Escorpião é um sucesso evolutivo e a ciência pode provar

Esses aracnídeos são capazes de passar centenas de dias sem se alimentar, vários dias sem água, e conseguem se reproduzir sem machos, entre outras ‘mágicas’.

Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan

O clima quente e úmido é o mais propício para a reprodução do escorpião. Mas ao longo da evolução milenar da espécie, esses aracnídeos conseguiram sobreviver a toda sorte de intempéries: se adaptaram a diferentes temperaturas e biomas, aprenderam a passar dias sem água e comida e até a se reproduzir sozinhos.

Há evidências do surgimento dos escorpiões há mais de 450 milhões de anos em habitat aquático, quando eles mediam em torno de 1,30 metro de comprimento. Esses primeiros escorpiões aquáticos tinham uma estrutura física semelhante à que os aracnídeos possuem hoje, com adição de brânquias.

Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan

Quem quer viver para sempre?

Denise, que é bióloga e especialista em escorpiões, aponta uma série de fatores que explicam a adaptabilidade extrema do aracnídeo. 

Esses animais possuem quatro pares de pernas, um par de pedipalpo (estruturas que lembram pinças) e um par de quelíceras. A cauda ou metassoma tem uma extremidade chamada Telson onde há duas glândulas de veneno e um ferrão. O veneno é inoculado em predadores ou em humanos quando o escorpião se sente ameaçado.

Os escorpiões não são insetos, mas aracnídeos da ordem Scorpiones. Há 2.800 espécies espalhadas pelo mundo, 180 delas no Brasil. De todas as espécies brasileiras, apenas quatro são consideradas de interesse médico (ou seja podem causar envenenamento grave em humanos):

  • o escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), mais comum na região Norte e no Mato Grosso;
  • o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que ocorre também no Sudeste, Sul e, recentemente no Norte;
  • o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), comum no Centro-Oeste, Sudeste e Sul;
  • e o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), encontrado em todas as regiões do país.
Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan

É um tipo de mágica

Ao longo destes milhões de anos, os escorpiões viveram verdadeiras batalhas épicas de adaptação a diferentes climas e biomas – o que lhes confere um status de “quase invencíveis” em relação à natureza.

De fato, escorpiões já foram encontrados em quase todos os ecossistemas terrestres, até mesmo em cavernas, regiões desérticas dos mais variados tipos, sob pedras cobertas de neve e em altitudes de 5.560 metros nos Andes, afirma o Ministério da Saúde.

A alimentação super variada permite aos escorpiões ter mais opções para sobreviver. Eles comem insetos, aranhas, grilos e pequenos vertebrados. Nos ambientes urbanos, se alimentam basicamente de baratas, ajudando no controle destes animais nas cidades.

Por outro lado, são presas fáceis de galinhas, corujas, micos, sapos, morcegos e aranhas. Quando não há comida por perto, conseguem ficar centenas de dias sem se alimentar.

Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan

Tal como o guerreiro escocês imortal, eles também aprenderam a viver na vida mundana e a escalar “montanhas”, migrando facilmente para regiões onde não ocorrem naturalmente. 

Essa facilidade do acesso dos escorpiões às cidades e o crescimento urbano desordenado são as principais causas é a principal causa do número crescente de acidentes com o aracnídeo no Brasil e no mundo.

Os escorpiões foram responsáveis por 134 óbitos e por 202.324 acidentes no país em 2023, segundo o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. O estado de São Paulo continua sendo o maior notificador de acidentes escorpiônicos no Sinan, com 48.651 em 2023.

Só pode haver um (a)

A alta reprodutividade é outro fator que implica na onipresença de escorpiões. Em pelo menos 5% das espécies, as fêmeas são capazes de ter filhotes sem a participação de um macho. Esse processo, nomeado partenogênese, ocorre quando os ovos se desenvolvem sem serem fecundados por um espermatozoide.

Detalhe: as fêmeas conseguem manter esse potencial reprodutivo mesmo durante períodos de privação de alimento e água. Algumas conseguem gerar filhotes com mais de 200 dias sem comida. 

Foto: José Felipe Batista/Instituto Butantan

Não perca a cabeça

Para além da alta capacidade de sobrevivência dos escorpiões, é importante entender que, assim como outros animais, eles têm uma função de controle biológico importante na natureza e seu veneno é matéria-prima do soro antiescorpiônico, produzido pelo Instituto Butantan.

O imunobiológico é administrado para neutralizar o veneno em casos de picada de escorpiões do gênero Tityus (escorpião amarelo, escorpião amarelo do Nordeste, escorpião marrom e escorpião preto).

Esta matéria foi validada pela bióloga e assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan Denise Maria Candido.

Fontes: 

Acidentes por escorpiões – Ministério da Saúde
A Kind of Magic – Queen
Boletim Epidemiológico Acidentes Escorpiônicos no Brasil em 2022
Don’t Lose Your Head – Queen
Escorpião – Controle de Escorpiões de importância em saúde
Gimme The Prize (Kurgan’s Theme)
Highlander: 35 years since Scotland stole the show in cult film starring Queen, Sean Connery and Christopher Lambert – Press and Journal UK
Highlander | Remake com Henry Cavill começa filmagens em janeiro – Omelete
Princes Of The Universe – Queen
Queen e a trilha sonora de HIGHLANDER. EP 012
Selected to survive and kill: Tityus serrulatus, the Brazilian yellow scorpion
Who Wants To Live Forever – Queen

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Butantan, escrito por Camila Neumam

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Doenças da Manaus antiga: livro reúne experiências e fatos inusitados do século XIX e XX

A obra 'Reclames médicos na Manaus antiga' é do médico e escritor Aristóteles Alencar, também presidente da Academia Amazonense de Letras.

Leia também

Publicidade