Foto: Reprodução/Leonardo Kerber
A pacarana (Dinomys branickii) é um verdadeiro “fóssil vivo” da megafauna pré-histórica e é o último sobrevivente de uma linhagem de roedores gigantes sul-americanos, da família Dinomyidae. A espécie é considerada o terceiro maior roedor do mundo.
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Com um corpo robusto, a espécie mede até 80 centímetros e pode pesar até 15 kg. A pacarana tem uma cauda curta e pés com cinco dedos adaptados para caminhar em terrenos montanhosos.
A espécie apresenta pelagem marrom-escura com manchas e listras brancas, hábitos terrestres e uma alimentação herbívora (frutos, sementes, folhas e caules).
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A pacarana habita a região amazônica e os Andes, principalmente regiões com baixo teor populacional. Ela tende a ocupar áreas de floresta densa, preferencialmente próximas a encostas e cursos d’água.
A equipe do Portal Amazônia conversou com a bióloga e gerente do Parque Ambiental Chico Mendes em Rio Branco (AC), Joseline Guimarães, para conhecer mais sobre a espécie:
1. Comunicação sutil, mas variada
Segundo Joseline, a pacarana emite sons suaves, como ronronados, e pequenas batidas com os dentes, que servem para interação social entre elas. Mesmo com aparência discreta, ela demonstra comportamentos complexos e emocionais, algo que só se percebe com observação paciente, o que inclui os sons.
2. É uma espécie observadora e inteligente
Em cativeiro e nas raras observações noturnas em campo, segundo a pesquisadora, a pacarana costuma se aproximar lentamente de objetos ou pessoas, farejando e avaliando o ambiente com atenção. Esse comportamento mostra inteligência espacial e memória, pois ela segue trilhas fixas, lembrando o caminho exato até sua toca, um padrão de inteligência bem desenvolvido para um roedor.
3. Manipula sua alimentação
De acordo com a bióloga, diferente de outros roedores grandes, ela se senta sobre as patas traseiras e segura o alimento com as dianteiras, muitas vezes usando apenas uma delas. Esse comportamento refinado é extremamente raro e revela uma coordenação motora delicada, quase ‘manual’, “que surpreende pela elegância e precisão”.
4. Possui sua taxa de reprodução reduzida
Diferente de outros roedores, a pacarana apresenta taxa reprodutiva reduzida, com ninhadas pequenas (geralmente dois filhotes) e longos intervalos entre as gestações. Isso contribui para populações naturalmente pequenas, dificultando ainda mais encontros com indivíduos na natureza.
5. É um animal noturno
Esta espécie é essencialmente noturna, permanecendo ativa principalmente ao anoitecer e durante a madrugada. Durante o dia, costuma abrigar-se em tocas, fendas rochosas ou troncos ocos, o que limita sua visibilidade para observadores e pesquisadores.

A sobrevivência da pacarana
A pacarana, conforme a lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) – que mede o grau de risco de extinção de vários animais – é classificada como “vulnerável”.
Esse fato é consequência do desmatamento e da presença humana no ambiente onde habita a espécie. A pacarana depende de florestas densas, úmidas e bem conservadas, com abundância de vegetação rasteira, frutos e abrigos naturais (troncos ou fendas rochosas).
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O avanço do desmatamento na Amazônia (causado por expansão agropecuária, abertura de estradas e ocupações humanas) tem levado à redução e fragmentação desses habitats, isolando as populações remanescentes.
Além disso, a pacarana é sensível a ruídos, luzes artificiais e movimentação humana, o que faz ela evitar áreas perto de estradas. Em regiões rurais, pode ser caçada por subsistência ou por curiosidade. A alteração de cursos d’água, queimadas e o uso de pesticidas também degradam seu ambiente e reduzem a disponibilidade de recursos alimentares.
Joseline Guimarães afirma que a pacarana é uma espécie cheia de mistérios e precisa de muita atenção para observá-la.
“A pacarana é um mistério vivo da floresta amazônica: tímida, graciosa e cheia de nuances. Cada novo registro nos mostra que ainda conhecemos muito pouco sobre sua ecologia e comportamento, e reforça a importância de preservar seu habitat e os fragmentos florestais onde ela resiste”, conclui a bióloga.
*Por Karla Ximenes, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
