Estudo visa conservação de grupos de botos na bacia do Madeira

Contribuir com a conservação de diferentes grupos de botos que vivem no Rio Madeira, situado na divisa entre o Amazonas e Rondônia. Este é o abjetivo da pesquisa “Estudos   populacionais   das   espécies   de   boto   vermelho (Inia spp.) da sub-bacia do Rio Madeira”, desenvolvida pela pesquisadora Waleska Gravena, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).  A coleta do material analisado em laboratório foi realizada na bacia do Rio Madeira, principalmente nos rios Guaporé, Mamoré e Madeira. O trabalho conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

A pesquisa investiga espécies de botos específicas e deve ser concluída em outubro desse ano (Foto:Reprodução/Fapeam)
De acordo com a doutora em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a motivação para desenvolver essa pesquisa se deu a partir dos trabalhos desenvolvidos no doutorado. Ela conta que muitas perguntas precisavam de respostas e esse foi o ponto de partida para o começo do estudo.

“Depois que finalizei meu doutorado, percebi que muitas questões ficaram sem respostas, principalmente com relação aos híbridos entre as duas espécies de botos, que ocorrem em uma área da bacia do rio Madeira. Para esclarecer essas questões eu deveria buscar outras metodologias que não utilizei durante o doutorado, como a citogenética e a genômica”, disse a pesquisadora.

Segundo a doutora, muito se discute sobre o conceito de espécie, se realmente o que estamos observando são espécies diferentes, são linhagens da mesma espécie, Outra questão proposta para discussão é se podemos enquadrar tudo que estamos observando dentro de uma mesma categoria e principalmente se devemos conservar esses grupos da mesma maneira.

“A partir do momento em que sabemos com o que estamos lidando, podemos gerar diferentes planos de conservação para diferentes grupos. Isso se aplica claramente na área que estamos estudando, já que nessa área foram construídas duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) e mais duas ainda estão previstas”, contou Waleska.

Ela também ressaltou que ao longo da última década grupos, tanto de fauna quanto de flora, foram descobertos nas áreas das hidrelétricas, e muitos deles podem ter desaparecido durante a inundação dos reservatórios. A doutora deixou um alerta para a sociedade. “Por mais que gostaríamos de gerar desenvolvimento para o país, na forma de eletricidade, a sociedade também precisa ter conhecimento do que estamos perdendo com isso”, destacou a doutora.

O grupo de pesquisa é formado pelas bolsistas Édika Sabrina e Natsumi Hamada Fearnside, que auxiliam com as técnicas de citogenética, e pela mestranda do Inpa, Israela de Sousa, que desenvolve estudos com dados de genômica, técnica também usada no projeto de pesquisa coordenado pela doutora Waleska. Os dois métodos são os principais no estudo, como explica a pesquisadora.

“A citogenética está sendo utilizada para descrever o cariótipo da espécie de boto da Bolívia (Inia boliviensis). Estamos utilizando metodologias clássicas e moleculares que já foram utilizadas para descrever o boto da bacia Amazônica (Inia geoffrensis) e comparar os dados obtidos. A genômica está sendo utilizada para sequenciamento de regiões do genoma tanto do boto da Bolívia quanto do boto da Bacia Amazônica e os híbridos entre as duas espécies”, explicou a pesquisadora.

Conforme a doutora, o grupo de pesquisa conseguiu observar que existe diferença no cariótipo entre os botos da Bolívia e o boto da bacia Amazônica e essa é mais uma característica que separa esses grupos. Ela informou que os dados genômicos, gerados no período de coleta dos dados, estão sob análise.

“Esse estudo tem o intuito de gerar informação sobre esses animais, mas principalmente para que seja possível gerarmos diferentes linhas de conservação para os diferentes grupos de botos observados ao longo da bacia do rio Madeira. Assim como é possível fazer isso com os botos, gostaríamos que esses resultados fossem ampliados para outros grupos de animais que sofrem com os impactos dessas mega-construções”, contou Waleska.

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