Projetos de portos e ferrovias, exploração de petróleo e sobrepesca atingem comunidade pesqueira do Marajó

Estudo do Projeto Maretórios Amazônicos acompanhou moradores da comunidade pesqueira de Jubim, no Marajó. Eles relatam que exploração crescente na região por grandes projetos tem reduzido os estoques.

Com praias, igarapés e áreas de mata preservadas, a comunidade pode gerar renda de forma sustentável. Foto: Marilu Cruz/Acervo Pesquisadores

A comunidade pesqueira de Jubim, localizada no arquipélago do Marajó, no encontro entre o rio Amazonas e o oceano Atlântico, depende diretamente da pesca artesanal para sua subsistência. Mas pressões crescentes reduzem os estoques pesqueiros e ameaçam os modos de vida tradicionais – como a sobrepesca com presença constante de embarcações industriais, além da construção de portos e ferrovias, dos grandes projetos de exploração de petróleo e da especulação imobiliária, que restringem o acesso a áreas antes comuns.

A tudo isso se somam as mudanças climáticas, que afetam o período reprodutivo dos caranguejos e causam a erosão das margens de rios. É o que aponta pesquisa desenvolvida pelo Projeto Maretórios Amazônicos e publicada na segunda (29) na revista científica Marine Policy.

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Por meio de entrevistas com 20 moradores de Jubim, oficinas e observação participante na comunidade, os cientistas mapearam forças, fraquezas, oportunidades e ameaças à gestão costeira local.

“O modelo atual de gestão costeira exclui e marginaliza milhares de comunidades tradicionais. Nosso estudo busca propor alternativas que garantam participação real e protagonismo às populações locais”, explica o ecólogo Vitor Renck, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e um dos autores do artigo.

Com base na experiência em Jubim, o estudo propõe cinco princípios de gestão costeira para tornar as políticas públicas mais justas e sustentáveis:

  • o empoderamento comunitário, voltado a ampliar a autossuficiência e a resiliência através do fortalecimento de laços;
  • a coprodução de conhecimento, com a valorização e integração dos saberes ecológicos tradicionais à pesquisa científica;
  • a negociação com atores externos em defesa de um desenvolvimento que respeite os direitos e os saberes da comunidade;
  • a continuidade cultural, de forma a garantir que as oportunidades econômicas não enfraqueçam as características locais;
  • e a responsabilidade ambiental, que enfatiza o papel da comunidade como guardiã do seu ambiente.

“O diferencial do estudo é a construção, a partir do território pesqueiro, de insumos para o desenvolvimento de um processo de gestão costeira decolonial. Propomos que os cinco princípios sejam implementados de forma conjunta, e não isolados”, reforça Renck.

Praia do Pesqueiro, no marajó
Praia do Pesqueiro, no Marajó. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

Marajó também tem oportunidades

Apesar das ameaças, Jubim, no Marajó, apresenta oportunidades econômicas e sociais, como o desenvolvimento do ecoturismo comunitário. Com praias, igarapés e áreas de mata preservadas, a comunidade pode gerar renda de forma sustentável, mantendo seus modos de vida tradicionais e protegendo a biodiversidade local.

“Nosso objetivo é que os cinco princípios que propomos possam orientar a revisão da Política Nacional de Gerenciamento Costeiro, garantindo participação real das comunidades e promovendo justiça azul, ou seja, distribuição mais justa dos benefícios e impactos do desenvolvimento costeiro”, afirma a bióloga Leandra Gonçalves, professora do Instituto do Mar da Unifesp e supervisora do estudo.

A pesquisa foi financiada pelas Fundações de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Pará (FAPESPA), Fundação Araucária e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e envolveu mais de 40 pesquisadores de diversas universidades e áreas do conhecimento.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori

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