Impacto de estudo sísmico de petróleo em animais encalhados é monitorado na costa do Amapá

Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos é uma parceria entre o Ifap e o Iepa como parte da exigência do Ibama para exploração em área da Margem Equatorial.

Projeto é uma parceria entre o Ifap e o Iepa. Foto: Divulgação/PCMC

Pesquisadores do Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos (PCMC) buscam monitorar os impactos de estudo sísmico – usado para detectar poços de petróleo – em animais marinhos encalhados na costa do Amapá. O monitoramento é parte da exigência do Ibama para exploração na Bacia Pará-Maranhão, na Margem Equatorial.

O projeto é realizado pelo Instituto Federal do Amapá (Ifap) em parceria com o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa). Ao todo, 13 profissionais estão trabalhando desde julho deste ano na busca desses animais.

Até o dia 19 de agosto oito animais foram encontrados sem vida. Entre eles, dois botos adultos, com quase 2 metros de comprimento, e um filhote.

O último encontrado foi um peixe-boi (dia 19) na região do bairro das Pedrinhas, na Zona Sul de Macapá. Apenas a parte da cabeça do peixe foi localizada.

Segundo o médico veterinário Luiz Alberto Sabioni, um dos responsáveis técnicos pelo monitoramento no Amapá, o projeto existe há décadas por uma exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas essa é a primeira vez sendo executado no Amapá.

Sabioni destaca também que atualmente, o estudo de busca de petróleo abrange a área da bacia conhecida como Pará/Maranhão, que apesar de estar localizada na costa dos dois estados, têm influência no Amapá em razão de questões geográficas.

“É estudo para avaliação. É uma avaliação prévia para a exploração de petróleo. Então para que esse estudo sísmico acontecesse o Ibama colocou uma condição de que toda essa área fosse monitorada dentro do projeto”, afirmou o veterinário.

Pesquisadores percorrem as principais regiões do Amapá. Foto: Divulgação/PCMC

Os pesquisadores buscam entender, por exemplo, se esses animais que encalham nas regiões da foz do rio Amazonas estão encalhando em razão do estudo.

Uma das hipóteses estudadas é que esses bichos podem estar desviando caminho para o Amapá em razão da frequência sonora emitida no fundo d’água pelos equipamentos do estudo. Sabioni alerta que a audição é um dos principais condutores dos animais aquáticos.

Quando colhido, o material dos ouvidos é levado para um laboratório fora do Amapá para a realização das pesquisas.

O que é um estudo sísmico? A atividade de levantamento sísmico constitui-se do uso de equipamentos e análises para poderem ser obtidas informações sobre reservatórios de petróleo e gás natural.

Conheça o projeto

O projeto ocorre em três etapas. Na primeira fase, os pesquisadores trabalham percorrendo as comunidades para conscientizar pescadores e moradores da área costeira do Amapá e das ilhas do Pará sobre a importância de acionar os órgãos competentes caso localizem esses animais.

Além disso, os pesquisadores repassam para a população noções básicas de primeiros socorros desses animais, caso eles estejam vivos, até a chegada das equipes.

De acordo com o veterinário responsável, as primeiras horas após encontrado o animal são cruciais para a observação das condições que ele vivia e o porquê que ele morreu.

“É interessante para a gente ele está vivo, claro, para que a gente preste atendimento o mais rápido possível, mas morto também porque esses animais, mesmo mortos, trazem informações muito importantes para a pesquisa que a gente está realizando. Quanto mais cedo a gente chega no local, a gente consegue ter mais informações. A gente pode estar através do exame daquela carcaça, avaliando por que ele morreu, por que encalhou, se existe algum sinal de interação com humanos, de repente foi cassado, foi emalhado em rede (…)”, detalhou o médico.

Em alguns casos, como o desta segunda-feira, o animal sofre maus-tratos por parte da população mesmo após estar morto. Nesta ocorrência, foi encontrada apenas a cabeça do peixe-boi, o resto do corpo, segundo o médico, foi ‘cortado’ pela população.

Sabioni levou o material para a sede do Iepa. Foto: Divulgação/PCMC

A segunda etapa envolve o monitoramento do período dos encalhes na praia do Goiabal, em Calçoene. No local foi encontrado em abril deste ano um filhote de baleia cachalote.

Na terceira fase, os trabalhos consistem no atendimento por meio do “Disque Encalhe”, a partir do chamado, uma equipe se desloca para o local e realiza o resgate. Dos oito resgates, quatro foram feitos por meio do acionamento.

Após a retirada do animal do local, ele é levado para o acervo do Iepa onde diversos estudos são feitos. A coordenação prevê apresentar os diagnósticos do projeto em um ano, quando finalizarem as pesquisas.

A expectativa é uma ampliação dos estudos e monitoramento caso a exploração de petróleo seja liberada no Amapá também.

Quem tiver informações sobre avistamento de animais encalhados, pode entrar em contato com a equipe do projeto pelos números: (96) 99116-3712 e (96) 99206-3344.

*Por Mariana Ferreira, da Rede Amazônica AP

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