Indígenas realizam plantio com o objetivo de restaurar áreas devastadas em Roraima

O Método utilizado pelos Indígenas foi o da "muvuca de sementes", que consiste em misturar diversas espécies nativas em uma mesma área

Semeadura ocorreu no centro das comunidades Canauanim, Malacacheta e Tabalascada. Foto: Fabrício Marinho

Indígenas na região da Serra da Lua realizaram o primeiro plantio de sementes voltado à recuperação de uma área degradada em Roraima. A iniciativa, inédita no estado, utilizou a técnica conhecida como “muvuca”, que consiste na mistura de sementes de diversas espécies para o plantio num mesmo espaço, e marcou o início das atividades da Rede de Sementes da Serra da Lua (Ressel).

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Formada por 38 indígenas que atuam como coletores das sementes usadas para restaurar áreas degradadas, a Ressel começou os trabalhos no ano passado, quando indígenas aprenderam sobre o método da muvuca de sementes. Desde então, colocaram o conhecimento em prática e coletaram 270 kg de 32 espécies de sementes de espécies nativas de Roraima.

Trinta e duas espécies de sementes foram usadas na primeira muvuca em Roraima. Foto: Fabrício Marinho.

Na primeira semeadura, foram usados 20 kg de sementes plantadas em meio hectare numa região que abrange as comunidades Tabalascada, Canauanim e Malacacheta. A área era usada como pasto por uma antiga fazenda, que atualmente pertence à região.

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O restante das sementes (250 kg) deve ser comprado pelo Instituto Socioambiental (ISA), instituição é parceira e apoiadora da Ressel, e utilizado na recuperação de outras áreas devastadas da mesma região.

A ideia é que esse primeiro plantio se torne um modelo da importância da Rede tanto para o reflorestamento com espécies nativas, quanto para a geração de renda, tendo em vista que os indígenas podem vender as sementes que coletam.

Preparando muvuca de sementes. Foto: Divulgação

“Vai servir como uma vitrine para os futuros compradores. Nossa ideia agora é começar a buscar compradores [para as sementes coletadas pelos indígenas]”, destacou Emerson Cadete, analista técnico ISA, que apoia os coletores da Ressel.

Entre as espécies plantadas nesta primeira fase estão árvores frutíferas como caju e taperebá, e espécies de uso tradicional, como o pau-rainha, usado na construção de casas pelos indígenas. Durante a ação, no fim de junho, lideranças reforçaram a importância de envolver a juventude e toda a comunidade no processo de reflorestamento e cuidado com o território.

“Gostaria que toda a juventude e as pessoas da comunidade Canauanim conhecessem mais deste projeto e da importância de reflorestar. Tenho certeza que daqui a 10 anos veremos um resultado excelente de combate às queimadas e derrubadas no nosso território”, destacou Helinilson Nicacio Cadete, tuxaua da comunidade Canauanim.

Indígenas
Alcinete Pinho Cadete, coletora e elo da comunidade Canauanim. Foto: Fabrício Marinho.

A agricultora familiar Alcineia Pinho Cadete participou do treinamento em maio do ano passado e se tornou uma das coletoras da rede. No dia do primeiro plantio, celebrou o início das atividades práticas, que também envolvem os conhecimentos tradicionais indígenas.

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“Ser coletor, já somos há muito tempo por sermos indígenas, por ter vivência com a natureza e por desde a infância trabalharmos com as sementes para os nossos artesanatos e para medicina tradicional. E agora, existe este projeto de coleta das sementes para fazer reflorestamento de áreas degradadas”, frisou.

Agora, a Ressel de Roraima está em processo para se integrar ao Redário, uma articulação nacional que reúne 27 redes de coletores de sementes em diferentes estados do país. Segundo o ISA, são mais de 2.500 envolvidas no Redário, sendo mais da metade mulheres. Só em 2024, mais de 106 toneladas de sementes foram vendidas pelas redes do grupo.

O projeto que criou a Ressel faz parte leva o nome de “Produção de sementes nativas e restauração ecológica”, iniciativa do ISA e que tem como objetivo incentivar as comunidades indígenas a restaurar a vegetação de áreas consumidas por queimadas e pelo desmatamento.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo G1 Roraima.

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