Estudo alerta sobre declínio do cultivo de peixes na Amazônia

Estudo inédito prevê um crescimento de apenas 4,6% para a piscicultura amazônica até 2034, se nada for feito para mudar a situação atual. 

O cultivo de peixes nativos na Amazônia não tem recebido a merecida atenção dos governos federal e estaduais, considerando seu potencial econômico e baixo impacto ambiental. É o que mostra o novo estudo do Instituto Escolhas, ‘Solução debaixo d’água: o potencial esquecido da piscicultura amazônica’, lançado no dia 8 de agosto, que traz um levantamento inédito sobre o atual panorama da piscicultura de espécies nativas nos nove estados da Amazônia Legal.

O mapeamento geoespacial identificou 76.942 hectares de lâmina d’água naquela região e 61.334 empreendimentos de piscicultura – um número 39% maior do que mostra o Censo Agropecuário.

Segundo o estudo, o cultivo de peixes nativos da Amazônia é viável economicamente, tem a vantagem de usar até 10 vezes menos espaço para produzir a mesma quantidade de carne que a pecuária extensiva e pode gerar uma renda significativa – especialmente para os pequenos produtores, que respondem por 95,8% das propriedades mapeadas. Para isso, no entanto, a atividade precisa alcançar novos mercados para se manter relevante regionalmente e ganhar competitividade no cenário nacional.

“Um avanço consistente no mercado nacional depende da resolução de dois gargalos: solucionar os problemas responsáveis pela baixa produtividade, como a falta de acesso à assistência técnica adequada, e aumentar a produção, que oscila entre 160 mil e 175 mil toneladas anuais desde 2015. Para efeito de comparação, somente o estado do Paraná, maior produtor de peixes do país, produziu 150 mil toneladas em 2022”, afirma Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas. O estado de Rondônia detém a liderança da produção regional, tendo produzido 57,2 mil toneladas, também em 2022.

De acordo com a pesquisa, os empreendimentos de piscicultura na Amazônia têm, em média, 19% de área inativa. Esse percentual chega a 20% nas pequenas propriedades. Isso acontece porque, no atual contexto de pequena produção e baixa produtividade, o investimento necessário para manter os tanques ativos não compensa. 

O acesso ao crédito, que poderia mudar essa realidade, emerge como mais um gargalo, principalmente devido à necessidade de regularizar o empreendimento para acessar o recurso. Em 2022, pouco mais de R$ 189 milhões (ou 28,4% do total nacional) foram efetuados em operações de crédito para custeio de piscicultura na Amazônia Legal. Em termos de investimento, os estados da Amazônia Legal participaram apenas com R$ 5,3 milhões ou 10,5% em relação ao total nacional.

Além da falta de dados, da saturação do mercado regional e da baixa produtividade decorrente da ausência de assistência técnica e infraestrutura, outros dois fatores ajudam a explicar a situação atual da piscicultura amazônica: o desinteresse dos governos estaduais e federal em reconhecer o potencial da piscicultura e investir no setor e o marco regulatório defasado de alguns estados.

Combinando as tendências atuais verificadas em cada estado, o estudo prevê um crescimento de 175 mil toneladas para 183 mil toneladas nos próximos dez anos, ao fim dos quais, o setor terá crescido apenas 4,6%.

Leia a íntegra do estudo aqui. 

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