Botos curiosos são flagrados seguindo e brincando com jacaré-açu em rio de Roraima; veja o vídeo

Flagrante de turista mostra interação inusitada entre botos-cor-de-rosa e jacaré-açu. Vídeo já soma mais de 700 mil visualizações.

Foto: Jhonatha Barros/Arquivo Pessoal

Dois botos-cor-de-rosa foram flagrados em um momento de lazer inesperado e um pouco arriscado: eles estavam se divertindo seguindo e brincando com a cauda de um jacaré-açu de cerca de 5 metros no rio Itapará, em Rorainópolis, Sul de Roraima. O momento foi flagrado pelo drone de um turista que visitava a região e a cena viralizou nas redes sociais.

No vídeo, é possível ver os dois botos da espécie Inia geoffroensis se aproximando de um jacaré-açu, sem demonstrar qualquer sinal de intimidação diante da presença desse imponente predador das águas amazônicas. Um dos botos parece se divertir com o movimento da cauda do jacaré enquanto ele nada, o outro acompanha o amigo “corajoso” de perto — que chega a “beliscar” o rabo do réptil.

O registro foi feito no dia 1º de novembro pelo biomédico Jhonatha Barros, de 40 anos, mas só foi divulgado na última sexta-feira (22). O vídeo então foi publicado em diversas paginas e sites que, somando, já ultrapassou 700 mil visualizações.

Toda a brincadeira dos botos foi filmada por Jhonatha. Ele é de Tocantins e foi até o rio roraimense para passar uma semana pescando — ele só não esperava que iria se deparar com a cena.

De acordo com ele, havia cerca de seis botos no grupo — mas, pelo visto, só dois tiveram coragem de se aproximar da maior espécie de jacaré do Brasil.

“No último dia, fizemos uma pescaria diferente, focada em peixes de couro. Paramos para pegar iscas vivas e aproveitei para usar o drone. Foi então que eu flagrei essa cena”, contou o biomédico.

A equipe de reportagem enviou o vídeo para dois biólogos pesquisadores: Eduardo Bessa, especialista em comportamento animal e professor da Faculdade de Planaltina da UnB, e Reuber Brandão, também biólogo e professor da mesma instituição. Ambos confirmaram que, de fato, trata-se de uma brincadeira dos mamíferos aquáticos, mas destacaram que o comportamento se assemelha mais a uma espécie de “bullying”.

Jhonatha conta que já tinha a intenção de filmar botos nadando, pois foi o pedido que a filha fez quando soube que ele iria viajar para um rio amazônico. Quando viu a presença dos mamíferos nas redondezas, resolveu levantar o drone.

“Estava gravando essas imagens porque minha filha pediu que eu registrasse os botos durante a pescaria. Durante as gravações, observei os botos e presenciei um comportamento curioso: um deles começou a interagir com um jacaré, cercando-o até a margem do rio e beliscando o rabo. Eu nunca tinha visto”.

“Pelo que observei, o boto parecia tranquilo e brincalhão, enquanto o jacaré não demonstrava preocupação”, contou o biomédico.

Foto: Jhonatha Barros/Arquivo Pessoal

Jhonatha relatou que esta foi sua primeira viagem com o drone, comprado justamente para registrar paisagens e momentos únicos. O vídeo viralizou rapidamente após ser publicado no Instagram de uma pousada local.

“Acredito que [o vídeo] se destaca por mostrar uma interação inusitada. Normalmente, vemos vídeos de vida selvagem com relações entre animais da mesma espécie ou, quando são de espécies diferentes, com uma dinâmica de predador e presa. Neste caso, o vídeo é diferente porque mostra uma interação lúdica entre espécies distintas”.

“Sempre gostei de fotografar e gravar, mas esse vídeo foi especial. Foi um presente para minha filha e acabou se tornando um presente para tantas outras pessoas”, contou Jhonatha.

Para o pesquisador Reuber Brandão, comportamentos “brincalhões” são comuns entre botos, especialmente durante o desenvolvimento.

“Botos são mamíferos extremamente inteligentes e brincam bastante, sobretudo enquanto juvenis. Essa brincadeira, como a de perseguir ou atacar, ajuda a desenvolver habilidades que tornam a caça mais eficiente na vida adulta”, afirmou o professor Reuber Brandão.

Para Bessa, as imagens captadas são raras e valiosas. Ele destacou a relevância do registro.

No vídeo, tanto o jacaré quanto os botos parecem tranquilos, sem demonstrar intimidação diante da presença de outra espécie, mesmo sendo ambos predadores. Mas será que um pode fazer parte do cardápio do outro? Segundo o professor Reuber Brandão, um jacaré pode predar um boto. No entanto, ele ressalta que esse tipo de comportamento é raro.

“Tanto o boto quanto o jacaré-açu têm dietas diversificadas, baseadas principalmente em peixes. Embora o jacaré-açu adulto possa ocasionalmente predar botos, o inverso é muito improvável”, explicou o professor.

Eduardo Bessa explica que em situações normais, a agilidade do boto dificulta sua captura por jacarés, que só costumam atacar indivíduos da espécie se estiverem doentes ou encalhados.

“É bem mais provável um jacaré-açu adulto comer um boto do que o contrário, mesmo considerando que [os botos são] predadores que agem em bando podem abater presas muito maiores do que eles próprios”, explicou Bessa.

Jacaré-açu é uma espécie considerada pacifica, mas pode atacar quando ameaçada. Apesar de não ser atualmente considerado preocupante seu estado atual de conservação, já foi uma espécie perseguida por sua pele e por isso ameaçada.

Em novembro de 2023, o boto-cor-de-rosa entrou na lista de ‘perigo de extinção’ em quase todos os estados da região Norte, de acordo com a plataforma SALVE, desenvolvida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio).

Acontece que os botos cor-de rosa, também conhecidos como ‘golfinhos dos rios’, são predadores de topo de cadeia e indicadores da saúde dos ecossistemas e a presença do boto-cor-de-rosa é influenciada pela abundância de peixes e habitats saudáveis.

*Por Caíque Rodrigues, da Rede Amazônica RR

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