Mudanças no clima da floresta tropical: qual o impacto na Amazônia Legal?

A Amazônia, em sua configuração atual, está no centro das discussões sobre mudanças climáticas. O desmatamento, a alteração do uso do solo e as queimadas têm um impacto direto no clima local e global.

Mudanças no clima afetam diretamente a floresta tropical. Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

A Amazônia Legal, um vasto território que abrange nove estados brasileiros, é mais do que uma floresta tropical, é um complexo sistema climático que influencia o tempo e o clima de todo o planeta. Sua imensidão e biodiversidade, no entanto, estão em constante transformação, moldadas por fenômenos naturais e, cada vez mais, pela ação humana. Compreender o clima dessa região exige uma análise de suas características únicas e das dinâmicas que a regem.

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A principal característica do clima amazônico é sua natureza equatorial e úmida, com temperaturas elevadas e precipitações abundantes durante todo o ano. A umidade é um fator crucial, alimentada pela transpiração da vegetação – um processo conhecido como evapotranspiração – e pela evaporação dos rios e lagos.

Essa umidade se condensa, formando nuvens que precipitam, realimentando o ciclo da água e mantendo a floresta ativa e viva. Essa dinâmica é um dos principais motores do que os cientistas chamam de “rios voadores”, massas de vapor d’água que se deslocam sobre o continente, levando chuva para outras regiões do Brasil, como o Sudeste e o Centro-Oeste.

Leia também: Portal Amazônia responde: O que são os rios voadores?

No entanto, o clima não é homogêneo em toda a Amazônia Legal. Devido sua extensão e conexão com outros biomas, as variações regionais são notáveis. Na porção leste, por exemplo, a estação seca é mais pronunciada, enquanto na porção oeste a precipitação é mais constante.

Essas diferenças estão relacionadas a fatores como a topografia, a proximidade com o Oceano Atlântico e a circulação atmosférica. O gradiente de chuvas é evidente: o leste da Amazônia, próximo ao “arco do desmatamento“, sofre com períodos mais longos de seca, que podem se intensificar com o tempo.

E a vegetação desempenha um papel central nessa regulação do clima. A densidade da floresta tropical atua como uma barreira física que impede que o sol atinja o solo diretamente, mantendo a temperatura mais amena e a umidade do ar elevada.

A complexa rede de raízes das árvores também contribui para a estabilidade do solo e evita a erosão, regulando o escoamento da água. A floresta, em sua essência, é um gigantesco sistema de “ar-condicionado e bomba de água”, fundamental para a manutenção de um clima estável.

Impactos das mudanças no clima e cenários futuros

A Amazônia, em sua configuração atual, está no centro das discussões sobre mudanças climáticas. O desmatamento, a alteração do uso do solo e as queimadas têm um impacto direto no clima local e global. A remoção da cobertura florestal leva ao aumento da temperatura do ar e à redução da umidade, diminuindo a formação de nuvens e, consequentemente, a precipitação.

Esse processo, conhecido como “savanização“, levanta a preocupação de que a floresta possa, em algumas áreas, se transformar em um ecossistema semelhante ao Cerrado.

O aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas podem desencadear um ciclo vicioso: a seca prolongada torna a floresta mais vulnerável a incêndios, que por sua vez liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, intensificando o efeito estufa. Esses incêndios, muitas vezes de origem humana, podem se alastrar rapidamente, afetando áreas cada vez maiores e diminuindo a capacidade de regeneração da floresta.

Mudanças no clima da floresta tropical: qual o impacto na Amazônia Legal?
Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

O Portal Amazônia conversou com o pesquisador e biólogo Philip Fearnside, que destacou que a Amazônia pode entrar em colapso, no que que ele chama de ‘Ponto de Não Retorno’.

“Se escapar de controle, não vai ter mais floresta amazônica. Isso está muito perto de acontecer e a própria destruição da floresta está contribuindo para a mudança climática. Porque ela abriga uma quantidade de carbono tão grande que, se for liberada, em poucos anos irá empurrar o clima global para além do ponto de não retorno”, destacou.

Outro fator relevante são os eventos climáticos extremos. A Amazônia tem testemunhado tanto secas severas quanto inundações históricas nas últimas décadas. A seca de 2005 e a de 2010, por exemplo, foram amplamente estudadas e mostraram como a falta de chuvas pode afetar a saúde da floresta e o fluxo dos rios. Da mesma forma, as cheias recentes em diferentes bacias hidrográficas também revelam a instabilidade crescente do regime de chuvas.

“O aquecimento global, que causa aumento de grandes secas e de grandes inundações, tem claros impactos sobre a biodiversidade e ameaça o ecossistema da floresta tropical como um todo na Amazônia. Se passar de algum dos vários pontos de não retorno, a perda da floresta não só elimina a sua biodiversidade, como também emite uma enorme quantidade de carbono, o que pode ser um fator crítico em aumentar o aquecimento de uma forma que empurrará o sistema climático global para além do ponto de inflexão”, alertou ainda Fearnside.

Assim, para o futuro, os modelos climáticos apontam para a necessidade urgente de atenção. Embora as projeções variem, a maioria indica uma tendência de aumento das temperaturas na região, com possíveis alterações no regime de chuvas.

O risco de eventos extremos, como secas e inundações, pode se tornar mais frequente e intenso. A dinâmica do clima amazônico, com seus rios e sua vegetação, é um complexo sistema de feedback que está sendo testado. A interconexão entre o clima regional e global torna a saúde da Amazônia uma questão de interesse para o mundo todo. O futuro do clima na região depende de como esses processos complexos irão interagir nas próximas décadas.

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