“A Amazônia tem uma importância ambiental não só para o Brasil, mas para o mundo”, é isso que afirma Régis Rathmann, Coordenador Técnico do Projeto Opções de Mitigação (CGC/MCTI). Ele e sua equipe participaram de um workshop no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) com o objetivo de abordar as opções de redução de emissões disponíveis, em especial na Amazônia.
O Projeto Opções de Mitigação de Emissões de Gases do Efeito Estufa é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que conta com recursos do Global Environment Facility (GEF) e parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ele tem como objetivo auxiliar na construção de políticas públicas para a redução de Gases do Efeito Estufa (GEE) nos setores-chaves da economia brasileira: indústria, energia, transportes, domicílios e serviços, agricultura, florestas e gestão de resíduos.
A principal atividade do projeto é fazer uma estimativa de quais tecnologias podem ser utilizadas no futuro, e que possam ser decisivos na diminuição das emissões de GEE, para o período entre 2012 e 2050 nos diferentes setores-chaves citados.
A pesquisadora Juliana Leroy Davis, da Universidade Federal de Minas Gerais, trabalha especificamente com os setores de Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo. Ela apresentou o estudo realizado em conjunto com outros 11 pesquisadores revelando dois cenários para a Amazônia nos próximos anos: um baseado nas atuais metas propostas pelo governo federal e outro utilizando novas práticas que os pesquisadores consideram importantes para diminuição de emissões de gases do efeito estufa.
De acordo com as análises feitas, o desmatamento na Amazônia hoje é superior a 17 mil quilômetros quadrados por ano. Dentro de trabalhos de modelagem, com a manutenção parcial das metas de diminuição das emissões de carbono, a Amazônia alcançaria em 2050 uma área média de desmatamento de 3,5 mil quilômetros por ano. Com práticas eficientes é possível que o desmatamento bata a marca de 3,2 mil quilômetros quadrados.
“Existem modelos mais eficientes que outros para diminuir a produção de gases do efeito estufa em cada região do país. Por exemplo, evitar o desmatamento é uma das formas mais eficientes de diminuição de gases GEE. Entretanto em áreas altamente rurais e já bastante desmatadas, como na região Sul, outros modelos, como o confinamento do gado se torna uma medida muito mais eficaz. Em contrapartida, na Amazônia,a o reflorestamento e a diminuição do desmatamento são medidas fundamentais”, afirma Juliana.
De acordo com a pesquisa na Região Norte a redução do desmatamento tem o potencial de reduzir mais de um bilhão de toneladas de carbono com um custo aproximado de 1,24 dólares por tonelada mitigada. A restauração de florestas, por exemplo, pode diminuir em 414 milhões de toneladas de GEE, e custa 9,2 dólares por tonelada.
A pesquisadora do Inpa, Rita Mesquita, acredita que esses dados estão levando em conta um cenário extremamente positivo. “A realidade é muito diferente do que os modelos da pesquisa se propõe. Principalmente os grandes players do mercado lucram muito mais com o desmatamento do que com recuperação de floresta. E lembrar que o governo propôs no acordo de Paris diminuir o desmatamento para 4 mil quilômetros quadrados por ano. Uma meta bem ousada. Para isso é preciso um governo que tem força para cobrar dos agentes do desmatamento quando há irregularidades”, afirma.
Juliana concorda, o governo precisa trabalhar muito ainda para bater a meta. “É verdade. Ela [a meta] está ainda longe de ser alcançada e é necessário consolidar as práticas já existentes, ainda mais levando em conta os últimos dados de aumento do desmatamento na região em 2015. Agora é importante lembrar que várias políticas têm realmente diminuído os impactos nos últimos anos. Uma pesquisa recente mostrou que o aumento de áreas reflorestadas cresceu cinco vezes em relação ao ano de 2012”, afirmou a pesquisadora.
Para o coordenador, Régis, o objetivo do estudo é divulgar essas informações e fazer com que essas discussões aconteçam em diferentes níveis da sociedade. “A sociedade precisa saber disso porque ela é parte importante do problema de diminuição dos gases do efeito estufa. Sem ela será impossível não só atuar em áreas de enorme pressão ambiental, como também nas pequenas atitudes do dia-a-dia como consumidor de todos esses recursos”, finaliza.