Fundação alerta sobre urgência de ações de adaptação climática com possível nova seca extrema na região amazônica

Polos vibrantes do turismo de base comunitária no Amazonas enfrentaram dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água potável.

A Amazônia viveu uma seca histórica em 2023, com efeitos devastadores para o meio ambiente, especialmente para os povos que habitam e cuidam do bioma na região. Populações ribeirinhas e povos indígenas tiveram acesso limitado à água potável e alimentos. As mudanças climáticas vistas de Norte a Sul do Brasil, e ao redor do mundo, são uma das maiores ameaças que ocupam os grandes debates mundiais.

Os efeitos da estiagem severa foram sentidos pelas comunidades no entorno da capital amazonense. Na região do Baixo Rio Negro, polos vibrantes do turismo de base comunitária na região enfrentaram dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água potável. Além disso, tiveram que interromper suas atividades durante o segundo semestre, por conta da seca dos rios, meios de acesso dos turistas para os territórios.

Em 2023, como forma de auxiliar a população na região, que sofreu fortemente com a seca extrema, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) criou a Aliança Amazônia Clima, movimento que conta com o apoio de 80 organizações socioambientais e representantes de centros de pesquisa na região amazônica para o combate aos efeitos da crise climática. Em uma das frentes da Aliança, foram mobilizadas doações de itens de primeira necessidade, como água potável, cestas básicas e medicamentos, para as comunidades mais afetadas pela seca: em 2023, a iniciativa atendeu mais de 12 mil pessoas em 17 territórios como Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Paralelamente, a Aliança Amazônia Clima agrega pesquisadores que monitoram as flutuações do pulso de inundação de bacias hidrográficas e fatores climáticos para identificar tendências para fornecer recomendações no combate a eventos extremos e para ações de adaptação climática. 

Este ano, prevê-se uma seca mais severa que a de 2023, devido à persistência do fenômeno El Niño, que se estendeu até 2024, formando domos de calor. Em abril, a Defesa Civil do Amazonas publicou um relatório crucial alertando para a possibilidade de repetição da situação. Segundo os dados, os rios das bacias da região estão atualmente com níveis de água abaixo do esperado para a cota de cheia normal, indicando que acontecerá um evento de seca extrema neste ano.

“Nós temos vários indicadores nesse ano de 2024 sobre a séria ameaça de uma seca de grandes proporções, como tivemos no ano passado aqui na Amazônia. As projeções cientificas apontam para um aquecimento global mais acelerado do que anteriormente previsto. Quanto mais longa e intensa é a estação seca, mais frequentes e grandes ficam as queimadas. Isso contribui para o aquecimento global e regional, criando um efeito dominó que tende a tornar esse problema cada vez mais grave”, informa Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS. 

Da mesma forma, a grande enchente que atingiu o Rio Grande do Sul está relacionada à extrema seca que afetou a Amazônia no ano passado. A catástrofe é causada pela combinação de umidade trazida por rios voadores (um grande corredor de umidade que desce até o Sul todos os anos), uma onda de calor no Sudeste e Centro-Oeste, e ventos intensos no estado, resultando em chuvas contínuas e inundações em várias bacias hidrográficas. Não apenas o clima, mas também as ações humanas estão relacionadas a essas alterações.

A mudança do clima é impulsionada pela emissão de milhões de toneladas de gases de efeito estufa, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, responsável por mais de 85% dessas emissões, segundo relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA), realizado pelas consultorias KPMG e Kearney e a Universidade Heriot-Watt. Além disso, o desmatamento acelerado de biomas brasileiros, como a Amazônia e o Pampa Gaúcho, também contribui significativamente para esse problema. O desmatamento da Amazônia, por si só, representa cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.

“O enfrentamento às mudanças climáticas representa o principal desafio de hoje para o futuro da humanidade. É essencial a mobilização das organizações da sociedade civil, das empresas, das instituições de pesquisa e dos governos nas diferentes esferas para lidar com esse gigantesco desafio que temos pela frente”, considera Virgilio Viana.

“É essencial pensar não apenas em ações emergenciais, mas em ações preventivas de adaptação climática, isso requer um pensar muito abrangente em relação a áreas que precisam ser deslocadas, residências, que são vulneráveis à inundação ou, em caso de seca, pensar em estratégias de comunicação, transporte e logística e de abastecimento de água de longo prazo. Nós temos uma série de experiências aqui no Amazonas, desenvolvidas pela FAS e por instituições financeiras, que permitem compreender quais são os caminhos, qual o custo, como fazer soluções práticas”.

Sobre a Aliança Amazônia Clima

A Aliança Amazônia Clima é uma coalizão para o enfrentamento das mudanças climáticas, em resposta à seca histórica na Amazônia em 2023. Idealizada pela FAS, a Aliança já conta com o apoio de 80 organizações da sociedade civil, empresas e institutos de pesquisa. A coalizão mapeou os pontos mais atingidos pela seca e mobilizou doações de alimentos, água potável, remédios e outros itens de primeira necessidade para as comunidades e áreas isoladas. Em outra frente da Aliança, pesquisadores e analistas acompanham as flutuações do pulso de inundação da bacia hidrográfica do Rio Amazonas e fatores climáticos para identificar tendências e fornecer recomendações em apoio a governos estaduais e municipais no combate a eventos extremos e para ações de adaptação climática.

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