Greenpeace afirma que, mesmo com fiscalização, garimpo ilegal avança em novas áreas da Terra Yanomami 

Entre janeiro e junho, território teve 169,6 hectares destruídos pelo garimpo, o equivalente a 170 campos de futebol.

A área devastada pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami teve um aumento de mais de 6% nos seis primeiros meses de 2024, segundo um levantamento do Greenpeace Brasil. Entre janeiro e junho, o território teve 169,6 hectares destruídos pelo garimpo, o equivalente a 170 campos de futebol.

O estudo revelou ainda um cenário inédito: a presença de invasores nas imediações do Parque Nacional do Pico da Neblina, localizado nas cidades de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, interior do Amazonas.

O levantamento foi feito com base nos dados do sistema de alertas de monitoramento Papa Alpha, plataforma desenvolvida pela ONG. Em 2022, quando o território enfrentou o avanço desenfreado do garimpo ilegal, foram devastados 3.650 hectares. No ano passado foram 238,9 hectares, uma redução de 93%.

Em nota ao Grupo Rede Amazônico, o governo federal informou estar “comprometido em combater atividades ilegais, incluindo o garimpo, em todo o território nacional.” Disse ainda que monitora alertas de garimpos na Terra Indígena Yanomami por meio do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), sistema diferente do usado pelo Greenpeace.

No sistema federal, segundo a Casa Civil da presidência, houve uma queda de 73% no número de alertas de garimpo de 2022 para 2023.

Para o Greenpeace, o registro de garimpeiros na região do Pico da Neblina, chamado pelos indígenas de Yaripo, mostra que há uma migração da atividade ilegal no território. É nesta área que parte do povo Yanomami desenvolve o ecoturismo como fonte de renda.

Parte da região afetada está na bacia do rio Camburi, em Santa Isabel do Rio Negro, considerada uma nova frente de garimpo pelos pesquisadores. Além da nova região explorada, há um garimpo antigo que foi reativado a 5 km da comunidade Ariabu Yanomami.

Em fevereiro de 2023, um mês após o governo federal decretar emergência no território, organizações indígenas do Amazonas denunciaram a presença de pequenos garimpos manuais na região do Pico da Neblina. Em agosto do mesmo ano a Polícia Federal deflagrou operação contra o garimpo na região.

Devastação em 6 meses: Entre janeiro e junho deste ano, 169,6 hectares foram destruídos na Terra indígena Yanomami. No mesmo período de 2023, foram 159 hectares, o que corresponde a um aumento de 6,79% se comparado com 2024.

Alerta: Agora, o número de hectares devastados até junho deste ano já se aproxima dos alertas identificados durante todo o ano de 2023. A diferença é de 69,3 hectares.

Localizada em Roraima e no Amazonas, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sanitária e humanitária causada pelas ações do garimpo ilegal. Em 2023, o governo federal iniciou ações para enfrentar a crise e combater a atividade, mas mesmo com o enfrentamento os problemas ainda permanecem na região.

O Parque Nacional do Pico da Neblina é uma Unidade de Conservação que fica sobreposta à Terra Indígena Yanomami na região do Amazonas. O Yaripo é o ponto mais alto do Brasil, com 2.995 metros de altitude, na fronteira com a Venezuela.

Mais de 400 campos de futebol

Garimpo na Terra Indígena Kayapó, no Pará.  — Foto: Reprodução/PF/Arquivo
Foto: Reprodução/PF

Entre janeiro e junho, 417 hectares de novas áreas de desmatamento foram identificadas nas terras indígenas Kayapó, Munduruku, ambas localizadas no Pará, e a Yanomami. O número equivale a 417 campos de futebol.

Só no primeiro trimestre, o sistema de alertas de monitoramento identificou uma área desmatada de 128 hectares associadas ao garimpo ilegal nas três terras indígenas. A TI Kayapó é a mais devastada pela atividade ilegal, foram 54,4% dos alertas em 2024. A Yanomami detém o segundo lugar, com 40,63%. Já a Munduruku teve 4,87% no primeiro semestre.

Em maio, uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipham) já havia indicado a devastação dos três territórios. O estudo apontou também que há mais de 80 mil pontos de garimpo na Amazônia, em uma área com mais de duas vezes o tamanho de Belém, capital do Pará.

As terras indígenas são protegidas por lei e, por isso, qualquer atividade exploratória nestas áreas é considerada ilegal.

Segundo o Greenpeace, de maneira geral, os alertas dentro dos territórios ‘diminuíram significativamente’ em comparação com os últimos anos. Apesar disso e mesmo com as ações do governo federal de combate ao garimpo ilegal, pequenas áreas tem sido abertas próximas a garimpos já estabelecidos, como uma tentativa de dificultar a detecção por imagens de satélite.

Para o porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace, Jorge Eduardo Dantas, os dados nas três terras indígenas analisadas mostram que há muito a ser feito no combate ao garimpo ilegal.

“Um dos grandes apelos dos povos originários é a desintrusão de seus territórios, que é a expulsão total dos garimpeiros de suas terras. Isso já foi feito na Terra Yanomami em 2023, mas os Kayapó e os Munduruku seguem aguardando quando isso vai acontecer. O garimpo destrói ecossistemas, desestabiliza populações tradicionais e ameaça nossa capacidade de combater a crise climática. Por isso, a expulsão dos garimpeiros ilegais e a defesa dos territórios indígenas precisam ser pautas defendidas por todos nós”, afirma.

Terra Yanomami

A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.

Mesmo com o enfrentamento, um ano após o governo decretar emergência, o garimpo ilegal e a crise humanitária permanecem na região.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) estima que cerca de sete mil garimpeiros ilegais continuam em atividade no território. O número de invasores diminuiu 65% em um ano, se comparado ao início das operações do governo federal, quando havia 20 mil invasores no território.

*Por Yara Ramalho, da Rede Amazônica RR

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