Crustáceo parasito foi identificado no litoral do Maranhão. Foto: Divulgação
Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) fizeram parte de um projeto que identificou uma nova espécie de crustáceo parasito chamado Naricolax zafirae. O animal, visível apenas com o auxílio de uma lupa binocular, foi encontrado no litoral do Maranhão, na cavidade nasal de um peixe conhecido popularmente como barbudinho, comum da região.
O nome da nova espécie foi uma homenagem à professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e pesquisadora maranhense Zafira de Almeida, falecida em 2021, vítima de câncer. Zafira era referência em estudos sobre o conhecimento funcional e a conservação dos recursos pesqueiros amazônicos.
A descoberta é considerada inédita para a ciência, por ser o primeiro registro do gênero Naricolax no Oceano Atlântico. Isso amplia o conhecimento sobre a biodiversidade marinha, destacando o Maranhão como um dos principais polos de pesquisa sobre ecossistemas costeiros da Amazônia Atlântica.
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O estudo foi fruto de uma colaboração entre a UFMA, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Os esforços resultaram na descrição de uma espécie até então desconhecida, encontrada em áreas de manguezais, dunas e praias que apresentam grande amplitude de maré.
Crustáceo faz parte de região ainda pouco explorada da diversidade amazônica
Segundo o professor do curso de Oceanografia e Limnologia da UFMA que participou da pesquisa, Jorge Nunes, o estudo buscou investigar partes ainda pouco exploradas da diversidade amazônica.
“A proposta visava estudar parasitos de tubarões e raias, mas fomos além, porque a relação hospedeiro-parasito das espécies de peixes estuarino-marinhas do Litoral Amazônico é muito desconhecida. Com base nisso, demos prioridade para os critérios ecológicos locais mais relevantes, como o endemismo ou importância econômica, várias espécies de peixes foram estudadas com o intuito de prospectar tanto os ectoparasitos, quanto endoparasitos”, relata.
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O Maranhão, por sua posição geográfica estratégica e diversidade de ambientes costeiros, tem se consolidado como um território essencial para estudos sobre biodiversidade e transformações ambientais. Dessa forma, pesquisas como essa contribuem para descobrir o potencial de ambientes que atuam diretamente no equilíbrio dos outros ecossistemas, como o bioma amazônico.
“A Amazônia é colossal em todos os sentidos. Na diversidade biológica, é considerada um dos ambientes mais impressionantes do planeta. Mas mensurar essa exuberância em números pode subestimar em níveis muito elevados. Por outro lado, sob a lente de uma visão sistêmica ou funcional, deixa notório sua importância dentro do contexto da história evolutiva e ecológica, visto que a relação hospedeiro-parasito revela um processo concomitante dos dois organismos, conhecido como coevolução e resulta em uma fotografia ecológica em tempo real”, explica o professor Jorge.
Ciência e mudanças climáticas: um debate em evidência
A descoberta do crustáceo parasita ocorre em um momento em que as discussões sobre mudanças climáticas ganham destaque mundial, especialmente com a aproximação da COP 30, que será realizada em novembro, no Pará. O evento reunirá representantes de diversos países para debater soluções globais diante da crise climática, e os estudos que estão sendo produzidos na região amazônica são de grande importância para o diálogo.
O aquecimento dos oceanos e o aumento da acidez da água são apontados por pesquisadores como algumas das principais ameaças à vida marinha. Essas alterações afetam diretamente crustáceos, corais e outros organismos cruciais para o equilíbrio dos ecossistemas costeiros. Apesar de ainda não ser possível apontar como essas condições podem afetar a espécie recém-descoberta, é urgente continuar com as investigações, como explica o professor e pesquisador da UERJ, Fabiano Paschoal.
“É necessário um acompanhamento da presente espécie ao longo dos anos para uma melhor elucidação do tema”, indicam, sobre a nova espécie de crustáceo.
Além de ampliar o conhecimento científico, estudos que ajudam a compreender como o oceano responde a variações de temperatura, salinidade e pH são indicadores fundamentais para prever impactos ecológicos de longo prazo.
Caminhos para a preservação
As descobertas científicas precisam caminhar junto às medidas de proteção aos ecossistemas, que são fundamentais para o equilíbrio ambiental e a manutenção das atividades humanas que deles dependem. O fortalecimento de políticas integradas de gestão, monitoramento ambiental e educação científica é um caminho indispensável para a proteção ambiental.
“Medidas protetivas para os ambientes marinhos do estado não constituem uma tarefa fácil. Infelizmente, não existe fórmula nem mágica instantânea. A construção precisa de tempo, porque os efeitos são tardios e graduais. Sempre que aprendemos algo novo, incluímos nas propostas estratégicas para a conservação biológica. A meu ver, evitar problemas ambientais é mais eficaz e mais econômico que a sua mitigação da forma que vemos”, destaca Jorge.
Para a UFMA, descobertas como a do crustáceo parasito evidenciam o compromisso da universidade pública com a produção de conhecimento sobre o meio ambiente e com a busca por soluções para os desafios climáticos contemporâneos. “As universidades buscam excelência em todos os pilares que as sustentam. Nesse sentido, conquistas como essa representam uma grande projeção e reconhecimento científico para a UFMA”, concluiu Jorge Nunes.
Acesse o estudo sobre a nova espécie de crustáceo clicando AQUI.
*Com informações da UFMA
