Biólogo diz que atraso na desova das tartarugas no rio Guaporé causou morte de mais da metade dos filhotes

Estimativa é que aproximadamente 700 mil filhotes sejam colocados no rio. As tartarugas pertencem à espécie Podocnemis expansa, a maior espécie de quelônio de água doce da América do Sul.

Foto: Divulgação/Ecovale

Ao longo do mês de dezembro aconteceu um dos mais belos eventos do rio Guaporé, em Costa Marques (RO): a soltura dos filhotes de tartarugas. No entanto, a mortalidade superior a 60% dos filhotes, foi causada pelo atraso na desova, segundo especialistas.

Normalmente a desova das tartarugas-da-amazônia ocorre entre agosto e setembro. Neste ano, elas encontraram o cenário ideal apenas em meados de outubro: um atraso de 53 dias. O motivo foi a densa camada de fumaça causada pelas queimadas florestais.

No final da desova, cerca de 700 mil filhotes chegaram até o rio. Em comparação com os outros anos, essa é uma quantidade muito inferior, assim como aponta José Soares Neto, mais conhecido como “Zeca Lula”, fundador da Ecovale. Em 2024, 1,4 milhão de filhotes sobreviveram.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o tabuleiro de desova do rio Guaporé é o maior do país. As tartarugas se espalham por quatro praias: Ilha, Alta, Suja e Tartaruguinha.

As queimadas em Rondônia causaram o atraso na formação dos ninhos de tartarugas, que tiveram pouco tempo para reproduzir. Com a chegada das chuvas, o rio subiu rapidamente e alguns animais não resistiram aos efeitos climáticos.

O cenário de aumento na mortalidade já era temido pelos especialistas do projeto, assim como explica o biólogo Deyvid Muller:

  • primeiro as tartarugas cavam buracos na areia da praia e colocam os ovos;
  • depois disso os ovos são enterrados e chocados;
  • meses depois, os filhotes eclodem, saem dos ninhos e são “resgatados” pelos voluntários.

No entanto, neste ano, a desova atrasou quase dois meses e o rio subiu muito rápido para “buscar” os filhotes, quando grande parte deles ainda não estavam prontos.

Segundo o Ibama, a mortalidade está atrelada à mudanças climáticas, como o atraso no início do período de desova e um fenômeno conhecido como repiquete: variações bruscas no nível dos rios.

Deyvid explica que a fumaça alterou a temperatura e a luminosidade do ambiente, impossibilitando a criação do “cenário ideal” para a desova das tartarugas no período regular.

Soltura dos filhotes de tartarugas no Rio Guaporé em RO — Foto: Ecovale/Divulgação
Foto: Divulgação/Ecovale

As tartarugas monitoradas pelo projeto pertencem à espécie Podocnemis expansa, a maior de água doce da América do Sul, que pode atingir um metro de comprimento e pesar até 75 quilos.

Segundo a Ecovale, durante o período de monitoramento, os filhotes são mantidos em tanques por até 30 dias para perderem o odor que atrai predadores, aumentando suas chances de sobrevivência após a soltura.

Além dos voluntários dos projetos ambientais, a ação é feita em conjunto com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e o Programa Áreas Protegida da Amazônia (ARPA). A ação tem como objetivo garantir a sobrevivência das tartarugas, além de fortalecer a relação da população com o meio ambiente.

*Por Jaíne Quele Cruz, da Rede Amazônica RO

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