Presença das cigarras cresce no calor, período de reprodução da espécie.
Com a chegada do verão amazônico, além das altas temperaturas, Manaus (AM) passou a contar com a “sinfonia” das cigarras. A cantoria – incômoda para alguns – ficou ainda mais expressiva com o calor e, segundo a pesquisadora Eduarda Viegas, revela que a espécie está garantido a reprodução.
Eduarda Viegas, que é engenheira agrônoma e doutoranda de Entomologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), destacou que o verão é fundamental para os ciclos das cigarras.
“A temperatura desempenha um importante fator na atividade das cigarras. Ou seja, elas estão completando um ciclo de vida, elas sincronizaram o seu ciclo de vida e acaba tendo um grande aumento na população desses indivíduos e, consequentemente, na produção de som”,
apontou.
Mas por que tanta cantoria?
Com alimentação a base de raízes, as cigarras podem viver de três a 17 anos, a maior parte deles debaixo da terra. Sob o solo, as espécies percorrem túneis escavados, até que estejam prontas para o acasalamento e, finalmente, saírem na estação mais quente do ano.
Por conta do modo de vida, a espécie virou a vilã da fábula “A Cigarra e a Formiga”. No entanto, engana-se quem pensa que as cigarras são preguiçosas e só querem curtir o verão porque estão com tempo livre para cantar e se divertir, enquanto as formigas trabalham.
De acordo com Eduarda Viegas, o canto é reproduzido apenas pelos machos, que usam a “cantiga de amor” para atrair as fêmeas ao acasalamento.
“Esse som é uma forma de comunicação entre os indivíduos da mesma espécie. Destacando que as fêmeas avaliam a qualidade desse canto do macho. O canto indica saúde e aptidão para reprodução”,
afirmou a pesquisadora.
Além de ser usado para conquistar as fêmeas, o “cr-cr-cr” das cigarras é uma arma de defesa contra os predadores: as aves.
“Esse som é muito alto e, como as aves têm um ouvido muito sensível, elas acabam indo embora e não se alimentando das cigarras”,
explicou Eduarda Viegas.
Depois de emergirem da terra, no verão, esses insetos seguem com um ciclo de vida que pode durar apenas semanas.
Ao cumprirem o ciclo reprodutivo, as cigarras morrem logo após a deposição dos ovos e do nascimento dos filhotes, que vão dar início a uma nova população de insetos.
O desenvolvimento da espécie ocorre nos casulos, encontrados em troncos de árvores. Essa é a última fase da ecdise – o processo de metamorfose vivido pelas cigarras. Assim, o inseto se liberta do esqueleto externo para que, crescido, mude de estrutura, obtenha asas e inicie seu ciclo reprodutivo.
Canto pelo abdômen
Ao contrário do que possa aparentar, a cigarra não emite o som pela boca ou com alguma vibração vocal que realiza. A cantoria é produzida pelo abdômen do animal.
“Os machos têm no abdômen o que é chamado de tímpano. Esse órgão é composto por membranas finas e flexíveis, que vão vibrando com a movimentação desses músculos do abdômen e produzindo o som”,
contou Eduarda Viegas.
Conforme a pesquisadora, as cigarras são espécies hectotérmicas – que têm a temperatura corporal influenciada pela temperatura do ambiente. Assim, o ambiente mais quente influencia diretamente nos músculos e, consequentemente, no som que é reproduzido pela movimentação do tímpano.
“Ou seja, quanto mais quente, mais velocidade vai ter nas relações químicas do corpo dessa cigarra e também vai ter um aumento na taxa metabólica, ou seja, as temperaturas mais elevadas vão proporcionar que esses eventos ocorram rapidamente, então esse som tem a maior frequência e a maior intensidade, e isso a gente tem observado muito em Manaus”, declarou a engenheira agrônoma.
Inclusive, há uma crença popular de que as cigarras explodem ao cantarem demais. Viegas rebate o mito. “Temos que enfatizar que as cigarras não explodem ao cantar, porque não há essa explosão”, ressaltou.
Aumento da reprodução
Segundo a engenheira agrônoma, estratégicas, as cigarras criaram uma sincronização reprodutiva durante o verão. Com da mudança de comportamento, os animais buscam promover uma reprodução em massa e contribuir para que encontrem um parceiro mais rápido.
“Algumas espécies, acabam sincronizando seu ciclo de desenvolvimento, como uma estratégia de reprodução em massa. Aí você vai ter o maior número de indivíduos, e essa estratégia, é importante para aumentar a chance de se encontrar um parceiro. Então, você vai ter o maior número de indivíduos, onde o macho vai estar produzindo esse som, em períodos mais quentes”, destacou a pesquisadora.
Com o ciclo de vida sincronizado ao clima quente, o resultado é um aumento populacional de cigarras e uma sinfonia de “cr-cr-cr” nas noites de verão amazônico.
*Por Bianca Fatim, do g1 Amazonas