possui abrangência neotropical, ou seja, a região biogeográfica que se estende do sul do México, passando pelas Ilhas do Caribe até o sul da América do Sul. A coleção é composta por cerca de 35 mil lotes, representando mais enfaticamente a Bacia Amazônica, com exemplares de peixes ósseos e cartilaginosos.

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