Cientistas buscam as origens da domesticação de plantas na bacia do alto rio Madeira

A pesquisa compreende que a domesticação de plantas começou na paisagem florestal, como um pequeno conjunto de práticas simples: proteção, cuidado, liberação de concorrência, dispersão de propágulos e seleção humana.

Foto: Charles Roland Clement/Acervo pessoal

Pesquisadores do Reino Unido e do Brasil investigaram a domesticação de cultivos amazônicos, incluindo mandioca, pupunha, pimenta, urucum, biribá e piquiá, além de documentar a domesticação da paisagem florestal na bacia do rio Madeira, no Amazonas e em Rondônia. O estudo, apoiado pelo Programa Fundo Newton – RCUK, via Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), é fruto da parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e o Conselho de Pesquisa do Reino Unido (RCUK).

A pesquisa intitulada ‘As origens da domesticação de plantas na bacia do alto rio Madeira’, coordenada pelo doutor em Horticultura e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Charles Roland Clement, compreende que a domesticação de plantas começou na paisagem florestal, como um pequeno conjunto de práticas simples: proteção, cuidado, liberação de concorrência, dispersão de propágulos (sementes de plantas ou plântulas) e seleção humana.

Anteriormente ao estudo, era de conhecimento geral que a mandioca e a pupunha começaram a ser domesticadas no alto rio Madeira e também era provável que outros cultivos foram domesticados, uma vez que as terras pretas mais antigas da Amazônia são da mesma região, o que demonstra a presença de assentamentos humanos de longa duração. As espécies arbóreas, como pupunha, urucum, biribá e piquiá, poderiam ter sido selecionadas inicialmente nas paisagens florestais, enquanto a mandioca provavelmente nos assentamentos.

Segundo o pesquisador Charles Roland Clement, estes estudos em ecologia histórica têm importância também na atualidade. Com a expansão das mudanças climáticas, faz-se necessária a adaptação das plantas cultivadas e dos sistemas de cultivo.

Foto: Charles Roland Clement/Acervo pessoal

Análises

As análises genéticas foram realizadas por diversos doutorandos do Brasil e geraram dissertações e publicações. O biribá foi estudada por Ariel Kuma, no PPG Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, e o piquiá foi estudado por Rubana Palhares Alves, bióloga no PPG Ecologia, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e o urucum foi estudado por Gabriel Dequigiovanni, no PPG Genética e Melhoramento, da Universidade de São Paulo (USP).

E ainda, na região de Humaitá, houve uma análise da composição florística de florestas localizadas perto de sítios arqueológicos e comunidades indígenas e tradicionais atuais, demonstrando que as florestas mais próximas a esses locais eram as mais ricas em espécies úteis, especialmente as fruteiras, em comparação com florestas mais longe dos sítios e comunidades. Este estudo foi feito por Maria Julia Ferreira, no PPG Botânica do Inpa, e contou com a colaboração de comunitários, que aprenderam a fazer inventários para conhecer melhor suas próprias florestas.

O biólogo explicou ainda que, caso ofereçam vantagens, existem duas opções. A primeira consiste na introdução dos benefícios das silvestres diretamente em populações cultivadas, uma prática muito comum atualmente entre as melhoristas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por exemplo. A segunda diz respeito a uma nova domesticação, em que se utilizariam critérios diferentes dos usados pelos povos indígenas há milhares de anos.

*Com informações da Fapeam

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