Jovens acreanos lutam por legado de Chico Mendes em meio à crise climática

Atualmente, o estado enfrenta seca severa e queimadas e, para enfrentar essa emergência climática e promover soluções, surge o Movimento Jovens do Futuro, com apoio do Comitê Chico Mendes.

Foto: Hannah Lydia/Comitê Chico Mendes e Movimento Jovens do Futuro

Desde o início de setembro, as fumaças têm aumentado os risco à saúde do povo brasileiro, especialmente na Amazônia. No Acre, terra do ativista Chico Mendes, todas as cidades estão em alerta, variando entre níveis “muito insalubres” e “perigosos” de qualidade do ar. Neste momento, Rio Branco é a capital do país com o pior índice de poluição.

“Mesmo sofrendo até para respirar, tem gente que não entende que o problema é um sistema que impacta a nossa vida em busca de lucro. Já existem soluções e alternativas, o que falta são investimentos”.

No início do ano, o Acre registrou a maior enchente da história, com inundações de rios e igarapés que deixou 19 dos 22 municípios em situação de emergência. Agora, o estado inteiro enfrenta uma seca severa e queimadas persistentes, alimentadas pelo avanço da agropecuária, responsável por 74% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa, principalmente pelo desmatamento.

Para enfrentar essa emergência climática e promover soluções, surge o Movimento Jovens do Futuro, com apoio do Comitê Chico Mendes, que promove a formação socioambiental de jovens acreanos nas cidades e nas florestas, fortalecendo sua atuação política e valorizando a cultura amazônica.

O Movimento e o Festival Jovens do Futuro

O Movimento Jovens do Futuro nasceu de uma carta para juventude escrita por Chico Mendes, assassinado há 35 anos, e que virou seu testamento, deixando a sua luta de herança para os mais jovens. Todo ano, em setembro, o Festival Jovens do Futuro celebra esse legado, com atrações culturais que perpetuam sua memória.

Este ano, o lema “Futuro é Agora” chamou atenção para urgência da crise no clima. O Greenpeace Brasil foi convidado a fazer parte da programação, exibindo o filme ‘Antes do Prato’ no histórico Cine Teatro Recreio, em Rio Branco. Devido à fumaça, as atividades ao ar livre foram canceladas, com exceção do “Empate pela Amazônia”, no Dia da Amazônia (5/9), para denunciar a gravidade em curso.

Foto: Hannah Lydia/Comitê Chico Mendes e Movimento Jovens do Futuro

Há poucos dias, quando as escolas ainda estavam abertas e ela ia trabalhar de bicicleta, relata que sentia dificuldade para pedalar e respirar; atividades comuns se tornaram cansativas. “Temos que acabar com esse modelo que visa o lucro e priorizar o senso de comunidade, a consciência das nossas ações e escolhas.”

Foto: Hannah Lydia/Comitê Chico Mendes e Movimento Jovens do Futuro

Emergência Climática na Amazônia

O agronegócio que avança sobre a maior floresta tropical do mundo agrava as mudanças climáticas, reduz a produção dos alimentos e aumenta os preços. Carne, feijão, laranja, por exemplo, estão mais caros devido à seca, a pior em 44 anos.

Os povos da floresta estão entre os prejudicados. “Não temos assistência do poder público. O desmatamento cresceu e os extrativistas estão muito vulneráveis, vendendo as terras, porque não tem como ficar por lá”, relata Marta Jane, 20 anos, filha e neta de seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes. “Pessoas de fora que têm dinheiro, compram e fazem fazenda, desmatam e criam gado.” No Acre, tem 5 vezes mais gado do que pessoas.

Graças às desigualdades sociais, as tragédias climáticas causam mais impactos às populações do campo, indígenas, quilombolas e periféricas. Transformar essa realidade, portanto, requer assegurar qualidade de vida a essas pessoas, estimulando uma agricultura e uma economia mais sustentável, que gera saúde, renda e conservação ambiental.

Outro desafio é a falta de escolas nas áreas rurais, mesmo sendo direito de toda criança e adolescente, forçando a juventude a sair de seus territórios para estudar.

Foto: Hannah Lydia/Comitê Chico Mendes e Movimento Jovens do Futuro

Chico vive e as soluções também

Imagina o Brasil se os bilhões de verba pública que vão para o agronegócio fossem para a agroecologia. Como viveríamos se o Plano Safra, principal política agrícola do país, priorizasse a agricultura familiar e ecológica? E se a sociobioeconomia fosse fortalecida e a educação ambiental fosse estimulada em todas as regiões?

A juventude da Resex Chico Mendes conta que suas famílias, assim como muitas outras espalhadas Brasil afora, não têm incentivos públicos ou privados para sobreviver e se sustentar da floresta, através da seringa, castanha, açaí e demais cultivos – ao contrário da soja, que recebe subsídio do governo para sua produção.

Mesmo com pouco apoio, a agricultura familiar é a maior responsável pela diversidade alimentar no Brasil e já ajudou a tirar o país do Mapa da Fome em 2014. “Hoje, basicamente, não tem essa valorização, essa visibilidade para o setor”, diz Marta Jane. “De alguma forma, o benefício tem que chegar para o produtor da floresta, porque não chega”.

O Comitê Chico Mendes defende que sonhos coletivos viram realidade e que, com investimento e educação, a transformação ecológica é possível na Amazônia e no mundo.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Greenpeace, escrito por Andressa Santa Cruz

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