Foto: Riuler Corrêa Acosta/Cedida
Quando chega a época das chuvas e o calor aperta, um som inconfundível invade as florestas, quintais e cidades: o canto das cigarras. Forte, constante e quase ensurdecedor, ele levanta uma curiosidade antiga: é verdade que as cigarras podem cantar até morrer ou até explodir?
Para responder essa pergunta, a equipe do Portal Amazônia conversou com um biólogo Riuler Corrêa Acosta, que esclareceu de vez esse mito.
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Segundo o especialista, essa ideia faz parte do imaginário popular, mas não é verdadeira. Na verdade, ela surge pela forma como as pessoas costumam encontrar as cigarras: geralmente apenas a casquinha seca, grudada em troncos, postes e paredes.
Essa estrutura, que parece um corpo abandonado, na verdade é chamada de exúvia, e corresponde à ‘pele’ que o inseto deixou para trás na mudança para sua última fase de desenvolvimento, da fase de juvenil para adulto.
“As cigarras são muito mais ouvidas do que vistas. Por isso, quando as pessoas encontram aquela casquinha, surge a ideia de que elas cantaram até morrer. Mas aquilo é só a pele que ficou para trás quando a cigarra virou adulta”, explicou o biólogo.
As cigarras passam a maior parte da vida debaixo da terra, na forma de ninfas ou juvenis, onde se alimentam de raízes. Esse período subterrâneo pode durar aproximadamente um ano nas cigarras Neotropicais.
Durante essa fase, elas passam por várias mudas, que são processos de crescimento em que trocam de pele. Esse é um fenômeno controlado por hormônios, comum em muitos insetos.
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Na última muda, a ninfa sai do solo, sobe em um tronco, muro ou outro suporte, e se fixa com as pernas dianteiras, que funcionam como pequenas garras. Então, seu exoesqueleto se rompe e dele emerge o inseto adulto, com asas e aparelho reprodutor totalmente desenvolvidos, explica o biólogo.
“O que sobra é aquela casquinha seca, que fica grudada no tronco. Ela não representa morte, mas sim transformação”, completou o especialista.

E por que o canto é tão alto?
O canto das cigarras é produzido exclusivamente pelos machos, que possuem um órgão especial chamado timbal. Eles vibram essa membrana, associada a inúmeros músculos, para gerar o som, com o objetivo principal de atrair as fêmeas para acasalamento.
Segundo o especialista, o som pode ultrapassar 100 decibéis, equivalente ao barulho de uma britadeira. O que impressiona é que algumas espécies podem cantar durante horas, especialmente nos horários mais quentes do dia, porque o calor favorece a vibração dos músculos responsáveis pelo som.
Apesar de ser um esforço grande e, de fato, desgastante, o canto não leva o inseto à morte ou a “explodir”. Após o acasalamento, o ciclo de vida se encerra naturalmente em algumas semanas, como ocorre com muitos outros insetos.
As cigarras cumprem um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas, afirma Acosta. Durante sua fase subterrânea, ajudam na aeração do solo. Já na fase adulta, servem de alimento para diversos animais, como aves, répteis e pequenos mamíferos.
Além disso, seu canto, que para muitos é sinônimo de verão e de florestas vivas, é um lembrete do ciclo natural da vida.
“Não, as cigarras não cantam até morrer ou explodir. O que muitos confundem com o ‘cadáver’ do inseto é, na verdade, a exúvia, resultado do processo de metamorfose que esses animais passam ao atingir a fase adulta”, explica o biólogo.
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